Palestina. A esperança é esmagada por bombardeamentos israelitas

Aumenta a pressão para o fim do massacre na faixa de Gaza. Até os EUA, o grande aliado de Israel, se juntaram ao apelo. 

Nessa prisão a céu aberto que é Gaza, uma breve pausa nos bombardeamentos sistemáticos a que o território tem sido submetido, ao longo dos últimos 11 dias, foi sol de pouca dura.

Durante oito horas, nesta quinta-feira, não se ouviram rockets e bombas israelitas a esmagar prédios residenciais, a população não teve que se esconder, em pânico, temendo morrer ou perder os seus entes queridos, ao mesmo tempo que aumentava a pressão internacional sobre Israel. Inclusive da parte de Washington, que há décadas sustenta o regime israelita, tanto com o envio de 3,8 mil milhões de dólares (3,11 mil milhões de euros), em financiamento e armamento, só em 2019, como oferecendo cobertura diplomática face à ampla condenação da comunidade internacional.

Contudo, até os seus aliados mais próximos Telavive ignorou, recomeçando a bombardear. Esta quinta-feira, ao telefone com o Presidente Joe Biden, que pediu “uma significativa inversão da escalada hoje, no caminho para um cessar-fogo”, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, recusou, garantindo que está “determinado” a disparar sobre Gaza até que os “objetivos sejam cumpridos”, segundo a Al Jazeera. Este canal, à semelhança da Associated Press, ainda há uns dias viu o seu escritório em Gaza obliterado por bombas israelitas, recebendo somente uma hora de aviso para evacuação. O que pode constituir um crime de guerra, têm acusado várias organizações de direitos humanos.

Entretanto, já perderam a vida pelo menos 230 palestinianos, incluindo 65 crianças e 39 mulheres, coma mais de 1700 feridos segundo as autoridades de Gaza, citadas pela Reuters, enquanto em Israel a contagem vai em 12 mortos, com 336 feridos devido aos milhares de rockets, mais ou menos artesanais, lançados pelo Hamas, o grupo extremista islamita que controla a faixa de Gaza.

É uma disputa desigual – Israel conta com o Iron Dome, um dos mais avançados sistemas antiaéreos do planeta, capaz de deter a vasta maioria dos projéteis do Hamas, lançando mísseis para os intercetar, falhando raramente, apenas quando sobrecarregado por uma quantidade enorme de disparos simultâneos. Aliás, só nas primeiras 24h de bombardeamento israelita, morreram mais palestinianos do que os grupos palestinianos mataram com rockets ao longo das últimas duas décadas.

Pressão Não é só Washington que tenta refrear o seu velho aliado. Após evitarem condenar Israel durante dias, os Estados membros da UE – excluindo a Hungria – têm aumentado os esforços diplomáticos para pôr fim à ofensiva israelita em Gaza.

É que mesmo nos EUA, onde historicamente o apoio a Israel sempre foi bipartidário, praticamente unânime entre o eleitorado, a ligação à causa palestiniana é cada vez maior.

Sobretudo entre democratas mais jovens, que assistiram a anos de bloqueio a Gaza, impedindo a chegada dos bens mais básicos, criando condições atrozes, bem como às expulsões de palestinianos das suas casas, na Cisjordânia, por colonos israelitas, sem resistência armada significativa, ao contrário do que se via nos tempos da Organização para a Libertação da Palestina, antes de 1993, ou nos tempos dos atentados suicidas do Hamas, no início de 2000.

Face à impotência dos palestinianos, que têm a comunidade internacional praticamente como único – e parco – recurso, estes jovens democratas querem que Biden “tome uma posição mais dura, e esta é a sua oportunidade de mostrar que está a fazê-lo”, admitiu Jonathan Schanzer, dirigente Foundation for Defense of Democracies, um dos muitos think-tanks alinhados com o poderoso lobby israelita em Washington, ao New York Times. E a expectativa é um cessar-fogo nos próximos dias, garantiram ontem fontes de ambos os lados à Reuters.

Talvez essa pressão dos americanos, que têm a mão na carteira de Israel, seja a única coisa capaz de refrear Netanyahu, que há muito se habituou à condenação global. Mas o fim das hostilidades não significa o fim das tensões da ocupação, ou da descriminação sentida por cidadãos israelitas árabes.

Algo que recebeu uma das mais significativas condenações possíveis, vindas da África do Sul, que caracterizou Israel como “um Estado tipo Apartheid”, nas palavras do Presidente Cyril Ramaphosa, à France Press, esta quinta-feira. Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lembrou os mais de 50 mil palestinianos obrigados a abandonar as suas casas, impedidos de escapar do território pelo bloqueio israelita, com apoio do Egito. E acrescentou: “Se há inferno na Terra, são as vidas das crianças em Gaza hoje”.