O braço-de-ferro do mundo do futebol com a covid-19

O futebol inglês é imprevisível por natureza, onde, muitas vezes, os jogos ficam resolvidos apenas no último segundo da partida. Agora, para acrescentar a essa imprevisibilidade, a pandemia da covid-19 tornou a própria realização dos jogos numa incógnita. Nas últimas semanas de 2021, o novo coronavírus (e algumas lesões) levou ao adiamento de 16 partidas,…

Um pouco por todo o mundo, a pandemia da covid-19 faz estragos nas principais ligas europeias. Em França, por exemplo, contam-se, pelo menos, cinco jogadores infetados no plantel do Paris Saint-Germain. Danilo Pereira foi o mais recente a testar positivo ao novo coronavírus, juntando-se a uma lista onde estão Lionel Messi, Juan Bernat, Sergio Rico e Nathan Bitumazala.

Mas é em Inglaterra, principalmente, que o novo coronavírus tem dado mais dores de cabeça, tornando-se num novo fator de imprevisibilidade numa liga já por si bastante imprevisível.

Quando se está a ver uma partida da Premier League, não se pode assumir que o resultado que o marcador mostra aos 89 minutos manter-se-á igual até ao apito final. A imprevisibilidade é um fator indissociável do futebol inglês, e agora junta-se a ela um novo elemento: a própria realização dos jogos deixou de ser uma certeza, principalmente depois do que aconteceu nas últimas semanas de 2021. Afinal de contas, devido aos variados surtos de covid-19 nas diferentes equipas inglesas, só na Premier League, 16 confrontos acabaram adiados, só no mês de dezembro, e mais dois nos poucos dias de janeiro que já se passaram.

A pandemia da covid-19 em Inglaterra não mostra sinais de abrandar, e poderá levar a mais adiamentos, numa altura em que apenas 77% dos jogadores da Premier League estão vacinados (com duas doses) contra a covid-19, e em que o número de infeções está a bater recordes. Afinal de contas, por exemplo, e tomando em conta que a liga inglesa faz rondas de testes semanais, nota-se claramente um aumento significativo no número de casos positivos por semana: entre 20 e 26 de dezembro, a Premier League realizou 15.186 testes aos jogadores e staff das equipas, e registou 103 casos positivos, o maior número de sempre nestas testagens de rotina, que começaram em agosto deste ano. Isto depois de, já na semana de 13 a 19 de dezembro, após a realização de 12.345 testes, terem sido revelados 90 casos positivos, na altura o número mais alto de sempre. Significa isto que, em duas semanas consecutivas, o número de casos positivos detetados na liga inglesa bateu os recordes desde o início da testagem regular. É preciso, no entanto, relembrar que o número de testes realizados também aumentou exponencialmente (desde agosto até 12 de dezembro, a média semanal estava entre 2 e 3 mil testes por semana). Assim, refletiu-se uma diminuição na taxa de positividade. Entre 6 e 12 de dezembro, situava-se nos 1,1%, ao passo que, entre 20 e 26 de dezembro, o valor desceu para os 0,7%.

Boxing Day atribulado A pandemia da covid-19 faz soar alarmes em cada canto nas terras de Sua Majestade, onde o número de novos casos diários ultrapassa os 130 mil, à boleia da variante Ómicron que tem ecoado no mundo, numa altura em que todos os esforços do Executivo britânico estão dedicados a garantir que a população toma a chamada ‘booster jab’, ou seja, a terceira dose da vacina contra a covid-19.

Apesar da difícil situação pandémica, os ingleses decidiram dar continuidade à tradicional jornada de Natal no boxing day (26 de dezembro). A intenção foi boa, e o objetivo seria evitar as dores de cabeça trazidas por eventuais mudanças de calendário, mas a realidade é que o vírus não se deixou adormecer nesse dia, e obrigou, logo na quinta-feira anterior (dia 23), ao adiamento dos primeiros dois jogos do boxing day: o Liverpool-Leeds e o Wolverhampton-Watford. Estava posta em causa a série de jogos previstos para o dia, e a suposta ‘resiliência’ do futebol inglês contra as medidas restritivas trazidas pelo combate à pandemia da covid-19.

