Margarida Gaspar de Matos, psicóloga clínica e psicoterapeuta, professora da Faculdade de Motricidade Humana, começou a investigar o universo dos jovens em 1987 e acaba de publicar um livro-guia para ajudar pais e educadores a perceber os comportamentos e expectativas dos mais novos.
Em entrevista ao i, fala do que a moveu a trabalhar com os jovens, do que sentem e do que se queixam, nomeadamente na escola. E há um dado que já a preocupava antes da pandemia: desde que Portugal participa no estudo da Organização Mundial de Saúde sobre comportamentos dos jovens em idade escolar que uma percentagem significativa dos adolescentes (em 2018 quase 30%) diz não gostar da escola. “Não se sentem bons, acham que tem matérias obsoletas”, diz Margarida Gaspar de Matos.
Em “Adolescentes”, defende a necessidade de uma revisão urgente do sistema de ensino, que vive dependente de explicações que não estão ao acesso de todos e onde as notas, que deviam ser a cereja em cima da aprendizagem, se tornaram no bolo todo.
“Se a matéria é de mais, e não cabe na escola, tem de se diminuir”, apela, defendendo que esta é uma discussão que tem de ter tempo e espaço nas escolas, nomeadamente pelos professores de cada disciplina.
Com um novo ciclo político à porta, lembra que há queixas sistemáticas dos alunos sobre instalações, que prejudicam a prática de atividade física com gosto por parte dos jovens, nomeadamente das raparigas, mas também a qualidade da alimentação, que as escolas nos últimos anos passaram a subcontratar a empresas, com as cozinheiras empurradas para a vigilância dos corredores. “Têm de pôr uma alínea nos contratos em que além de ser barata, a comida seja comestível”, desafia o Governo. Mas o essencial, defende, será devolver às escolas o “prazer por aprender”.
Num livro que é também destinado às famílias, defende que os pais devem tentar sair do modo medo e ter um ambiente familiar mais relaxado, cultivar interesses pessoais e momentos de convívio. “Das melhores coisas que os pais têm a dar aos filhos é serem felizes eles próprios”, resume, numa mensagem às famílias e sobretudo às mães, que diz continuarem a ser as mais penalizadas no seu bem-estar e saúde psicológica.