Costa e o (seu) país real

A oposição ficou a saber que escusa de inventar vírus ou armas biológicas naturais para gerar crises económicas e sociais, porque quem se mete com o PS, leva. E não é uma epidemiazita global que vai retirar Costa e sus muchachos do poder. Estão para ficar, uns mais do que outros, mas mais fortes do que nunca

No fim-de-semana passado, António Costa foi reeleito secretário-geral do PS. Quem subiu ao palco do congresso socialista foi, no entanto, o seu alter ego, o primeiro-ministro que “nem uma pandemia consegue derrubar”. A oposição ficou a saber que escusa de inventar vírus ou armas biológicas naturais para gerar crises económicas e sociais, porque quem se mete com o PS, leva. E não é uma epidemiazita global que vai retirar Costa e sus muchachos do poder. Estão para ficar, uns mais do que outros, mas mais fortes do que nunca.

Do púlpito a sul, Costa brindou o país com uma história de embalar. E teve oportunidade de replicar a mensagem em três entrevistas em direto, onde escolheu não responder a perguntas (o que faltará para os jornalistas perceberem como as coisas funcionam?) e guiar-se a teleponto. Colocou o filtro cor-de-rosa e, qual reels para o Instagram, eis que o chefe do executivo aproveitou os palcos partidário e mediático para, num reduto de imparcialidade, nos apresentar o seu Portugal. O verdadeiro, o único, o país real.

Aquele que só não vê quem não quer ou quem tem má vontade.Ou quem está desempregado, quem perdeu o rendimento e depende de moratórias para ter um balão de ar, quem não consegue dar resposta aos compromissos financeiros, quem não consegue reabrir o seu negócio nem pagar aos seus trabalhadores.

Quem não tem dinheiro para ter os filhos na escola ou não tem escola perto para oferecer aos filhos.

Quem está há anos à espera de uma consulta ou de uma cirurgia e ainda não recebeu data previsível de agendamento, ou quem ocupa camas de hospital porque não tem uma casa para regressar, nem uma família para lhe garantir os cuidados necessários. Quem não conseguiu reerguer-se da pandemia.

Quem ouve falar de medidas de prevenção contra incêndios e passa os verões com o coração nas mãos, a rezar para que, a cada novo ano, não lhe chegue o inferno à porta.

Quem aguarda apoios do Estado, quem espera retorno da justiça, quem quer ver julgado o pecador graúdo e acaba por se desacreditar a cada desfecho inquinado e miudinho.

Quem precisa da força da autoridade e ela lhe falha. Quem vê que a lei é de aplicação seletiva e que quem deve nunca paga.

Quem anseia por rumo no horizonte e só avista caminho para trás.

Fora estas pessoas, toda a gente consegue ver o “Portugal de António Costa”.

O país das oportunidades, das reconquistas, do PIB renascido e do crescimento económico que faz inveja aos estados congéneres e serve de exemplo à Europa. O do SNS forte e robusto, em que não há profissional de saúde que não anseie servir e trabalhar, capaz de dar conta de pelo menos mais três pandemias, sem filas de espera, com todos os tratamentos e rastreios em dia e onde cada pessoa tem um médico de família atribuído. O país da escola pública facilitada e pouco exigente, porque o que interessa é ter um país de doutores (a competência é um conceito relativo!) e os rankings fazem-se de graus, não de saber.

O país dos combustíveis acessíveis e do gás e da eletricidade barata. O dos impostos baixos e justos. O das reformas garantidas para qualquer geração futura.

O país em que cada idoso tem acesso a uma resposta social adequada e em que não existem lares ilegais porque não são precisos. Em que todos têm dinheiro para comer, sem ter de encurtar a lista dos medicamentos. O bom aluno de Bruxelas que vai ter, a breve trecho, um novo aeroporto para colocar a capital definitivamente no mapa. Na Ota, no Montijo ou em Alcochete. Não interessa. Na volta, ainda vai ter três.

O país das autoestradas e das vias rápidas, da parque escolar eficiente, dos comboios de alta velocidade e do material circulante a estrear, que faz obra pública sensata e necessária, à margem de derrapagens, sem olhar a inaugurações, ignorando mandatos e calendários eleitorais.

O país da descentralização e da coesão territorial, onde o interior é um lugar extraordinariamente desenvolvido em que qualquer cidadão ambiciona trabalhar e viver.

O país homogéneo, da justiça célere e isento da corrupção, onde quem prevarica é exemplarmente punido.

O país da tolerância, da liberdade de expressão, da igualdade.

Que País das Maravilhas é o nosso Portugal. Graças a Costa!

Ele promete não nos largar até 2023, nem que tenha de engraxar os sapatos a Jerónimo de Sousa e puxar o lustro às sandálias de Catarina Martins. Que não se iluda a direita (a extrema, a moderada e a assim-assim): estão formalmente em curso as negociações para a gerigonça 3.0.. Foi preciso esperar até 28 de agosto para podermos descansar com a confirmação de que Portugal vai continuar no Top5 dos países de sonho. Com ou sem covid.

“Os portugueses sabem”, remata Costa. Pois sabem. Ninguém saberá melhor do que os portugueses. Oxalá não se esqueçam na hora de ir às urnas.