Centenas de crianças usadas como escudo humano pelo Daesh

A tentativa de libertar 3500 suspeitos jiadistas detidos pelos curdos em Gwayran acabou com combatentes do Estado Islâmico barricados na prisão.

O Estado Islâmico lançou o maior ataque desde a queda do seu califado, tomando de assalto a prisão de Ghwayran, na cidade síria de Hasakeh, tentando libertar os 3500 suspeitos jiadistas aí detidos pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coligação encabeçada pelas forças curdas. Após quatro dias de duros confrontos, rua a rua, casa a casa, tentando impedir os combatentes do Estado Islâmico de furarem o cerco, estes barricaram-se em Ghwayran, na segunda-feira, usando como escudo humano as quase 850 crianças que viviam no complexo, denunciaram as FDS, que já sofreram pelo menos 45 baixas e preparam as suas forças especiais para recuperar a prisão.

Não há grande esperança que seja possível negociar com os jiadistas de maneira a evitar um massacre. “Estas crianças estão efetivamente encurraladas na prisão de Ghwayran”, alertou Sara Kayyali, investigadora da Human Rights Watch, que recebeu mensagens de voz de um menor ferido dentro da prisão, chorando que havia cadáveres por todo o lado.

“Não é claro se eles receberam algum tipo de assistência médica”, disse Kayyali à France Press. Avisando que, se estiverem a ser usadas como escudos humanos, “as crianças enfrentam um risco enorme de ambos os lados”. 

Entre estes menores, alguns com apenas 12 anos, estão familiares de combatentes do Estado Islâmico, mas também crianças raptadas, endoutrinadas e forçadas a combater pelos jiadistas. Acabaram capturadas na queda do califado, em 2017, e detidas em Ghwayran, uma antiga escola transformada em campo de detenção.

Há muito que as forças curdas se queixam de não ter recursos nem sequer para guardar tantos prisioneiros, quanto mais para os reabilitar ou perceber quais destes menores continuam a ser um potencial risco de segurança – sobretudo quando vão enfrentando sucessivos atentados e ataques de guerrilha do que sobra do Estado Islâmico. Tornando as prisões onde jiadistas estão detidos uma “bomba relógio”, descreveram dirigentes curdos à Al Jazeera. 

 

Caos Os guardas de Ghwayran foram apanhados de surpresa, atordoados pela explosão de dois carros-bomba atirados contra os portões da prisão. Subitamente deram por si a combater em duas frentes, com duas centenas de jiadistas a avançar pela brecha, enquanto prisioneiros aproveitavam para se amotinar lá dentro.

A própria prisão seria alvo de bombardeamentos da coligação liderada pelos EUA, que colocou helicópteros Apache e blindados no terreno para apoiar os combatentes curdos. Enquanto, isso foragidos agarravam nas armas que encontravam, tendo os combatentes do Estado Islâmico chegado a içar a sua bandeira negra na prisão. Já os residentes de Hasakeh, a maior cidade de maioria curda da Síria, tentavam esconder-se. 

“As fugas de prisões representam a melhor oportunidade para o ISIS recuperar a sua força militar. E a prisão de Ghwayran é um alvo ótimo para o ISIS, porque está superlotada”, salientou Nicholas Heras, analista do Newlines Institute, de Washington, à AFP. Torna-se notório que o Estado Islâmico “quer ir para lá de ser a rede terrorista e criminosa em que se tornou. E para isso precisa de mais combatentes”.