Mamadou Ba chama “suínos” aos deputados do Chega e gera críticas

Depois do “matar o homem branco” e da “bosta da bófia”, o dirigente do SOS Racismo está metido noutra.

Mamadou Ba, autoproclamado ativista antirracista, voltou a ‘fazer das suas’. Fê-lo via Twitter, no rescaldo das eleições: “Vamos ter 11 suínos na AR, entre eles, um terrorista assassino de extrema-direita. A luta não será na AR, mas na rua! Preparem-se!”, escreveu. Doze e não onze, corrige-se; deputados eleitos pelo povo e não suínos, esclarece-se. Quantos aos “suínos”, Mamadou Ba referia-se, acreditamos, aos recém-deputados eleitos pelo Chega. O ‘terrorista assassino de extrema-direita’, presumimos sem atestar, será Diogo Pacheco de Amorim. Note-se também que, ainda no âmbito das eleições – mas agora via Facebook –, Mamadou falava em cerca de “20 assumidos camuflados fascistas-racistas-neoliberais que entraram na AR”, referindo-se ao total de deputados do Chega e da Iniciativa Liberal (IL). Ademais, ainda no Facebook, realçou que a “luta contra o racismo e o fascismo não se fará no Parlamento”, razão pela qual terá de se “travar uma luta sem quartel. Custe o que custar”.

“É alguém que busca ter protagonismo dizendo umas parvoíces”. Assim o descreve, ao i, Carlos Guimarães Pinto. O novo deputado da IL – na lógica do ativista um “camuflado fascista-racista-neoliberal” (apesar de o próprio Carlos acusar Ventura de racismo) – nota que Mamadou tem apenas necessidade de “dizer algo para chamar a atenção”. “Não há nada ali”, afirma, terminando assim a sua análise.

“Esse rapaz perdeu o juízo!”, assinala o antigo secretário de Estado socialista Ascenso Simões sobre Mamadou. “Há limites para tudo. Os representantes do povo devem ser respeitados por toda a gente”, acrescenta, para logo assinalar, criticamente, que “mesmo não se dando aos respeito merecem ser respeitados”. O respeito, esse, até pode ser meramente “formal” – mas tem de existir. E não apenas numa lógica de eleitor para representante: no entender de Ascenso, também “todos os agentes políticos devem respeitar-se mutuamente”. Todavia, acredita Ascenso, esta lógica da boçalidade “intensificar-se-á” no futuro – e tudo graças à “maioria absoluta do PS”. “Depois da maioria absoluta, haverá radicalização do discurso: os extremos parlamentares vão aumentar consideravelmente o seu espaço de intervenção e ruído”. Uma corrosão a que o Governo poderá resistir – desde que seja “robusto sob o ponto de vista político”, esclarece ao i.

A jornalista Helena Matos, por sua vez, considera “grave o silêncio” sobre as declarações de Mamadou. A seu ver, apenas assim é devido ao espetro político canhoto que Mamadou integra: “O circo que estaria montado se isto tivesse sido usado por outro campo político à direita e não por alguém que esteja associado à esquerda”, diz ao i. Notando não serem as “primeiras, segundas ou terceiras” declarações de Mamadou nesse sentido, Helena Matos aponta a existência de um “silêncio hipócrita em relação a este tipo de declarações quando são reproduzidas à esquerda”. E expande, realçando o facto de Mamadou não ser “uma pessoa desnorteada nas redes sociais” e explicando haver outros “milhões” a fazer o mesmo. Não estivesse a crítica já suficientemente afiada, Helena Matos aproveita para puxar os crachás institucionais a Mamadou, recordando ele ter sido “dirigente de uma associação contra a discriminação racial”. Não só fez parte “como foi nomeado pela Assembleia da República”, reforçando a ideia de não ser “uma ‘criatura’ destrambelhada a dizer parvoíces nas redes sociais”. “É alguém que teve poder a integrar esta comissão, de cujos membros se esperava mais siso”, completa.

Para lá das críticas a Mamadou, Helena Matos mune-se ainda do seu conhecimento histórico para contextualizar a prosa do antigo dirigente do Bloco de Esquerda. Recordando a passagem em que Mamadou classificou os novos deputados do Chega como “suínos”, Helena Matos observa as parecenças entre tal linguagem e aquela “do porco capitalista”, ou seja, uma que se guarnece de “animais associados à impureza – como porcos ou cães –” e que “era muito comum na extrema-esquerda nos anos 60”. “Foi tolerado, depois foi desaparecendo da linguagem, e agora vemo-lo a voltar”, acrescenta. “Esse tipo de linguagem e de imagens insultuosas são usadas por pessoas num discurso em que alertam para o facto de outros serem insultuosos e violentos”, asserta, notando a “distopia”, para depois concluir de forma devastadora: Mamadou “pretende alertar para uma violência e intolerância de que ele é o primeiro a dar manifesta prova”.

Recorde-se que Mamadou Ba é frequentemente acusado de radicalismo discursivo e de perpetuação de ódio. Os casos mais estridentes terão sido quando falou na necessidade de “matar o homem branco” – analogia ao homem branco especificamente “assassino, colonial e racista” –, em novembro de 2020, e quando intitulou as forças policiais como “bosta da bófia”, em janeiro de 2019. O i contactou Mamadou Ba e o SOS Racismo, contudo não obteve respostas de nenhum.