Mutualista. Conheça as propostas dos quatro concorrentes

Novo mandato, quatro listas a concorrerem para a liderança da Associação Mutualista Montepio Geral. Conheça os protagonistas – Virgílio Lima, Pedro Corte Real, Eugénio Rosa e Pedro Gouveia Alves – e o rumo que pretendem dar à associação. A opinião é unânime: é preciso recuperar o valor dos ativos, captar poupanças e número de associados.

Virgílio Lima
Afasta a venda do banco que é visto como “um ativo estratégico”

O atual administrador da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) – assumiu o cargo nos últimos 22 meses, após a saída de Tomás Correia – entra na corrida a liderar a lista A, ou seja, a de continuidade. Em entrevista ao Nascer do SOL, garantiu que tem sido uma missão difícil, não só pela pandemia, mas também devido ao quadro de instabilidade que se vivia internamente, que se refletia externamente. A par disso, teve a seu cargo a necessidade de dar cumprimento ao código das associações mutualistas com a preparação de uma Assembleia de Representantes, assim como aprovar os estatutos que não estavam registados e preparar o regulamento eleitoral.

Ainda assim, chamou a atenção para os resultados que começam a aparecer – apesar da Associação Mutualista continuar a apresentar prejuízos – as poupanças dos associados cresceram em termos líquidos: 70 milhões no ano de 2020 e, este ano, até outubro atingiu os 100 milhões de euros. “Também crescemos em número de associados: no último trimestre do ano passado começámos a ter um crescimento significativo e que se manteve este ano, em que já somos 602 800”. 

Uma das palavras de ordem passa por inverter o resultados do banco, no entanto, justifica as perdas da instituição financeira com alguns custos de ajustamento decorrentes do encerramento de alguns balcões. Mas deixou uma garantia: não está previsto o encerramento de mais balcões. 

E vê este ativo como estratégico, afastando a hipótese da sua alienação. “Temos vivido sempre juntos e há uma relação profunda entre as duas entidades: sem prejuízo de autonomia que é necessária, mas com proximidade e com articulação que é precisa. Neste sentido, o banco é absolutamente estratégico e fundamental para a associação. Não está à venda. Temos que ser sempre a entidade titular”, afirmou na mesma entrevista. E num cenário de abrir o capital da instituição financeira será sempre numa posição de minoria mas, até lá, é preciso apostar na recuperação das imparidades que entretanto foram constituídas. “O aumento do capital tem sido suportado pelas poupanças dos associados. Qualquer parceria implicaria que a recuperação dessas imparidades fosse partilhada por uma entidade da economia social que estivesse connosco”.

Pedro Corte Real
Parceiro do Montepio “pode ser ou não da economia social”

Pedro Corte Real, candidato da lista B, garante que é a única lista diferenciadora face aos seus concorrentes. E explica porquê: “Para os associados é completamente indiferente votar na lista A ou na lista D”. O que sobra? A sua lista onde, de acordo com o candidato, “houve uma preocupação em apresentar “currículos competentes, idóneos, credíveis, totalmente independentes e completamente capazes de agir com total independência”. Já a lista C, no seu entender, assenta numa lógica partidária, revelou em entrevista ao Nascer do SOL. 

O responsável garante que é necessário dar um novo rumo à Mutualista, chamando a atenção para o facto do Banco Montepio pesar demasiado no ativo da casa mãe. Uma situação que representa uma “total violação da lei ao concentrar 86% do seu balanço num único ativo que é o banco, quando por lei o máximo que poderia ter era 10%”. Uma situação que foi possível por, até à data, o supervisor continuar de “olhos fechados” para esse problema. E não hesita em apontar o dedo: “Quando olhamos para os últimos três anos e para perceber o que foi esta gestão bicéfala Tomás Correia e Virgílio Lima vê-se que perdemos 14344 associados”. A agravar ainda mais esta situação está o facto de ter passado de 599 milhões negativos, em 2019, para 794 milhões negativos, em 2020, ou seja, mais de 62% dos capitais próprios foram perdidos.

Uma das soluções para o Banco Montepio é abrir o capital a um investidor, mas ao contrário dos outros candidatos, não admite exclusividade a um parceiro da economia social. “Com a informação que temos só vai ser possível recuperar a instituição e reconstruir o Montepio com todo o tipo de ajudas”, acrescentando que “se for um parceiro de economia social é perfeito, há um alinhamento muito mais imediato, mas não tem que ser”. 

