Aumento dos combustíveis: pior era difícil

Como se percebe facilmente, esta medida de aumentar os impostos sobre os combustíveis fósseis depois da pandemia é digna dos seus autores ganharem um anti-Nobel. E, agora, usando a linguagem futebolística, não fazem outra coisa além de correrem atrás do prejuízo. 

Não sei se foram poucos os avisos de que depois das moratórias a crise começaria a notar-se ainda mais. Após a pandemia – é preciso não esquecer que durante meses milhões de pessoas ficaram em casa, acabando por perder os empregos devido à falência das empresas -, o Governo ainda juntou a esse flagelo o aumento dos combustíveis de uma forma inaceitável.

Calculo que nenhum governante queira ver piorar a vida dos seus cidadãos, mas a inabilidade e a incompetência tornaram-se evidentes com estes aumentos que poderão colocar em causa ainda mais postos de trabalho, e criar mais miséria.

Tanto assim é que o Executivo de António Costa, depois de duas ou três manifestações ruidosas mas com poucos manifestantes, anunciou que vai criar o IVAucher para os combustíveis, onde as pessoas poderão descontar 10 cêntimos por litro até 50 litros por mês, entre novembro e 31 de março, o que corresponderá a desconto de cinco euros/mês, desde que os postos de abastecimento adiram a tal iniciativa. Como sabemos, nos restaurantes foram muito poucos os que entraram em tal modalidade e os consumidores que beneficiaram da medida estiveram longos dias até serem ressarcidos.

E nem vale a pena falar do que anunciou o Governo francês, que determinou que em dezembro 36 milhões de franceses irão receber um vale de combustível no valor de 100 euros. Os contemplados serão trabalhadores dependentes e independentes, desempregados à procura de emprego e reformados que não aufiram mais de dois mil euros por mês.

Como se percebe facilmente, esta medida de aumentar os impostos sobre os combustíveis fósseis depois da pandemia é digna dos seus autores ganharem um anti-Nobel. E, agora, usando a linguagem futebolística, não fazem outra coisa além de correrem atrás do prejuízo. 

Mas a questão é estrutural e não conjuntural. Estando os Estados-membros da União Europeia determinados a taxar cada vez mais a gasolina e o gasóleo para que se aposte nas energias renováveis, o custo de vida vai aumentar brutalmente e os ordenados, pelo menos em Portugal, não vão acompanhar esse aumento. Como se irá resolver esta questão? Acabarão os líderes governamentais que encabeçam este novo fundamentalismo ambiental pagar com a derrota nas próximas eleições?

Pode ser que sim, mas para as populações isso é pouco importante. O que interessa é o nível de vida, seja com o fulano x ou y. E esta aposta na transição energética foi pensada com os pés ou então acreditaram que o povo é manso e não se importa de ficar cada vez mais pobre e miserável.

Tudo isto ao mesmo tempo que alguns milionários brincam com viagens ao espaço, que árabes gastam milhões de euros numa equipa de futebol ou que os mais ricos ficam mais ricos e os mais pobres ficam mais pobres com estes aumentos.

O mundo tem de mudar e não pode haver tantas disparidades, e não é defender que os ricos fiquem pobres. Bem pelo contrário, o mundo tem é de querer que os pobres deixem de ser pobres e que tenham vidas condignas, permitindo àqueles que investem que possam usufruir dos seus investimentos, mas que façam uma melhor distribuição da riqueza. 

P. S. – Esta história do Orçamento do Estado chega a ser patética. A esquerda força o Governo a tomar medidas que o PCP e o BE possam reivindicar para si, além do PAN e dos bichinhos, e a direita diz que será uma irresponsabilidade se o Orçamento não for aprovado. Ora, se a direita acha que é muito perigoso não haver Orçamento, então que se abstenha na votação deixando passar o documento e responsabilizando o PS no futuro. Isto se acha que o PRR e o Portugal 2030 ficam em causa…

vitor.rainho@sol.pt