Lembra-se da última gargalhada que deu ao ler um livro?

Jeff Kinney era uma espécie de cartoonista frustrado quando teve uma ideia para um livro. Demorou oito anos a aperfeiçoá-la. Mas compensou e de que maneira.

Lembra-se da última vez que se soltou uma gargalhada ao ler um livro? Eu lembro-me bem. Foi há cinco minutos, quando abri casualmente um livro dos meus filhos e me deparei com estas linhas:

«A parte mais chata de termos uma pessoa a contar-nos as férias é termos de fingir que estamos FELIZES por ela. Porque ninguém quer ouvir falar de diversão que não teve». Confesso que apreciei a honestidade. E logo a seguir encontrei ainda melhor: «As únicas férias que eu quero ouvir contar são aquelas em que correu tudo MAL. Dessa forma, não fico com pena de não ter estado lá».

O narrador e protagonista desta história é Greg, um miúdo magricela de 10-11 anos, pouco popular, mas dono de um sentido de humor apurado. O livro chama-se Põe-te a Milhas! e é o 12.º da saga Diário de um Banana, de Jeff Kinney, publicada em Portugal pela Booksmile.

A primeira vez que tomei contacto com esta famosa série juvenil foi a bordo de um avião com destino a Ponta Delgada. Um dos meus filhos ia sentado na cadeira ao lado da minha e sugeri lermos algumas páginas para nos distrairmos durante a viagem.

Imaginei que para mim ia ser uma estucha e que estaria a fazer-lhe um enorme favor. Afinal, foi mais o contrário: achei que algumas das piadas ficavam pouco aquém do genial, e a alturas tantas o meu filho só condescendeu em continuar a ler por me ver tão divertido.

Numa das cenas, Greg comprava uns ténis novos e demorava uma eternidade para chegar à escola porque não os queria sujar. «Nunca tinha reparado como o chão está SUJO antes de ter comprado os meus ténis novos. […] O caminho para a escola é como um campo minado de óleo, lama e outras porcarias e temos de ser praticamente uns ninjas para evitar tudo isso». Estes textos curtos são acompanhados por desenhos igualmente divertidos. Num deles, Greg coloca uns sacos de plástico à volta para proteger os ténis novos, mas um dos sacos acaba por se rasgar. «Nessa altura, tentei minimizar a quantidade de sola que tocava no chão»… e vemo-lo a caminhar nas pontas dos pés, a fazer um número de equilibrismo.

A história da saga remonta a finais dos anos 90, quando Jeff Kinney era uma espécie de cartoonista frustrado. Numa entrevista recente ao i, explicou como surgiu a ideia. «Passei alguns anos a tentar ser cartoonista em jornais, mas não estava a conseguir. Então decidi escrever os meus cartoons no formato de um diário e tive logo a ideia para o título, O Diário de um Banana». Ali retratava as dúvidas, os receios e os problemas que apoquentam um pré-adolescente. Trabalhou e aperfeiçoou a ideia durante oito anos, até começar a publicar as histórias online em 2004. Em 2006 assinou um contrato com uma grande editora norte-americana. No ano seguinte, assim que saiu o primeiro volume, Kinney era um homem rico.

A capa do livro que li a bordo do avião com destino a Ponta Delgada (o 8.º da série) anuncia 525 mil exemplares vendidos em Portugal. A de Põe-te a Milhas (o 12.º) refere um milhão. A de De-mo-li-ção (o 14.º) fala em 200 milhões de exemplares em todo o mundo!Julgo que atualmente a fasquia se situa nos 250 milhões (metade dos 500 milhões que Agatha Christie terá vendido em vida). E ainda dizemos que os jovens não leem nada.