Depois destes dois adiamentos, instalou-se o clima de incerteza, e os adeptos não tiveram outra opção se não manter-se alerta para tentar perceber se o duelo da sua equipa favorita se iria realizar ou não. No fim das contas, às duas partidas inicialmente adiadas, acabou por se juntar o duelo entre o Burnley e o Everton, mas os restantes confrontos não tiveram o mesmo desfecho, e puderam ser realizados. O Man. City bateu o Leicester por 6-3, o Arsenal goleou o Norwich City por 5-0, e a sombra obscura dos adiamentos parecia prestes a ser varrida para baixo do tapete…

Mas eis que chegou a pandemia, em força, sem dar tréguas. E os nomes começaram a surgir, nos dias seguintes ao boxing day. Cédric Soares, o internacional português do Arsenal, testou positivo ao novo coronavírus, e a ele juntou-se o técnico do Aston Villa, Steven Gerrard, equipa que tinha já visto o seu confronto com o Burnley (no dia 18 de dezembro) ser adiado devido a um surto de casos no plantel, e que acabou por ter de pospor, também, o jogo com o Leeds United, que deveria ter acontecido nesta terça-feira.

A lista é interminável, e, uma atrás da outra, as partidas foram sendo adiadas. O Wolverhampton de Bruno Lage fez um pedido de adiamento do duelo que tinha marcado com o Arsenal, também na terça-feira, devido a “uma combinação de resultados positivos do teste Covid-19 e lesões”, transformando-se no 15.º adiado nesta temporada, e, pouco depois, o número foi elevado a 16, quando o Everton-Newcastle, que deveria ter acontecido no dia 30 de dezembro, foi também adiado.

Vacinação? A Serie A de Itália, e a Ligue 1 francesa, tornaram a vacinação contra a covid-19 obrigatória para os seus jogadores, e a medida pode ser copiada em Inglaterra, já que alguns dedos críticos apontam a culpa destes surtos à fraca eficácia do plano de vacinação entre os jogadores da Premier League. Segundo dados citados pelo diário britânico Daily Mail, 16% dos jogadores da principal liga inglesa de futebol estão ainda por receber qualquer dose da vacina contra a covid-19, e a liga – citando o diário – está “a usar uma cenoura, e não um pau, para persuadir os jogadores a vacinar-se”. Refere-se o diário aos esforços da liga inglesa por ‘premiar’ os seus jogadores que se vacinaram contra a covid-19 – com três doses – e, ao mesmo tempo, procurar incentivar os mais ’céticos’ a tomar a vacina.

Entre as ‘recompensas’, por exemplo, estudou-se a possibilidade de aumentar o limite de 15 minutos imposto nas reuniões dos clubes nos centros de treino, caso todos os envolvidos se encontrem vacinados contra a covid-19 (com três doses). Por outro lado, na lista de possíveis ’castigos’ está a imposição de uma distância social entre os jogadores nos jantares pós-treino, caso estes não se encontrem vacinados com as três doses da vacina. Mais, segundo avança o diário, alguns clubes chegaram mesmo a sugerir que os jogadores não-vacinados viajem em autocarros separados.

Um pouco por toda a parte A realidade, no entanto, é que não é só na Premier League que a covid-19 tem fustigado os plantéis em terras de Sua Majestade. Nas divisões secundárias, o novo coronavírus obrigou também a vários adiamentos de jogos, que dão sérias dores de cabeça aos diferentes plantéis, obrigados a encontrar soluções para disputar as partidas agora adiadas.

Só no boxing day, por exemplo, quando a Premier League adiou três jogos, o EFL Championship (segunda divisão) viu oito jogos serem adiados, ao mesmo tempo que, na League One e League Two, divisões inferiores, foram adiados mais 16 jogos.