Penafidelenses lamentam não terem sido eles a encontrar os 400 mil euros

Ouvidos relatos sobre os misteriosos 400 mil euros encontrados na vila, os populares só comungam na cor do carro e no azar de não terem sido eles a achar o dinheiro

A versão oficial parece clara e sólida: enquanto uma obra de requalificação era levada a cabo numa rua em Rio de Moinhos, um homem – que se apresentou como emigrante – deslocou-se a um muro específico e vasculhou-o, sem sucesso. Interpelado pelos trabalhadores da dita obra, acabou por abandonar o local de mãos vazias. Face ao sucedido, os trabalhadores terão alertado a GNR, que inspecionou o local e se deparou com um cenário insólito: cinco cofres posicionados ao longo do muro. No seu interior havia nada menos do que 400 mil euros em notas. 

O que dizem os populares? Se a versão oficial parece cristalina, já as histórias ‘tresditas’ nos cafés e tascas da vila serpenteiam entre argumentos e hipóteses.

A teoria mais consensual entre os populares de Rio de Moinhos é a de que o dinheiro é oriundo de tráfico de droga, “muito comum naquela zona e um caos em Penafiel”. Outra fonte local, ouvida pelo i, além da teoria do tráfico de droga, sugere também que o dinheiro possa vir do “pagamento de diamantes” – o que vem mesmo ‘a calhar’ no âmbito do recente escândalo das Forças Armadas. Para este proprietário de uma loja de decoração na vila, o valor “é tão grande que tem de ser um negócio bem construído”. E, considerando que esta zona “tem muitos militares” e fica perto de Gondomar – “onde há compra e venda de joias” -, aquele dinheiro poderá mesmo vir do negócio de “pedras preciosas”. Por fim, uma terceira versão, de outra fonte, dá conta de que “a neta do proprietário daqueles muros – o falecido Zé Alves – está metida em vários esquemas”.

São estas a três principais teses defendidas pelos locais de Rio de Moinhos, todas elas prontamente arrasadas pela autoridade de segurança pública. Ao i, o major Francisco Martins – relações Públicas do Comando Territorial do Porto – considerou que todas estas teorias não passam de “especulações”, considerando as alegações de tráfico de droga especialmente “precipitadas” e a eventual ramificação com o caso da Miríade uma “invenção”. “Não faz sentido nem um nem outro porque não existe qualquer indício disso”, declara ao i o major.

O mistério do carro cinzento As versões da história contadas pelos populares variam – tal qual como se espera quando uma ‘bomba’ destas rebenta numa vila pequena. Uns, levados pelo charme do mistério, fizeram segredo, lançando máximas socráticas como “Só sei que nada sei”. Outros desmentiram a versão oficial veiculada pelos órgãos de comunicação social: “Nos jornais falam em cinco cofres, mas eu sei que estavam em cinco sacos de plásticos. E fala-se em 400 mil euros, mas eu ouvi falar de 410!”. O dinheiro, esse, “estava todo em bom estado” e organizado em “macinhos de 5 mil euros”, razão pela qual deve ter sido lá posto “há pouco tempo” (um relato, aliás, dado por mais do que uma pessoa).

A história popular também parece trazer algumas nuances e colorido ao cinzentismo da versão oficial. Ficamos a saber, por exemplo, que quem estava a fazer as tais obras eram uns “senhores que estavam a mudar quadros de alta tensão”, tendo sido estes a avisar a GNR. Tudo isto terá acontecido na passada sexta-feira, mas só ontem chegou à imprensa. Os relatos descrevem o homem que foi vasculhar o muro: “russo, alto, louro e de olhos azuis”. Conduzia uma “Seat cinzenta”, que alguns dizem ser uma “Opel” e outros uma “Ford”. A cor do automóvel é dos poucos dados que reúnem consenso. O outro é cada um dos populares lamentar não lhe ter calhado em sorte ser ele a encontrar os 400 mil euros.