CDS: o voto útil de direita

Qual é afinal o voto útil para vencer António Costa? Vamos por partes…

Por Jorge Costa Rosa – militante do CDS e ex-dirigente nacional da Juventude Popular (JP)

Como qualquer eleitor do espaço de centro-direita e da direita moderada que olha para os partidos como meros instrumentos políticos dos cidadãos, o que para mim importa hoje, é saber qual o partido do lado direito do espectro que melhor me representa e quem merece, de facto, o meu voto no dia 30. Para além disso, a questão da governabilidade foi central nesta campanha eleitoral. Qual é afinal o voto útil para vencer António Costa? Vamos por partes…

IL: Não obstante já ter votado na Iniciativa Liberal, e apesar da IL pertencer inequivocamente ao espaço moderado que interessa à discussão política, não voto na IL em Legislativas e isso tem uma justificação. Para além de ser um partido extremamente dogmático do ponto de vista ideológico, representa tão-só um nicho de liberais “puros” em toda a linha. Não havendo espaço para um conservador, como eu, que defenda a Vida desde a concepção à morte natural.

A “prima moderninha” do CDS ainda não tem uma visão sólida do modelo de sociedade que defende, nem sequer em termos económicos – como se viu, por exemplo, na proposta para o ensino superior. É aqui que Chicão se adianta no “marcador”, ao demonstrar que fora as medidas que copiou a régua e esquadro dos programas eleitorais do CDS, a IL defende para Portugal políticas (também elas copiadas) dos países liberais que pouco têm que ver com a realidade nacional.

Foi no CDS onde nasceu a direita liberal em Portugal que votou contra a Constituição Socialista de 76, e que com Lucas Pires defendeu que primeiro vinha o Homem e só depois o Estado. Só que a alternativa liberal proposta pelo CDS não se esgota na privatização da TAP ou em outdoors sui generis nas ruas da capital. Defende uma economia livre mas justa, conciliando a defesa das liberdades do cidadão, com as preocupações sociais do humanismo personalista que não esquece os mais pobres. Que luta pela liberdade dos cidadãos escolherem em que escola colocam os seus filhos (através do cheque-ensino), e em que hospital querem ser tratados. O partido do contribuinte e dos pequenos empresários que propõe a isenção do IRC para empresas que reinvistam a totalidade dos seus lucros.

É o CDS quem defende a família como célula essencial da sociedade, e que propõe a isenção do IMI para jovens na compra da primeira casa, e a redução do escalão do IRS depois do segundo filho. Que propõe a redução dos escalões do IRS (para apenas dois) com vista a que as classes baixa e média possam “respirar”, sem deixar de taxar os mais ricos. Ao contrário da ruptura abrupta do sistema fiscal que a IL defende com a flat-tax.

O CDS sempre representou liberais de Norte a Sul e conhece Portugal e os portugueses do Minho ao Algarve. Da urbanização ao mundo rural.
Já a IL é um partido maioritariamente urbano, relevante em Lisboa e Porto, mas irrelevante na portugalidade, porque distante dela. Ficamos pois sem saber se é a IL que desconhece o país real, ou se é o país real que (ainda) não faz a mínima ideia o que é a IL. O que sabemos, é que voto na IL é um voto inútil.

CH: O CHEGA não conta sequer para o totobola. Não só não pertence ao espaço da direita moderada, como não passa dum partido que cavalga medos e preconceitos, recorrendo ao populismo radical. E foi precisamente aqui que Chicão voltou a ganhar pontos na conquista do meu voto, ao apresentar-se como a direita civilizada e demo-liberal que não discute a pena de morte com taberneiros, nem negoceia a prisão perpétua, a castração química, ou quaisquer tipos de populismo penal. Conseguindo demonstrar, em canal aberto, porque é que um eleitor humanista ou humanista cristão não pode votar no CH: porque essa não é a nossa direita.

Rodrigues dos Santos foi mesmo o único líder partidário capaz de esmagar Ventura onde mais dói: contra o seu próprio eleitorado. Todos os outros partidos foram inofensivos nesse prisma. Mas mais que enfraquecer o CH, Chicão foi taxativo a fazer aquilo que Rio devia ter feito e não fez: afastar-se do “primo sem maneiras”, sem hesitações. Forçando PSD e IL a seguir a estratégia, e fazendo com que o voto no CH se tornasse inútil. Hoje, votar CH é votar PS.

PSD: E por falar em Rio: porque não votar então no verdadeiro candidato a Primeiro-Ministro? Apesar de ideologicamente dúbio, não será esse afinal o voto útil para o eleitor de centro-direita?

Ora bem, apesar da simpatia que tem vindo a granjear ultimamente na direita portuguesa, e apesar de ser o único que disputa directamente com Costa, Rio mostrou que o voto útil nestas eleições não é no PSD. Não só por não querer assumir uma alternativa pré-eleitoral de direita colocando o PSD ao centro, como porque toda a gente sabe que o líder social-democrata sempre preferiu um entendimento com Costa.

Nessa senda, ficámos a saber que apesar de Costa não se comprometer a deixar passar um Governo minoritário de Rio, o líder do PSD deixará passar um governo minoritário do PS. Ora, eu que sempre defendi a tradição parlamentar de “deixar passar” governos minoritários até meio da legislatura, não esqueço que foi Costa quem pela primeira vez rompeu essa tradição democrática. E que hoje, não garante que isso não se repete com Pedro Nuno Santos à cabeça.

Na prática, com os seus ziguezagues e piruetas habituais, Rio mostrou que votar no PSD tanto pode servir para uma alternativa de poder pela direita, como para apoiar um governo socialista. Todavia, como sabemos, hoje o voto é livre, porque o que hoje importa é formar maiorias e é aqui que, por fim, o CDS conquista os últimos pontos que faltavam. Sendo peremptório quanto à sua utilidade e quanto ao que representa pragmaticamente o voto no partido democrata-cristão.

CDS: O voto no CDS, ao contrário do voto no PSD, garante ao eleitor que o seu mandato é usado exclusivamente na formação dum Governo moderado de Direita. Votar no CDS só não é igual a votar no PSD, porque votar no PSD pode eleger Costa. Enquanto que o voto no CDS contribuirá apenas para eleger Rio – mostrando assim ser o único voto útil à direita.
Uma alternativa real aos fanatismos da direita radical, mas sobretudo a Costa, à extrema-esquerda e ao “Bloco Central dos interesses”.

Por fim, e em abono da verdade, nada do que o CDS defende hoje é dissonante da sua declaração de princípios, e independentemente da sua liderança conturbada, Chicão demonstrou nas propostas ser capaz de fazer a roda avançar, sem mover o eixo de valores do partido a que preside.

Quanto à governabilidade, como vimos, Rodrigues dos Santos conseguiu provar aos eleitores que o voto útil de direita nestas eleições é indubitavelmente no CDS-PP. A direita dos valores assentes na Doutrina Social da Igreja. A direita certa. E porquê? No fundo, e bem vistas as coisas, pelas mesmas razões de sempre.