O que é um padre?

Mas o que é um padre? Para que serve um padre? Como é que podemos entender os padres no mundo contemporâneo? Faz sentido, ainda, haver padres celibatários, que não casam, que não constituem família, que vivem na solidão?

No domingo passado, em todo o mundo, a Igreja celebrou o domingo do Bom Pastor, dedicado à oração pelas vocações sacerdotais. A Igreja não para de realizar o que foi pedido por Jesus Cristo: «A ceara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da ceara que mande trabalhadores para a sua ceara». E é verdade! A ceara, a Igreja e o mundo, é grande, mas poucos os trabalhadores.

Esta palavra muitas vezes aplicada ao padre – o trabalhador da ceara – deveria ser aplicada a todos os membros da Igreja, a quem compete o cuidado pelo anúncio ao mundo e, desta forma, o trabalho na ceara do mundo. Nós, abusivamente, relacionamos esta palavra com a ordem sacerdotal. 

Mas o que é um padre? Para que serve um padre? Como é que podemos entender os padres no mundo contemporâneo? Faz sentido, ainda, haver padres celibatários, que não casam, que não constituem família, que vivem na solidão? É curioso que, em Roma, o Papa Francisco tenha celebra tenha ordenado um jovem – Samuel Piermarini – que antes de entrar no seminário era um jovem jogador de futebol promissor. Pelo jogo renunciou à bebida, à comida e fez muitos sacrifícios para poder estar em forma. Depois veio a vocação e foi para padre. 

É assim a vida! Deixou tudo e foi para o futebol, depois deixou o futebol e foi para padre. O que é, então, um padre?

O Papa Francisco tem uma obsessão com o dinheiro e, sempre que ordena padres e bispos, lembra-lhes que não se devem apegar ao dinheiro ou ao poder e lembra-os, também, que são servos de um povo que é a Igreja.

Na realidade é bom ouvir isto, porque perdemos muitas vezes o sentido do nosso ministério e esquecemo-nos de quem somos. Nós somos escolhidos por Deus para trabalhar na ceara de Cristo, que é a Igreja, celebrando os sacramentos, para o bem e para a salvação dos homens deste mundo. Esta é a nossa missão. O padre foi feito para distribuir a graça de Deus no sacramento do perdão – a confissão – e oferecer o dom enorme da Eucaristia, onde Cristo está tão realmente presente, como está no Céu. O padre foi feito para dispensar o dom da Santa Unção para com aqueles que estão doentes e amparar os que vivem a sua vocação no matrimónio.

Não gosto de pensar que o padre esteja fora do mundo, mas o mundo é o lugar de apostolado de todos os cristãos. Isto é, tal como o padre serve os seus irmãos na Igreja – esta é a sua missão –, os cristãos servem o mundo por meio do apostolado, do anúncio do evangelho, levando os homens a encontrarem-se com Deus.

Muitas vezes andamos a confundir o ministério do padre. Ele não é um empresário. Ele não é um engenheiro. Ele não é um arquiteto. O padre não é, nem pode ser confundido, um assistente social – com todo o respeito que tenho para com esta profissão. O padre foi feito para dispensar os mistérios de Deus aos homens e levar a boa nova aos pobres.

Todas as outras atividades, que são dignas de santificação entre todos os homens, estão destinadas a todos os cristãos. Os centros sociais que estão muitas vezes em cima dos pobres padres deste país, deveriam ser geridos pela massa dos cristãos que compõem as comunidades cristãs. As obras e a angariação de fundos que estão muitas vezes a cargo dos padres, trazendo-lhes enormes preocupações, deveriam ser entregues a tantos cristãos tão competentes nas suas áreas da engenharia, arquitetura, gestão.

Eu penso que muitas vezes o mundo anda às avessas e a Igreja também. Andamos todos a discutir sobre o lugar dos cristãos na Igreja e queremos que eles tenham maior participação e depois queremos que os padres assumam trabalhos no mundo que não têm qualquer sentido. Os padres são padres para os sacramentos e para os pobres, os cristãos, uma vez alimentados pela Graça divina, são chamados a partilhá-La com tantos homens que anseiam por recebê-La. Se tivéssemos isto claro e começássemos a discutir como poderemos exercer as nossas vocações específicas, deixaríamos de andar a discutir coisas parvas na Igreja, como aquelas que foram censuradas por Jesus: quem é o mais importante? Quem se vai sentar à direita ou à esquerda?