O estado das coisas…

A ‘proeza’ de trazer o futebol da UEFA para o Porto, teve um ‘ensaio geral’, em Lisboa, com a ‘Final a 8’, anunciado com trombetas numa luzida cerimónia em Belém…

Quando um título de jornais nos avisa que as autoridades estarão ‘em força nas praias para evitar enchentes’, supõe-se que estas agem em conformidade com as determinações da DGS e do Governo, e de harmonia com as recomendações dos peritos em saúde pública e virologia.

Mas, tal como acontece na China – origem do coronavírus, fugido ou não de laboratório –, onde vigora o princípio ‘um país, dois sistemas’, inventado por Deng Xiaoping, também em Portugal parecem ser seguidos os seus ensinamentos…

Daí que haja uma lei em vigor de ‘calamidade’ que se aplica às praias, devidamente policiadas – sujeitando a coimas os banhistas ‘prevaricadores’ –, e outra lei, não escrita, que tanto isenta os adeptos ingleses do futebol de respeitar as restrições sanitárias no Porto, como os do Sporting campeão, ou os devotos do PCP, desde as festas da Quinta da Atalaia às manifestações do 1.º de Maio.

Num ápice, e graças ao ‘foral’ conferido pelo Governo soberano, abriram-se alas para uns milhares a quem se atribuiu uma espécie de ‘certificado em bolha’, exorcizando-se quaisquer temores relacionados com variantes inglesas ou indianas do vírus.

Em contrapartida, mal-agradecido com a ‘balda’ que consentimos aos seus nativos, o Governo inglês retribuiu o favor e afastou Portugal da sua ‘lista verde’ de castigo.

O que espanta, depois, é a facilidade como se diz que correu bem o que correu mal, como se elogiam ministros incompetentes para segurar amigos e correligionários, ou como se mudam as narrativas consoante os interesses em jogo.

Nada que seja novo. Afinal, as contradições da DGS e do ministro Eduardo Cabrita tornaram-se lendárias, enquanto o primeiro ministro ‘assobia para o lado’ e finge que não percebe.

O Governo entrou em contramão, dirigindo-se aos portugueses como se estes ocupassem o último patamar da infantilização, sem capacidade de discernir entre o certo do errado.

A ‘proeza’ de trazer o futebol da UEFA para o Porto – vetada em Wembley e que não interessou aos turcos –, teve, aliás, um ‘ensaio geral’, há um ano, em Lisboa, com a ‘Final a 8’ do mesmo torneio, anunciado com trombetas numa luzida cerimónia em Belém. Foi uma espécie de ‘Comissão de Honra’ para a ‘tribo’ do futebol, devidamente representada. Uma festa.

Recorde-se, a propósito, que o Presidente da República achou mesmo que a realização dessa final era «uma magnífica notícia para Portugal», enquanto António Costa se lembrou de dedicar «aos profissionais de saúde», esse «prémio merecido» por terem demonstrado a ‘robustez’ do SNS. A “robustez” ficou à vista no Inverno seguinte, mas disso não reza a história…

Esta dança de equívocos à volta da saúde pública, permitiu, aliás, a António Costa auto elogiar-se na recente apresentação à FAUL do PS da sua moção de estratégia ao Congresso, afirmando, sem se rir, que «duvido que com outro partido pudéssemos ter vivido tantos meses em estado de emergência (…)».

Infelizmente, tem razão. De facto, era difícil a outro partido fora da ‘geringonça’, conseguir o silêncio cúmplice do PCP e do Bloco de Esquerda.

Embalado, Costa ainda enfatizaria que a emergência existiu «sem que as liberdades e a democracia tivessem alguma vez estado ameaçadas».

Enganou-se. De facto, a democracia, o pluralismo e as liberdades saíram enfraquecidas desta emergência continuada. E pior estarão quando a nova ‘lei da rolha’ vigorar em meados de julho, ‘pastoreando o rebanho’ com regras censórias.

Mesmo assim, Rui Rio ainda lamentou que os seus esforços para se eclipsar na oposição não fossem devidamente valorizados por Costa.

Este queixume radicou-se na sua constatação de que, embora fuja a criticar o Governo, deixando o PSD ‘de cócoras’, o PS não aproveita para forçar reformas.

Prova-se que a vocação de Rio é dizer ámen a tudo o que convenha a Costa, seja na partidarização da Justiça, das Forças Armadas ou de segurança, seja, até, na carga ideológica que está a destruir a educação e a saúde.

Para cúmulo, num gesto sobranceiro e frio, o primeiro-ministro renovou os votos de ‘casamento à esquerda’, enquanto destratou Rio, dizendo-o pior do que um cata-vento, porque «um cata-vento ao menos tem pontos cardeais, o dr. Rui Rio não tem».

De braços abertos à extrema-esquerda, Costa ‘encostou’ Rio à extrema-direita e elegeu o Chega como ‘papão de conveniência’.

O Governo que chefia, sendo o maior desde o 25 de Abril, é, seguramente, um dos mais medíocres que conhecemos em quase meio século de democracia.

Mas ganhou uma aura de inimputabilidade, graças ao bloqueio das oposições, e ao ‘pacto de não agressão’ entre Belém e São Bento. Entretanto, há ministros no ‘recreio’ a ‘brincar’ aos aviões e aos hospitais, à custa dos contribuintes…

É este o estado das coisas.