Horror e vergonha!*

Há nestes activismos um eco de desejo de morte, da mesma natureza do que caracteriza o impulso radical do terrorista. 

1. Arte é arte. Mas isto é arte? Será um testemunho deste tempo apocalíptico? Ou é ideologia monstruosa?
O que tem isto (e manifestações iguais) a ver com igualdade de direitos, respeito pela condição humana, pela dignidade de todos os seres humanos? Que sofrimento alimenta a obsessão assim retratada? Que angústia exibe a exposição pornográfica do que é intimidade de cada um nós?

Exibição de um orgulho que parece incompatibilidade consigo próprio, rejeição auto-ignorada de uma natureza, amargura voltada contra os outros e a vida, que ninguém pode resolver. Desses e dos que os comandam. Há nestes ativismos um eco de desejo de morte, da mesma natureza do que caracteriza o impulso radical do terrorista.

2. E que dizer dos políticos que, no conforto da sua condição, usam este drama, descendo à ignomínia de o levar para a escola? Induzindo nas crianças vulneráveis ideias falsas, comportamentos que se traduzirão no futuro em trauma e sofrimento. Crime a que chamam ‘educação para a cidadania’. Tal como nas madraças se induz o ódio ao outro, aqui instrumentalizam-se pessoas fragilizadas.

É sagrada, intocável, indiscriminável a condição de todos os seres humanos, homos, hetero, trans, negros, brancos, cegos, surdos, sei lá. Tanto quanto é legítimo criticar ideias, convicções, atitudes, ações, comportamentos públicos. 

3. E enquanto João Costa, vezeiro na ação sinistra na escola, ministro ‘de facto’ de uma pasta dita da Educação cujo titular nunca existiu e por isso foi escolhido, se entrega a essa cruzada demente; enquanto a escola obscurantista se dissolve nas trevas mais negras em 50 anos, onde está a oposição, o doutor Rui Rio, o educador David Justino? E a comunicação social e os comentadores-que-comentam tudo, as associações de pais, tão ativistas no destino dos filhos? E a voz da Igreja, que o povo espera? Estrondoso silêncio cúmplice!

A propósito: apenas um partido, o Chega, teve agora, nestes anos todos, a responsabilidade cívica e política de apresentar ao país um projeto de reforma da escola. Certamente discutível, mas com pés e cabeça. Coordenado por alguém que conhece a escola e a sofreu. E sobre ele… mais silêncio. Que a liberdade de expressão na comunicação social é só para uns.

4. Por tudo isto, escrevo eu agora a palavra que André Ventura tem gritado na Assembleia que devia ser da República: «Vergonha!».

* Interrompo por uma semana o meu exílio na China.