Morte à censura

Azeredo Lopes, Estrela Serrano e Arons de Carvalho ficavam bem na comissão censora

As eleições autárquicas espanholas, nomeadamente as de Madrid, foram um sinal para os fundamentalistas de esquerda, embora esteja em crer que muitos continuam a não querer ver o óbvio: o comum dos mortais não gosta de ditaduras, sejam elas de costumes ou políticas. Como é óbvio muitos vão na onda e adoram vestir a pele de polícia de costumes ou de bufo. Mas a ‘abada’ que o homem do Podemos levou pode bem ser um sinal do que se irá passar no resto da Europa, onde a maioria silenciosa, aquela que não vai para manifestações partir montras de marcas conhecidas ou roubar lojas de material desportivo,  está farta de ouvir imbecilidades anunciadas de num futuro próximo não se poder chamar pai a quem nos pôs no mundo, entre tantas alarvidades. Ou muito me engano, por este andar, as mulheres altas não vão poder usar saltos altos pois isso é uma ofensa para as baixinhas. Eu próprio ao escrever este trocadilho ainda posso ser multado por ofender altos e baixos.

A tal maioria silenciosa até pode não ter alternativa no seu espetro político, mas de certeza que há de querer combater este novo fundamentalismo que nos quer levar para onde não queremos ir. Se não combatermos os novos inquisidores ainda acabaremos na praça pública a autoflagelarmo-nos para expiarmos os nossos pecados do passado colonialista. São estes novos pides que pululam por quase o mundo inteiro. Ontem circulava uma notícia da Visão que  dava conta que uma aplicação brasileira tinha retirado dois pratos típicos portugueses por serem ofensivos: falamos da ‘batata a murro’ e da ‘punheta de bacalhau’. São estes atrasados mentais que empurram a extrema-direita para o poder, pois as imbecilidades destes energúmenos só provam como odeiam a democracia e o livre pensamento. Como sabemos, extrema-direita e extrema-esquerda estão bem uma para a outra. São farinha do mesmo saco.

Por falar em farinha do mesmo saco, o que dizer da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital?

A censura é anunciada e ninguém se importa com isso? A carta foi aprovada com votos do PS, PSD, BE, CDS, PAN, das duas deputadas não inscritas e com a abstenção do PCP, PEV, Chega e Iniciativa Liberal. Vejamos um dos mimos dessa carta: «O Estado apoia a criação de estruturas de verificação de factos por órgãos de comunicação social devidamente registados e incentiva a atribuição de selos de qualidade por entidades fidedignas dotadas do estatuto de utilidade pública».

Sugiro ao Estado que escolha outra vez Azeredo Lopes para essa comissão [ERC], que por sua vez irá buscar Estrela Serrano que pedirá ajuda a Arons de Carvalho. Assim o PS fará o pleno e Rui Rio aplaudirá, com o BE em bicos de pés.

Tudo isto é mau demais para ser verdade. Tanto o Governo como a oposição não percebem que para acabar com as mentiras podem acabar com as verdades? E quem determinará o que é mentira e o que é verdade? Haverá uma lista de sábios? A estupidez não tem limites e espero que a comunicação social não se vergue a estes novos censores que, como disse, ainda nos vão obrigar a ir para o Campo Pequeno autoflagelarmo-nos, neste casos, por termos escrito o que pensamos. A não ser que as pessoas acordem e que digam aos extremos, direita e esquerda, para irem dar banho ao cão e que nos deixem chamar nomes aos amigos, sem que isso os mande para o psiquiatra e que possamos comer umas boas ‘batas a murro’ e umas ‘punhetas de bacalhau’. Em nome da nossa identidade e do nosso gosto, já agora.

vitor.rainho@sol.pt