Costa desvaloriza conflito com Belém e não quer “romances”

Tensão entre Belém e São Bento dura há três dias, mas primeiro-ministro garante que não passa de um “mal-entendido”. Marcelo prefere falar da união à volta do futebol.

A troca de palavras entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa sobre o desconfinamento traduz mais um momento de tensão, mas o primeiro-ministro prefere falar num “mal-entendido” e garante que “não há nenhum conflito”.

António Costa tentou desdramatizar a tensão entre Belém e São Bento e afirmou esta terça-feira que “não vale a pena andarem a criar romances”, porque o Presidente e o primeiro-ministro estão alinhados no combate à pandemia. “Nunca me passaria pela cabeça desautorizar o senhor Presidente da República”, acrescentou.

Belém e o Governo voltaram a divergir sobre a estratégia para combater a pandemia. O diálogo na praça pública entre Marcelo e Costa dura há três dias e começou com o chefe de Estado a afirmar que “já não voltamos para trás” no desconfinamento.

“Não é o problema de saber se pode ser, deve ser, ou não. Não vai haver. Comigo não vai haver. Naquilo que depender do Presidente da República não se volta atrás”, afirmou, no domingo, o Presidente d República.

António Costa discorda e na segunda-feira afirmou que “ninguém pode garantir que não se volta atrás” no desconfinamento. “Creio que nem o senhor Presidente da República seguramente o pode fazer, nem o fez”, frisou.

Marcelo não deixou o primeiro-ministro sem resposta e no mesmo dia lembrou que “o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro. Quem nomeia o primeiro-ministro é o Presidente, não é o primeiro-ministro que nomeia o Presidente”.

Unidos em torno do futebol Marcelo não podia ser mais claro sobre as regras do jogo e não quis voltar ao assunto. Ontem, em Budapeste, antes do início do jogo da seleção portuguesa, o Presidente da República aproveitou o jogo de futebol para não falar mais do assunto de que já falou tantas vezes. “Hoje é dia de futebol, e aqui estamos todos unidos em torno do futebol e, portanto, eu não vou agora estar a falar de outros temas, porque é desconcentrar o fundamental. Temos de estar focados, e estamos todos focados: o senhor primeiro-ministro, o senhor presidente da Assembleia da República, eu próprio, o senhor presidente Fernando Gomes, os portugueses todos”, disse.

Rio afasta-se da polémica Rui Rio, presidente do PSD, preferiu não se meter no assunto. Embora se tenha referido à tensão entre o Presidente e o primeiro-ministro como “essa polémica”, o líder dos sociais-democratas prefere não interferir. “Obviamente que tenho uma opinião sobre isso, agora serei o último a vir expressar-me neste momento quando há essa polémica, digamos assim, entre primeiro-ministro e Presidente da República, acho que não o devo fazer e não devo interferir nessa polémica”, disse Rui Rio, em declarações aos jornalistas, no último dia das jornadas parlamentares do PSD, em Portalegre.

O presidente dos sociais-democratas garantiu que tem uma opinião sobre este assunto, mas “dadas as circunstâncias” prefere não a dar. “Não vou interferir nessa polémica entre primeiro-ministro e Presidente da República”, reafirmou.

Esta não é a primeira polémica desde que Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito para o segundo mandato com o apoio de muitos socialistas. A decisão do Presidente da República promulgar os apoios sociais aprovados pela oposição criou um clima de tensão entre Belém e o Governo pouco tempo depois da reeleição.

António Costa classificou, nessa altura, a decisão de Marcelo como “inovadora” e “criativa”, mas afastou “qualquer crise política”.

O atual Presidente da República foi reeleito com o apoio de destacados socialistas. O PS voltou a não apoiar oficialmente nenhum dos candidatos, mas destacados socialistas como ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, ou João Soares, ex-ministro da Cultura, declararam apoio ao ex-líder do PSD.