O último dos moicanos

Foi uma excitação. «Agora parti para uma etapa diferente», disse. Verdade seja que da anterior, até agora, pouco fica. Boas intenções, talvez. Propostas muitas, sem eco. Cantos de sereia, votados ao desprezo. Um fosso de distância  que se adensa face ao partido do governo. A culpa é, então, de quem? De quem não ouviu, de…

Foi uma excitação. «Agora parti para uma etapa diferente», disse.

Verdade seja que da anterior, até agora, pouco fica.

Boas intenções, talvez.

Propostas muitas, sem eco.

Cantos de sereia, votados ao desprezo.

Um fosso de distância  que se adensa face ao partido do governo.

A culpa é, então, de quem?

De quem não ouviu, de quem nada concedeu, de quem não compreendeu?

E este ‘quem’ é o governo ou é o povo?

Uma estratégia vencedora é a que consegue vergar o governo conquistando o povo.

Este está-se nas tintas para os conflitos entre António e Rui, para a simpatia propositiva de Rui a António, pelo confronto declarado entre ambos.

Quer é ter confiança, oportunidades, melhorar as suas condições de vida.

E o caminho é falar do que ele anseia e dos caminhos que com maior êxito o levarão a conseguir o seu objetivo.

Não há mal nenhum em afirmar o  centro esquerda.

Não há mal nenhum em querer reformas.

Não há mal nenhum em pretender afirmar a diferença.

O problema é saber se tal esforço foi ou não inglório, se foi compreendido, se foi seguido, se motivou entusiasmo.

E talvez não seja avisado concluir que as mudanças se conseguem pura e simplesmente com o confronto.

Um qualquer idealista pensa, sempre, que as pessoas querem ser salvas pela sua intervenção.

Há condições para isso, porém.

Essas mesmas pessoas querem ser salvas?

O que se lhes transmite faz sentido?

As novas ideias têm força? É que a ideia, uma qualquer, não vence sem convencer, sem conquistar, sem passar a residir no querer de cada um.

Ora, valha a verdade que não conseguimos descobrir nada que represente uma vertigem de mudança.

Um governo gerado por um apoio parlamentar como este vive da inércia.

Os medos gerados pelas tragédias dos últimos anos servem-lhe de capa.

Vai continuar a viver das incompreensíveis querelas entre vacinar todos os maiores de doze anos ou apenas alguns, os que possam recorrer a uma receita médica.

Estarão os portugueses verdadeiramente interessados numa revisão constitucional, numa revisão da lei eleitoral, nas  alterações propostas no domínio da justiça?

É que se a nova etapa ficar por aqui mais vale desistir já.

Não há um grama de ouro que se descubra no leito deste rio.

Principalmente agora que é o tempo do novo regresso à liberdade, do acesso aos montões de dinheiro, do emagrecimento da esquerda-esquerda.

Ou, no momento em que as discussões mais interessantes e diretas passarão a residir nos temas relacionados com as eleições autárquicas.

A nova etapa é desfasada da realidade, inoportuna, estéril.

E nem se diga que o propósito poderá ser lutar pela conservação do poder interno, pelo enfraquecimento das alternativas.

Ou ser o exercício da teimosia surda em querer conseguir ganhar tempo para chegar a Primeiro Ministro por esgotamento do adversário.

Alguém disse, uma vez, que sabia lá iria chegar só não sabia quando.

Desta feita o risco é concluir que nunca lá conseguirá chegar e saber quando.

O último dos moicanos também foi uma tragédia. Não por ele, pelos moicanos.