Governar para além dos rankings das cidades

Infelizmente, sempre que se governa para os rankings e se evidenciam os seus bons resultados, desvalorizam-se, e até se escondem, outros tantos (ou mais) maus desempenhos…

Os rankings são importantes porque medem desempenhos, mas não basta viver para esses objetivos ou dos seus resultados. Até porque, muitas vezes, esses rankings são ilusórios.

Lisboa tem sido notícia por posições de destaque em diversas comparações. No turismo, em particular, a capital tem sido distinguida como destino de eleição. Ultimamente têm surgido as mais diversas classificações: ‘Cidades com melhor qualidade de vida’, ‘Melhor cidade para estrangeiros viverem’, ‘Bairros mais cool’, etc.. A mais recente notícia dá conta de que Lisboa foi destacada entre os ‘21 lugares de futuro’ do mundo.

Naturalmente que ficamos satisfeitos sempre que Lisboa é elogiada internacionalmente. Enquanto lisboetas ficamos orgulhos e não é indiferente para o prestígio da cidade. Mas convém relativizar estas menções e não esquecer outros rankings em que Lisboa não deveria aparecer tão mal classificada.

Vale a pena referir algumas outras classificações e a forma como surgem. Por exemplo, a famosa eleição do ‘melhor pastel de nata de Lisboa’ em que, na verdade, é apenas selecionado o melhor entre os que se propõem e não, necessariamente, o melhor. Ou os concursos de vinhos cujas distinções costumam ser colocadas nos rótulos, havendo dezenas de concursos idênticos e, em cada, as famosas medalhas são distribuídas generosamente a vários vinhos, claro entre os que se candidatam.

Infelizmente, sempre que se governa para os rankings e se evidenciam os seus bons resultados, desvalorizam-se, e até se escondem, outros tantos (ou mais) maus desempenhos.

Se é verdade que Lisboa tem sido bem sucedida na sua promoção externa, granjeando uma boa imagem junto de turistas e de quem nos vê de fora – e isso é positivo, a realidade também inclui outros indicadores negativos sobre o desempenho da cidade, especialmente sentidos por quem vive na cidade.

Por exemplo, no ranking do congestionamento de tráfego, Lisboa encontra-se entre as cidades com trânsito mais caótico na Europa e no mundo, chegando a ser a pior em toda a Península Ibérica. Também no que respeita à poluição sonora e do ar, a capital encontra-se em má posição, nomeadamente na poluição do ar provocada por navios de cruzeiro em que é mesmo a 6.ª pior da Europa.

Mesmo no contexto nacional, na comparação com os demais municípios, Lisboa tem alguns desempenhos que importa observar. Por exemplo, na saúde, em que se encontra nos piores lugares de número de habitantes por centro de saúde (288º em 308), ou nas áreas da cultura e desporto com uma  percentagem de despesa em relação ao total da despesa municipal em que fica na posição 224 de 308, ou na área do ambiente com uma percentagem de despesa no setor face ao total das despesas do município em que se encontra na posição 115 entre os municípios e em matéria de eficiência ambiental com um dos maiores consumos de água e de produção de resíduos per capita em todo o país. (dados PORDATA)

Estes rankings são ainda mais importantes que os outros. Porque estes afetam os lisboetas enquanto os outros podem orgulhar-nos, mas não contribuem para a nossa qualidade de vida. A prioridade deve ser governar para melhorar os indicadores das condições que influenciam a vida dos lisboetas.