Pedro Corte Real não afasta a ideia de avançar com uma auditoria forense caso ganhe as eleições. “Se chegarmos à conclusão que há um conjunto de situações que merecem outro estilo de atenção não fechamos a porta a uma auditoria forense”, disse ao nosso jornal.

Eugénio Rosa
Recentrar a Associação Mutualista “na sua missão” é prioritário

Para Eugénio Rosa, candidato da lista C, uma das prioridades do candidato é fazer um verdadeiro raio-x à situação financeira do grupo. “O que tem acontecido nos últimos anos é que as empresas não servem a Associação e usam a Associação Mutualista para se recapitalizar. Por exemplo, o Banco Montepio há 14 anos que não transfere qualquer dividendo para a Associação, o que é uma situação quase insustentável”, afirmou em entrevista ao Nascer do SOL. 

E para dar a volta a esta situação, Eugénio Rosa defende que é necessário recentrar a Associação Mutualista na sua missão, cumprindo os seus estatutos e desenvolvendo ações de proteção social, nomeadamente na área da Segurança Social. Também a saúde, no seu entender, não pode ficar esquecida. O mesmo deverá acontecer na habitação. “A ideia é dividir a vida dos associados por ciclos de vida porque há necessidades diferentes. Quando se está no princípio da vida ativa um dos grandes problemas que existe é o da habitação, já no fim da vida, em principio, já não existe esse problema”, disse ao SOL. 

O candidato da lista C afasta a ideia de vender o banco, mas defende que o Estado deveria entrar como garantia, mas sem ser em dinheiro. A ideia, de acordo com o responsável, é simples: “O Estado devia entrar como garantia porque o banco quando foi ao mercado para emitir dívida subordinada ofereceu uma taxa de 9 e 10% e não conseguiu obter compradores, de tal maneira, que nas últimas emissões de dívida subordinada foi a Associação Mutualista que teve de adquirir. Não é possível ir ao mercado obter dinheiro para fazer pagamentos a estas taxas”. E os problemas não ficam por aqui. “O banco está registado nas contas da Associação Mutualista por 1500 milhões de euros, mas em valor de mercado vale menos. Agora é preciso tempo para recuperar parte do que foi destruído”, acrescenta. 

Eugénio Rosa quer ainda reduzir os salários da administração. “Queremos avançar com um conjunto de medidas que podem não ter um peso financeiro grande, mas têm um valor simbólico importante”. Para já, não quis avançar com um valor, mas chegou a propor reduzir, pelo menos, para metade.

Pedro Gouveia Alves
Acabar com a “aventura da continuidade e da contínua desvalorização”

Pedro Gouveia Alves, candidato da lista D, em entrevista ao Nascer do SOL, não hesita ao garantir que é necessário apostar num novo ciclo de regeneração e dar maior peso à economia social. “Temos de acabar com a aventura da continuidade e da contínua desvalorização dos ativos da Associação Mutualista. Os associados têm que ponderar muito bem nestas eleições, escolher entre aquilo que é o passado e aquilo que é o futuro. E o futuro da Associação Mutualista é um futuro de valorização. Não é um futuro de contínua prova de desvalorização dos nossos ativos. Temos de acabar com essa aventura da continuidade”. Para provar este cenário deu números: “Em quatro anos houve um decréscimo de capitais próprios na Associação Mutualista de 83%”, culpando a atual administração por esta realidade.

Uma situação que tem de se inverter, já que entende que as gerações mais novas esperam de entidades da economia social e, nomeadamente do mutualismo, uma participação mais ativa na melhoria da qualidade de vida das pessoas. 

Para o candidato da lista D, o futuro do Banco Montepio não passa por abrir o seu capital a entidades que não tenham natureza da economia social. No entanto, reconhece que para atrair eventuais investidores nesta área será necessário apresentar “uma verdadeira e concreta proposta de valor para estes novos investidores da economia social”, mas admitiu que essa poderá ser uma tarefa difícil. “Na situação em que o banco está, assim como os outros ativos da associação mutualista,  de desvalorização, naturalmente é difícil apresentar uma proposta de valor que capte investidores da área social”. E para ultrapassar essa situação defende que é necessário voltar a retomar uma rentabilidade de capitais próprios adequada. “Até lá, o que temos de fazer é trabalhar muito na estabilização destes valores e que será feita através de rigor na gestão. Desde logo na conceção de planos de negócio”, avançou ao SOL.

E lamenta que, nos últimos anos, se esteja a assistir a um consumo muito significativo de capital por parte de todas as participadas da Associação Mutualista.