Covid-19. Há centros de vacinação a fechar oito e nove dias no Natal e Ano Novo

Vacinação vai abrandar até ao final do ano. Centros receberam orientações para fechar no Natal e Ano Novo mas não está a ser seguida uma regra única: há locais a fechar oito e nove dias e outros a parar menos. Escalas para janeiro preocupam responsáveis.

O ritmo da vacinação da covid-19 vai abrandar esta semana e na próxima, com os centros de vacinação a interromper a atividade no Natal e no Ano Novo. No fim de semana, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde disse em Gondomar que os centros de saúde estariam fechados nos próximos fins de semana, mas há locais a fechar oito e nove dias, apurou o i. A orientação para dar descanso aos profissionais, a razão também apontada por António Lacerda Sales, foi emanada na semana passada aos responsáveis pelos centros de vacinação pela equipa do coronel Penha Gonçalves, responsável pela logística da vacinação agora integrada no Ministério da Saúde com a extinção da task-force. Mas parece não haver uma regra: há centros de vacinação que vão parar a 24, 25 e 26 e outros a iniciar a interrupção a 23, com mais quatro dias fechados na próxima semana, como o centro de vacinação de Cascais. E, no Monte Abraão, foi ontem comunicado à população que o centro de vacinação estará fechado no Natal quatro dias e no Ano Novo cinco.

Questionados pelo i, a Direção Geral da Saúde e o Ministério da Saúde não esclareceram qual foi a orientação ao certo e qual será o impacto no reforço da vacinação, cujo agendamento está agora disponível para maiores de 60 anos, aguardando-se a abertura para maiores de 50 anos também já anunciada. Na semana passada, por exemplo, foram administradas diariamente mais de 50 mil doses de reforço da vacina da covid-19, com o fim de semana alocado ao início da vacinação de crianças, que superou as marcações, com mais de 96 mil crianças vacinadas. Atualmente há 2,3 milhões de portugueses com a dose de reforço, com maior cobertura na população com mais de 70 e 80 anos, mas para o reforço chegar a todos os que têm mais de 50 anos será preciso serem administradas cerca de 4,5 milhões de terceiras doses, com esse caminho ainda a meio.

Fonte ligada à organização da vacinação nos agrupamentos de centros de saúde da região de Lisboa explica ao i que os profissionais de saúde estão “de rastos” e que mesmo que se mantivessem os centros de vacinação a funcionar no período festivo, seria difícil garantir escalas, o que agora é uma das preocupações para as próximas semanas, diante do cenário de agravamento da situação epidemiológica. Por um lado, devido à maior pressão sobre os serviços de saúde, nomeadamente sobre os médicos de família que fazem o trace-covid – acompanhamento de doentes ligeiros com covid-19 no domicílio por via telefónica – e também são destacados para os centros de saúde, bem como sobre as equipas dos hospitais. Por outro, pelo risco de maior absentismo, fruto do aumento das infeções e isolamentos, que já são superiores ao que eram há um ano nesta mesma altura.

Pressão sobre cuidados primários aumenta Ao i, Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, diz que situações locais de maior escassez de profissionais ou folgas poderão estar a levar a interrupções mais prolongadas nuns centros de vacinação do que noutros, o que lamenta, e alerta que o problema de fundo se mantém e volta a ter um maior impacto na capacidade de resposta dos cuidados primários a todos os utentes. “Como não se contrataram médicos especificamente para as áreas dedicadas às vacinas, para as áreas dedicadas ao atendimento de doenças respiratórias e ao trace-covid, significa que por exemplo no trace-covid, com quase 80 mil infetados como temos agora, se dividirmos pelos 10 minutos que são necessários em cada chamada, temos 15 mil horas, o que a dividir pelas 40 horas de trabalho semanal dos médicos, implica que estamos a falar de quase 400 médicos só a fazer trace-covid. Além disso temos cerca de mil médicos de família escalados para as áreas de atendimento a doentes respiratórios, quando não são os mesmos, o que retira tempo aos médicos de família”, sublinha.

Este domingo, segundo os dados reportados ontem pela DGS, havia 73 700 casos de covid-19 ativos no país, o que compara com 70 754 há um ano. Além dos doentes infetados, somam-se 100 955 contactos de alto risco em isolamento e em vigilância pelas autoridades, quando há um ano eram 82 591. Nos hospitais havia ontem 943 doentes internados com covid-19, um terço do que há um ano, quando o Natal foi vivido sem vacinas. Eram então 3027. Havia na altura 482 doentes em cuidados intensivos e são atualmente 152, com a rápida disseminação da Omicron a suscitar preocupação por poder levar a um aumento da pressão nos hospitais que afete a capacidade de resposta a todos os doentes e maior risco de doença para quem não tem reforço da vacina ou não está vacinado.