À beira do burnout estou eu

No setor dos jornais, o papel duplicou em relação ao que era precisamente há um ano, sofrendo um agravamento de mais de 50% de 31 de dezembro para 1 de janeiro

Escrevi aqui na semana passada que António Costa está cansado, triste, sem energia, sem nervo, sem vontade, com evidentes sinais de frustração, crispação e até irritação. Enfim, está farto. Ou, como diria Marta Temido, à beira do burnout.

Reli-me no sábado, pela manhã, na esplanada do café da vila, ao lado da papelaria onde comprei o meu jornal, e pensei: eu é que estou muito bem enganado.

Com o novo ano, os preços dispararam.

No setor dos jornais, o papel duplicou em relação ao que era precisamente há um ano, sofrendo um agravamento de mais de 50% de 31 de dezembro para 1 de janeiro: as vendas online explodiram com a pandemia e o empacotamento passou a absorver a matéria prima (pasta de papel).

Mas essa não foi a única notícia ameaçadora para a sobrevivência da imprensa dita escrita e para os jornais que assentam exclusivamente em projetos sem interesses outros que não contribuir para a informação dos seus leitores, para o pluralismo de opinião e para uma sociedade democrática, livre e crítica, que escrutina o poder (os diferentes poderes), a começar pelos que o exercem em nome da res publica, eleitos ou nomeados.

Em dezembro de 2021, a única distribuidora de jornais em Portugal informou-nos também que, em 2022, passaria a fazer-se cobrar por um conjunto de serviços (absolutamente vitais para quem vive das vendas em banca)  que já estavam incluídos no desconto retido ao preço de capa – ou seja, um percentual sobre cada exemplar vendido – fazendo com que os editores fiquem na condição em que estão os produtores de batatas, legumes ou salsichas em relação às grandes superfícies. Com a agravante de, no caso dos jornais, não haver qualquer alternativa.

E, a três dias do final do ano, a gráfica onde os jornais Nascer do SOL e i são impressos há mais de 10 anos veio igualmente informar um agravamento de preços na ordem dos… 400%! 

Mas não fomos nós quem fez aquela manchete de 6 de dezembro a alertar os leitores para o facto de os preços estarem a disparar? 

Quem sabe se tivéssemos assobiado para o lado como outros…

Como se não bastasse, e apesar da empresa detentora do Nascer do SOL e do i não ter recorrido nem ter beneficiado de nenhum apoio estatal nestes já dois anos de pandemia – sem ter despedido um único trabalhador e sem ter feito uso do layoff nem usufruído de qualquer isenção, mesmo tendo criado novos postos de trabalho (incluindo mais de uma dezena de primeiros empregos para jovens jornalistas) -, o Estado não deixou de ser zeloso e rápido cobrador de coimas e de juros, apertando o nó a quem o já tinha na garganta e agilizando inquéritos crime contra o seu administrador, proprietário e escravo, pelas falhas de tesouraria que não permitiram o cumprimento atempado das obrigações legais, não obstante o óbvio enorme sacrifício para manter tudo em dia desde que, há mais de um ano, fechou acordo de regularização de todas as dívidas.

Porém, o Estado não desarma. E vá de aplicar mais coimas ainda.

E, porém, resistimos.

Até quando? Essa é a dúvida. 

Note-se que, enquanto isso, outros com dívidas ao Estado bem mais significativas, mas que não tiveram pejo em recorrer a malabarismos financeiros para ultrapassar barreiras legais, não só beneficiaram de centenas de milhares de euros de apoios do Estado como puderam ainda recorrer a layoffs sucessivos e às consequentes isenções, se é que não beneficiaram também de linhas de crédito e outras benesses.

Voltamos ao mesmo. Quem sabe e pode foge aos impostos e às suas responsabilidades – recorrendo aos instrumentos e engenharias que critica nos outros -, os tais contribuintes que tudo podem mas que pouco ou nada pagam de impostos e que nada têm em nome próprio além de uma moto de água, uma garagem ou uma sociedade unipessoal com um capital social ridículo, e o Estado ainda os compensa e recompensa.

Infelizmente, parece ser assim praticamente em tudo neste país cada vez mais injusto, em que se safam (ou acabam absolvidos) os espertos que se fazem de burros e os ricos ou enriquecidos que conseguem fazer-se passar por indigentes. E os casos sucedem-se, de banqueiros a políticos, passando por generais e outras tão destacadas personalidades. 

Os outros, fiéis à Lei e aos princípios da Ética e da Moral, tramam-se.

Por isso, não é fácil resistir.

Por isso, não é António Costa quem está à beira do burnout. – qual quê?

Basta vê-lo de bela samarra a apelar ao voto que lhe dê uma maioria com o PAN (que nada diz da pele de raposa que o senhor primeiro-ministro traz ao pescoço).

Ou a meter-se na toca, ele e a sua ministra da Saúde e a senhora diretora-geral, quando uma criança vacinada contra a covid morre internada no Santa Maria sem que a causa da sua morte esteja apurada e tenha de admitir-se que possa ter sido por reação adversa àquela vacina.

António Costa, Marta Temido e Graça Freitas são os primeiros responsáveis políticos pela gigantesca campanha de apelo à vacinação das crianças.

Basta um caso de dúvida sobre a morte de uma para não poderem ficar quedos e mudos, como se nada fosse com eles.

Têm de dar explicações, sim. Trata-se da morte de uma criança. Basta uma!!! É uma tragédia!

Eles e o Estado têm de dizer ao país (e aos pais) se deve(m) ou não continuar a vacinar as suas crianças. 

Não podem, cobardemente, fugir com o rabo à seringa.

Este Estado em que se desresponsabiliza quem tem poder ou pode e se responsabiliza só quem é contrapoder e não pode tem de acabar.

Antes que aqueles que ousam resistir entrem em burnout. Ou sejam asfixiados de vez.

E se muitos já estiveram mais longe.