Banco de Portugal prevê crescimento da economia de 3,9% este ano

‘As medidas de política têm sido cruciais para mitigar a crise pandémica e promover a recuperação económica’, garante banco central.

A economia portuguesa vai crescer este ano 3,9%, no próximo ano 5,2% e 2,4% em 2023. As contas são do Banco de Portugal (BdP) divulgadas no Boletim Económico, apresentado esta sexta-feira, e admite que «as perspetivas continuam a ser influenciadas pela evolução da pandemia», lembrando que «a recuperação iniciada no segundo semestre de 2020 foi temporariamente interrompida, ainda que o impacto do atual confinamento seja inferior ao observado no segundo trimestre de 2020».

E, face a esse cenário, a economia portuguesa deverá crescer acima da área do euro, após uma queda mais pronunciada em 2020 e no início de 2021. No final do horizonte, o crescimento acumulado desde o final de 2019 é idêntico em Portugal e na área do euro.

A entidade liderada por Mário Centeno lembra que a inflação «permanece contida», aumentando de 0,7% em 2021 para 1% em 2023. «As projeções assumem que as restrições serão gradualmente levantadas a partir do segundo trimestre de 2021», admitindo ainda que «a implementação de uma solução médica eficaz estará concluída até ao início de 2022, em paralelo em Portugal e na área do euro».

O banco central disse ainda que «o início do processo de vacinação veio reforçar a confiança na recuperação económica, que está também ancorada na manutenção de uma orientação favorável das políticas monetária e orçamental».

As exportações e o consumo privado serão os principais responsáveis pelo crescimento económico. O consumo privado deverá crescer 2%, 4,8% e 2,3% entre 2021-23, sendo a recuperação mais lenta nos segmentos de serviços que exigem interação social. «Com o levantamento gradual das restrições e a redução da incerteza, o crescimento do consumo privado reflete a evolução favorável do rendimento disponível real das famílias e a manutenção de condições benignas de financiamento», acrescentando que «tal como observado no terceiro trimestre de 2020, espera-se que a concretização de compras adiadas, em particular no início do horizonte de projeção, seja mais forte no caso dos bens. A capacidade de recuperar oportunidades de consumo adiadas é mais limitada no caso dos serviços».

Já o consumo público crescerá 3,7% em 2021, após o aumento de 0,5% em 2020. Esta aceleração decorre do efeito de base nas despesas com pessoal associado à redução das horas trabalhadas nas administrações públicas em 2020, cuja magnitude é superior à esperada em 2021. «Este impacto é parcialmente compensado pela desaceleração das despesas em bens e serviços, que traduz o efeito líquido do retorno a um nível normal das compras e vendas das administrações públicas e o menor impacto das medidas de contenção da pandemia na área da saúde», revelam os mesmos dados.

 

Investimento sobe mas não para todos

O investimento deverá crescer, em média, 5% «beneficiando da entrada de fundos europeus, em particular no âmbito do novo instrumento Next Generation EU (NGEU)». Um dos motores de recuperação será a atividade industrial «que tem sido mais resiliente, antecipando-se uma recuperação mais rápida». Mas admite que o ritmo deverá ser mais lento nos serviços mais dependentes de contactos pessoais – como é o caso das atividades ligadas ao turismo, cultura e entretenimento. «A retoma da atividade traduz-se numa melhoria no mercado de trabalho, com um crescimento médio do emprego de 0,8% e uma redução da taxa de desemprego a partir de 2022», ainda assim, lembra que «subsistem margens de subutilização de recursos no mercado de trabalho e do produto, que diminuem ao longo do horizonte de projeção».

A taxa de desemprego deverá aumentar de 6,8% em 2020 para 7,7% em 2021, antes de iniciar uma trajetória descendente até ao final do horizonte de projeção. «A informação disponível para o início do ano sugere uma relativa estabilização da taxa de desemprego e uma redução do emprego e da população ativa, num quadro semelhante ao observado no segundo trimestre de 2020, embora em menor escala. No conjunto do ano antecipa-se um aumento da taxa de desemprego, traduzindo o aumento dos indivíduos que transitam da inatividade para o desemprego. Esta evolução traduz o aumento da taxa de atividade, associado ao levantamento das medidas de contenção e à recuperação da atividade económica», refere.

Ainda assim, deixa um alerta: «Apesar do sucesso das medidas de política em mitigar os impactos negativos da crise pandémica no mercado de trabalho, antecipa-se que existam alguns efeitos mais prolongados, decorrentes de eventuais alterações nas preferências dos agentes (por exemplo, compras eletrónicas, viagens de negócios e teletrabalho) e da necessidade de realocação de fatores produtivos entre setores».

 

Exportações aumentam

As exportações deverão crescer 13,7% em 2021, 11,5% em 2022 e 5,3% em 2023. «Esta evolução reflete a dissipação mais lenta dos impactos diretos da pandemia nas exportações de turismo, que começam a ganhar dinamismo apenas a partir de meados de 2021, e o peso significativo desta componente, o quarto mais elevado na área do euro em 2019», revela o BdP.

No entanto, no final do horizonte de projeção, as exportações de turismo encontram-se ainda ligeiramente abaixo das de 2019. «A experiência da pandemia sugere a possibilidade de uma redução das viagens de negócios nos próximos anos, o que penaliza a evolução dos setores exportadores de serviços. Por seu lado, as exportações de bens crescem 15,1% em 2021 – ultrapassando as de 2019 – e aumentam 4,9% e 3,2% em 2022 e 2023».

Já as importações deverão crescer em média 8,4% em 2021-23, desacelerando no final do período, em linha com a evolução da procura global ponderada pelos conteúdos importados. «A evolução das importações é influenciada pela recuperação mais rápida dos setores ligados aos bens, que têm conteúdos importados mais elevados. Face a 2020, assume-se um aumento da elasticidade entre as importações e a procura global ponderada, em contraponto com a maior rigidez das importações em períodos de contração. Contudo, a elasticidade é ligeiramente inferior à média histórica, dando continuidade à tendência de redução que se observou no período anterior à pandemia».