Afeganistão. Reino Unido admite que cidadãos terão que ficar para trás

Com o prazo a apertar para cessar funções no Afeganistão, governos começam a avaliar a possibilidade de abandonar cidadãos neste país.

Enquanto a comunidade internacional se apressa para retirar os seus cidadãos do Afeganistão antes do prazo estabelecido pelos talibãs para cessarem todas as operações neste país, estabelecido a 31 de agosto, começa a surgir a problemática questão: e se for preciso deixar pessoas para trás?

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, disse que não era claro quantas pessoas iriam permanecer no Afeganistão depois das tropas britânicas abandonarem este país na data estabelecida.

Raab acrescentou que este número iria depender da “janela” aberta em termos de timing e de quantas pessoas seriam ‘legalizadas’ nos próximos dias, referindo ainda que já foram retiradas do Afeganistão nove mil cidadãos britânicos e afegãos que trabalharam para as suas forças e estavam em perigo.

“Também vai depender de quantas pessoas querem voltar, existem casos bastante equilibrados”, disse Raab, que recusou especular quanto ao regresso das tropas britânicas para o Afeganistão no futuro.

A Espanha também já tinha abordado a hipótese de ter que deixar cidadãos para trás. “Cada dia que passa é pior, os talibãs sabem que o prazo está a acabar e as pessoas estão a acumular-se no aeroporto de Cabul. Há avalanches humanas e os talibãs estão também a tornar-se cada vez mais agressivos. Há tiroteios e uma situação de violência muito evidente”, disse a ministra da Defesa, Margarita Robles, à rádio Cadena Ser.

A ministra abordou a possibilidade de que algumas pessoas serão deixadas para trás, até porque há intérpretes que vivem em zonas como Herat, a três dias de carro de Cabul, e mesmo quem consegue aproximar-se do aeroporto da capital enfrenta uma situação “extremamente complicada” em termos de segurança.

Voos comerciais permitidos… mas não para todos Os talibãs garantiram, esta quarta-feira, que irão permitir a realização de voos comerciais após a data-limite de 31 de agosto para as retiradas em curso, insistindo que não será preciso estender o prazo das tropas no país para continuar o processo de retirada de pessoas do Afeganistão, garantiu o diretor-adjunto do gabinete político do movimento no Qatar, Abbas Stanikzai, após uma reunião com o embaixador alemão no Afeganistão, Markus Potzel.

“[Os talibãs] vão abrir caminho para o reinício dos voos civis. As pessoas com documentos legais podem viajar através de voos comerciais após 31 de agosto”, escreveu na rede social Twitter o porta-voz do gabinete político dos talibãs, Suhail Shaheen.

Esta revelação chega um dia depois dos talibãs terem anunciado a proibição de afegãos se deslocarem para o aeroporto de Cabul e instando que “afegãos qualificados”, como engenheiros ou médicos, permaneçam no país.

Durante uma conferência de imprensa, o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, pediu às multidões no aeroporto para regressarem a casa e deixou um recado aos soldados americanos: “Não encorajem os afegãos a partir… Precisamos do talento deles”.

Dominic Raab referiu que os talibãs não conseguirão impedir uma “fuga de cérebros”, disse à Radio Times. O ministro explicou que estes “terão que encontrar uma maneira de atrair outras fações, serem mais inclusivos e mais moderados em relação aos antigos talibãs [que governaram o país entre 1996 e 2011]”.