Último Apple Daily esgotou

Jornal de Hong Kong crítico do regime foi obrigado a encerrar depois de o governo chinês ter congelado os seus fundos. Agora só funciona em formato online e opera através de Taiwan.

Último Apple Daily esgotou

Milhares de pessoas fizeram fila em Hong Kong para comprar a última edição impressa do Apple Daily.

O milhão de exemplares do último número do jornal pró-democracia, que agora irá funcionar exclusivamente online através da ilha de Taiwan, esgotaram nas primeiras horas da manhã.

Com os seus bens congelados pela polícia local, o conselho de administração do Apple Daily decidiu que a melhor medida a tomar seria encerrar o jornal e, esta quinta-feira, lançar a sua última edição.

A empresa mãe do jornal, a Next Digital Media, já tinha feito um pedido a Pequim para libertar os fundos do jornal de forma a conseguir pagar as despesas e aos seus trabalhadores, mas a líder de Hong Kong, Carrie Lam, respondeu que a decisão cabe ao secretário de segurança.

«O encerramento do Apple Daily nega o lema ‘um país, dois sistemas’ e prepara palco para ‘um país, um sistema’», disse um comentador de política chinesa ao Al Jazeera, que pediu para o nome não ser citado por razões de segurança.

 «Este jornal tentou ter algum impacto não só em Hong Kong, mas também na liberalização da China, mas com este país a ficar cada vez mais aberto a valores ocidentais, o Apple Daily focou-se em defender os valores de Hong Kong e denunciar os atos de Pequim».

Atualmente, o proprietário do jornal, Jimmy Lai, está detido, condenado a várias penas de prisão pelo envolvimento em protestos pró-democracia em 2019. Foi também acusado ao abrigo da lei de segurança, que prevê a pena de prisão perpétua para crimes de secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras.

Segundo o conselheiro sénior de Lai, Mark Simon, o jornal tem perto de dois milhões de euros congelados. Caso o Apple Daily continue impedido de aceder a estes valores o jornal será obrigado a encerrar ainda esta semana.

 

Como evitar ser preso?

Depois de jornalistas e editores de Hong Kong terem sido presos por, alegadamente, violarem a lei de segurança nacional, membros da imprensa pediram à líder do governo para esclarecer esta legislação vaga, um pedido que foi prontamente recusado.

«Não vale a pena subestimar a importância de quebrar a lei da segurança nacional, nem tentar embelezar estes atos que colocam a segurança nacional em risco», disse a líder de Hong Kong, numa conferência de imprensa, que decorreu esta quarta-feira, onde defendeu a detenção de vários membros do jornal pró-democracia, Apple Daily, dois destes detidos foram inclusive acusados de conspirar para cometer conluio com um país estrangeiro, assim como o facto de ter congelado os fundos monetários do jornal e a operação que levou mais de 500 polícias aos escritórios do jornal.

«Não tentem acusar as autoridades de Hong Kong de usar a lei de segurança nacional para suprimir a os meios de comunicação ou sufocar a liberdade de expressão», acrescentou Lam.

 «Criticar o Governo de Hong Kong não é um problema, mas se existe uma intenção de organizar ações que incitem à subversão do Governo, então é claro que é diferente», explicou.

As autoridades internacionais pretendem impor sanções ao governo chinês e de Hong Kong por estes ataques ao Apple Daily. Lam tentou justificar que este caso não era um ataque ao «trabalho jornalístico normal», e acusou o diário de ter tentado minar a segurança nacional da China em artigos publicados, apesar de não ter especificado os artigos em questão, nem esclarecido se se tratou de notícias ou artigos de opinião.