Benfica confirma acordo entre ‘Rei dos Frangos’ e Textor

Os encarnados enviaram uma nota à CMVM a dar conta de um acordo realizado entre José António dos Santos e John Textor para vender 25% do capital da SAD do Benfica.

A novela em torno de Luís Filipe Vieira e de José António dos Santos – ambos arguidos no processo Cartão Vermelho –  tem um protagonista que, a cada dia que passa, ganha mais notoriedade no universo encarnado: o norte-americano John Textor, investidor que, como foi confirmado pela SAD do SL Benfica à CMVM, tem um acordo com o ‘Rei dos Frangos’ para comprar 25% da SAD encarnada, tal como o Nascer do SOL tinha avançado. 

Textor fez um acordo com José António dos Santos – mas, garante, não com Luís Filipe Vieira – , e enviou, na segunda-feira, a documentação necessária ao regulador para a compra de mais de 5 milhões de ações, num acordo datado de 16 de junho de 2021, que o mesmo afirmou, ao i, ter assinado a 19 de junho. Uma realidade, no entanto, que John Textor negava, na passada segunda-feira, num comunicado publicado na sua página na internet. “Ainda não adquiri ações no SL Benfica. Gostei das minhas conversas e correspondência com o dedicado fã do SL Benfica, José António dos Santos. […] Nunca procurei, negociei ou cheguei a um acordo para comprar ações do SLB com qualquer outra parte, a não ser ao Sr. dos Santos, nem adquiri quaisquer ações SLB (direta ou indiretamente) nos mercados abertos”, garantia o mesmo.

Entretanto, a comunicação da SAD do SL Benfica à CMVM confirmou a existência do acordo, revelando que o ‘Rei dos Frangos’, que inicialmente possuía perto de 16% da SAD benfiquista, terá celebrado contratos de promessa de compra e venda com outras duas sociedades, a Quinta de Jugais (2%) e José da Conceição Guilherme (3,65%), para aumentar a sua posição como acionista. Ainda assim, no documento enviado pela SAD do Benfica ao regulador, os encarnados referem que José António dos Santos e as suas empresas associadas tem na sua posse 23,1% das ações que serão transferidas. Também foi revelado que o representante do investidor americano é João Costa Quinta, antigo elemento da direção do Benfica. A venda poderá render, tanto a José António dos Santos como a Luís Filipe Vieira, 30 milhões de euros, conforme avançou o Nascer do SOL e já terá adiantado um sinal de um milhão de euros no processo de compra. Longe, ainda assim, dos 50 milhões que os acordos deverão valer. 

A venda dos 25% da SAD benfiquista será concluída até setembro deste ano, mediante o pagamento total do valor exigido (50 milhões de euros), através de dois contratos. Um de 16% dos direitos de voto (3,68 milhões de ações) e um de 9% (2,07 milhões de ações). A confirmar-se, José António dos Santos deixará de ter participação na SAD benfiquista, e John Textor passará a ser o acionista maioritário da estrutura desportiva.

É de referir que a SAD benfiquista referiu à CMVM, em comunicado, que possui o direito de preferência sobre os 3,28% de capital social da SAD detidos por Luís Filipe Vieira, que o próprio concedeu.

À hora de fecho desta edição, no entanto, avançava o jornal desportivo Record que o SL Benfica tinha chumbado a venda de ações a John Textor, por tratar-se de uma “entidade concorrente”.

Futuro no Benfica Na direção da SAD encarnada, a temperatura mantém-se nos altos dígitos. A rutura entre a direção da SAD benfiquista e Luís Filipe Vieira é cada dia mais evidente. Rui Costa tomou as rédeas da estrutura, e o conselho fiscal encarnado deu a Vieira 30 dias para deixar o conselho de administração. Será definido “o termo das funções de Luís Filipe Vieira como membro do conselho de administração no prazo de 30 dias, salvo se, entretanto, deixar de exercer o referido cargo ou a causa de impossibilidade de exercício desse cargo cessar”, pode-se ler em comunicado oficial. “Esta decisão é tomada ponderando os interesses da Benfica SAD e a necessidade de transmitir, com clareza e transparência a todos os stakeholders da Benfica SAD, informação acerca da composição e do funcionamento do conselho de administração”, diz ainda o clube.

Dúvidas da CMVM O negócio entre José António dos Santos e John Textor – factor chave para a Operação Cartão Vermelho que resultou na detenção de Luís Filipe Vieira – encontrou um dos seus principais obstáculos junto da CMVM, que chegou a suspender as negociações de ações da SAD benfiquista durante a manhã de segunda-feira. Tal deveu-se ao facto de se terem tornado “do conhecimento público indícios de irregularidades diversas, suscetíveis de afetar a Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD (Benfica SAD), de impactar o seu governo societário e de criar opacidade sobre a composição da sua estrutura acionista”. A suspensão acabou levantada duas horas depois.

O regulador questionou as negociações entre José António dos Santos e um terceiro, neste caso John Textor, a quem iria vender uma participação de 25% que reuniria. Em causa esteve a não comunicação desta negociação, onde, “existindo fundadas dúvidas sobre a identidade das pessoas a quem possam ser imputados, à presente data, os direitos de voto respeitantes a participações qualificadas na Benfica SAD”,  revelando que a CMVM “tomou medidas no sentido de repor a transparência das referidas participações e responsabilizar os infratores pelos incumprimentos dos deveres de transparência e comunicação ao mercado”.

Mais tarde, John Textor acabou por justificar a falta de comunicação à CMVM por não dar o negócio por fechado, já que, com base nos estatutos da SAD do Benfica, artigo 13.º, secção 4, qualquer entidade concorrente – entidades com participação em clubes ou com planos de a ter, como diz ser o seu caso – precisa de uma deliberação da assembleia-geral, o que até à data não se verificou.

Eleições antecipadas O clube encarnado anunciou que irá organizar eleições antecipadas. A decisão foi tomada numa reunião dos órgãos sociais, onde “foi analisada em pormenor a situação do Clube e de todo do grupo Benfica, em clima de coesão e unidade”, como se pode ler em comunicado, assinado por António Pires de Andrade, presidente da mesa da assembleia geral. As eleições não têm ainda data marcada, mas devem acontecer até ao final deste ano.

Apesar de a notícia ser ainda recente, começam, aos poucos, a perfilar-se os possíveis candidatos, com ênfase para Rui Costa, que assumiu a direção da SAD encarnada enquanto as funções presidenciais de Luís Filipe Vieira estão suspensas. Não há confirmações, mas, segundo avançou A Bola, o antigo jogador estará a ponderar a candidatura ao lugar. Noronha Lopes, que foi candidato derrotado nas últimas eleições do SL Benfica, não anunciou candidatura, mas emitiu um comunicado a congratular a SAD encarnada por tomar a decisão de levar os benfiquistas às urnas. “Saúdo os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica por admitirem a realização de eleições antecipadas. Ainda que o façam timidamente, denotam sensatez neste momento negro na vida do clube”, avançou o mesmo.