Fobia aos touros

O desconfinamento, ensaiado no início da semana em curso, trouxe a abertura da generalidade das salas de espectáculo, permitindo-se, deste modo, o regresso das actividades culturais, sem dúvida um dos sectores mais martirizados com a suspensão das liberdades individuais, medida que a nossa classe política considerou como a mais adequada para o combate à pandemia…

Mas engane-se quem pense que este desconfinar da cultura se alastrou a todos quantos dela fazem o seu modo de vida e de ganha-pão: as Corridas de Touros continuam proibidas, sem que nenhuma justificação lógica sustente este verdadeiro atentado aos mais elementares direitos dos amantes dos toiros.

É-se autorizada uma ida a um cinema, a um teatro ou a espectáculos de música e de diversão, que decorrem em espaços fechados e, consequentemente, mais vulneráveis à propagação de qualquer vírus, mas mantém-se a proibição da abertura das Praças de Touros, locais abertos e arejados pelo ar natural, condição propícia ao controlo efectivo de doenças transmissíveis.

Pior ainda, as referidas Praças podem abrir ao público, mas não para Touradas!

Um concerto de música, em que a interligação entre quem a ele assiste é bem mais efectiva do que em qualquer outro movimento de cariz cultural, é perfeitamente admissível num recinto vocacionado para a actividade taurina, mas toiros nem pensar!

Poder-se-á concluir que na cabeça de quem nos governa fervilha a ideia de que os touros atraem o vírus que por aí anda, mas não, a razão de ser desta inqualificável atitude tem como base, apenas e só, um preconceito ideológico.

A criatura que gere a pasta da cultura segue, escrupulosamente, os ditames do seu mentor político, que respondia pelo nome de Karl Marx: quando não gostamos de uma coisa, proibimo-la!

Nunca se preocupou em esconder a sua fobia aos touros, fazendo gala em qualificar a sua aversão à Tauromaquia por uma questão civilizacional.

Não lhe estando, ainda, acessível a prerrogativa de decretar a proibição de todas as actividades taurinas, procura, através de artimanhas, condicioná-las, discriminando-as sem qualquer pudor, como o fez através da aplicação da taxa IVA em montantes bem superiores às das restantes áreas da cultura, ou agora, mantendo o sector paralisado, sem quaisquer apoios estatais. 

A criatura que gere a pasta da cultura tem todo o direito a não gostar de Touradas, mas enquanto cidadã, jamais na qualidade de governante.

Como primeira responsável pelo ministério que herdou, tem o dever de ser imparcial e isenta no procedimento a conceder a todas as iniciativas que emergem no âmbito da cultura, tratando-as a todas por iguais, sendo-lhe vedada a possibilidade de privilegiar algumas em prejuízo de outras.

Muito menos lhe assiste o direito de discriminar todo um sector, somente por uma questão de gosto pessoal.

Imagine-se que o ministro da defesa não gosta de um dos Ramos das Forças Armadas e, por via disso, excluo-o de todo o movimento orçamental, canalizando verbas apenas para os restantes Ramos!

Como é óbvio, cairia o Carmo e a Trindade e num piscar de olhos ao ministro seria indicada a porta da saída.

Ou se o ministro da administração interna tivesse um diferendo pessoal com uma das forças de segurança que dele dependem e, como represália, congelasse o pagamento de salários a quem nela presta serviço!

Ou se o ministro da educação resolvesse cessar qualquer apoio a determinadas escolas, só por não simpatizar com elas!

Nenhum deles, certamente, manteria ainda assento nas reuniões do conselho de ministros.

Os ministros não se podem dar ao luxo de terem gostos e preferências pessoais; devem, sim, limitar-se a cumprir o programa do governo que juraram executar e agirem sempre de acordo com o princípio da neutralidade em relação a todas as áreas que tutelam.

A criatura que gere a pasta da cultura há muito que deveria ter sido demitida com justa causa, com base na manifesta incompetência que tem vindo a evidenciar no exercício das funções que lhe confiaram.

As críticas à gestão que imprimiu no ministério não se têm feito ouvir apenas no meio taurino, mas vêm, sim, de todos os quadrantes culturais, que dela se queixam com insistência.

Não admira a sua impreparação para o cargo que lhe foi oferecido. É o que acontece quando se distribuem lugares de grande responsabilidade não pelo mérito que é reconhecido aos escolhidos, mas sim no cumprimento de um sistema de quotas, em quem se procura satisfazer as pretensões de certas minorias!

A perseguição de que a Tauromaquia tem sido vítima é muito mais do que uma afronta aos que vivem dos rendimentos que dela auferem e a quem não dispensa uma ida aos touros.

É, sobretudo, uma clara violação do estado de direito, pelo que a todos nós, os apaixonados pela vida taurina, nos assiste o direito à indignação e à revolta.

Mais do que um direito, é uma obrigação a que estamos vinculados!  

Pedro Ochôa