Tudo sobre rodas

Costa não vai entrar em campo a pensar no empate, como Fernando Santos com a Sérvia – para mal de todos os pecados da Seleção nacional de futebol – ou como os espanhóis no minuto final do sensacional jogo de hóquei em patins de anteontem. Mesmo sem grandes estrelas, o líder do PS vai fazer…

Foi um antigo árbitro do futebol português, Vítor Correia, quem, um dia na televisão, tornou célebre a expressão «Desde que vi um porco a andar de bicicleta já nada me surpreende».

Se Vítor Correia fosse vivo e tivesse visto o jogo Portugal-Espanha de quinta-feira à noite, bem poderia voltar a repeti-la. Portugal – que esteve uma única vez em vantagem na partida, e por dois golos, até 50 segundos do final da primeira parte e se deixou empatar 4-4 antes de recolher aos balneários para o período de intervalo – só podia continuar a sonhar com a presença na final do Campeonato da Europa disputado em Paredes caso vencesse a partida contra Espanha. Ora, a dois minutos e 20 segundos do fim do encontro, a Seleção nacional perdia por dois golos (9-7) e o pavilhão multiusos de Paredes, apesar de lotado, estava num silêncio quase sepulcral. Que só foi interrompido quando faltavam dois minutos e 19 segundos para jogar e Gonçalo Alves disparou antes da linha de meio campo reduzindo, com um golaço, a desvantagem dos portugueses para a diferença mínima. Com o relógio a passar – faltavam apenas 50 segundos para o fim e Portugal precisava de dois golos -, só um milagre como o que valera à Espanha o empate nos últimos 50 segundos da primeira parte poderia manter as esperanças da equipa das Quinas. E não é que, a 49 segundos do fim, uma bola cruzada da lateral bate no patim do capitão Bargallo e entra na baliza espanhola, repondo a igualdade e renovando as já ténues esperanças dos portugueses? Porque o empate continuava a favorecer a Espanha e deixava Portugal praticamente fora da luta pelo título, os espanhóis passaram a jogar com o tempo, trocando a bola à espera do gongo final. Mas Espanha perde a bola a 17 segundos do fim, Paulo Alves cruza a linha de meio campo, serve Rafa já na área e, quando ainda o relator incentivava Portugal «a acreditar», já a esfera fazia balançar as redes de uma das balizas pela última vez: era o 10-9, Portugal conseguia a remontada e mantinha em aberto a presença na final, faltando apenas defrontar Andorra, enquanto os espanhóis teriam de medir forças com a França. Faltavam 14 segundos e sete décimos para o final. Os espanhóis já não tiveram alento para tentar o que quer que fosse.

Portugal não desistiu de lutar pela qualificação, depois de ter baqueado frente à França e de ter complicado ainda mais as contas com o empate conquistado com um penálti frente à Itália.

O jogo com Espanha foi extraordinário – a fazer lembrar os tempos (finais dos anos 70 do século passado), em que a ‘equipa maravilha’ do Sporting era o esteio da Seleção, com Ramalhete, Sobrinho, Chana, Rendeiro e Livramento, e a Espanha do Barcelona do lendário guarda-redes e capitão catalão Carles Trullols. Mas, desta vez, sem grandes estrelas.

Quase inacreditável, sim, mas desde que Vítor Correia viu um porco a andar de bicicleta…

Não sei se António Costa algum dia viu um porco a andar de bicicleta, mas sei que foi ele quem escolheu o tempo de ir a jogo agora em 2022.

E Costa não vai entrar em campo a pensar no empate, como Fernando Santos com a Sérvia – para mal de todos os pecados da Seleção nacional de futebol – ou como os espanhóis no minuto final do sensacional jogo de hóquei em patins de anteontem.

Mesmo sem grandes estrelas, o líder do PS vai fazer tudo para tentar chegar à maioria absoluta que não conseguiu há dois anos. 

O ensaio das autárquicas não correu bem. Antes pelo contrário.

E aprendeu com ele: não desperdiçou meios – evitou mesmo a indispensável remodelação do Governo – e corrigiu a estratégia, recentrando o PS.

Ao contrário das últimas legislativas, qualquer voto à esquerda do PS, agora, será um voto perdido. E, para todos os efeitos, PCP e BE é que forçaram a ida às urnas com o chumbo do Orçamento para 2022 – que até era o mais à esquerda de todos os da ‘geringonça’.

Por isso, a maioria de esquerda será tão mais reforçada quanto maior for a capacidade de Costa para federar as famílias socialistas e penetrar ao centro – ou seja, precisamente junto daqueles que mais andou a sacrificar nos seus dois Governos.

Ora, Costa já está a fazer tudo isso.

E, à direita, o PSD continua demasiado desorientado. Seja, aliás, quem for o líder eleito no próximo sábado, restará sempre saber que capacidade terá – Rio ou Rangel – para federar a direita e conquistar o decisivo ‘centrão deslizante’ que decide quem ganha as legislativas.

Como diria Vítor Correia, já nada nos deverá surpreender. E até ao apito final tudo ainda é possível.

Enfim, viva mas é Portugal!