Finest Hour

Saber partilhar a nossa preparação e boa fortuna com os nossos próximos dá sentido a todo o trabalho feito.

Por Pedro Ramos

Nova Iorque, março 2022

«Let us therefore brace ourselves to our duties, and so bear ourselves that, if the British Empire and its Commonwealth last for a thousand years, men will still say, ‘This was their finest hour.’»
Winston Churchill

«Freedom is not free.»
US Navy Seal

«Predicting rain doesn’t count, building Arks does.»
Warren Buffett

Queridas Filhas,

Escrevo alguns dias depois do início da guerra na Ucrânia. Para muitos de nós ver guerra para conquista de território na Europa era algo que se acreditava estar remetido ao passado. Apenas podia ser vista em livros de história. Mas essa mesma história, mostra que em geral todas as gerações são chamadas pelo destino a defender o que receberam e prezam do seu passado.

Como dizem aqui nos Estados Unidos, a liberdade não é grátis. Isso quer dizer que vem com custos: de vida humana, de investimento em infraestrutura de defesa e também custos financeiros. Mas estes custos não precisam de ser ruinosos e podem mesmo preparar um melhor futuro para a população em geral e famílias em particular.

Prever catástrofes é difícil. Diz-se, e com razão, que os economistas previram 30 das últimas três recessões. Mas estar preparado para todos os cenários não é impossível. Como? Vamos passo a passo:

A fundação do nosso património tem que ser sólida. Quer isto dizer que temos que ter o nosso capital em geografias e em instituições que têm forte resiliência. No nosso caso, estamos maioritariamente nos Estados Unidos com um banco de topo que adicionalmente beneficia da proteção e garantia do governo dos Estados Unidos. As sanções à Rússia mostram os riscos de estar em geografias menos sólidas. 

Por outro lado, precisamos de ter liquidez. Quer isto dizer que temos acesso a fundos suficientes para pagar as nossas contas durante pelo menos dois anos. Idealmente, os nossos investimentos são também líquidos: isto significa que podem ser vendidos em curto espaço de tempo sem perda de valor. Depósitos, ações e algumas obrigações são boas opções aqui. 

Em seguida precisamos de uma leitura continua e atualizada das oportunidades e riscos que as mudanças em curso apresentam. Aqui incluímos riscos e oportunidades que nunca antes aconteceram, mas que se apresentam presentemente. Isto necessita de apoio de investidores profissionais. Por exemplo, durante a crise financeira eu confirmei a minha vocação de investidor quando constatei a energia e paixão com que trabalhava todos os dias face a riscos e cenários que não constavam dos compêndios universitários nem tinham sido contemplados por banqueiros experientes e financeiros de carreira. Por exemplo, nenhum livro falava de taxas de juro negativos ou de corridas de levantamento de depósitos aos bancos depois de instalados os bancos centrais. Isto sem falar nos despedimentos de amigos e colegas à minha volta quase todos os meses, sem saber se a minha hora chegaria.

Talvez o ingrediente mais importante seja a estabilidade emocional. Do gestor do capital da família. Mas também da própria família, em entender que a estratégia foi bem pensada e que o ‘homem do leme’ conseguirá levar o barco a bom porto a pesar da forte tempestade atual.

Por último, a parte espiritual. Estes momentos transcendem-nos. Deixarão marca na história, na nossa sociedade e nas famílias com menos sorte. Saber partilhar a nossa preparação e boa fortuna com os nossos próximos dá sentido a todo o trabalho feito. Por exemplo, durante a primeira grande guerra os vossos trisavós, com um filho nas trincheiras, eram grossistas de mercearia. Dado o racionamento em vigor, eles distribuíram do que tinham pelos conterrâneos vianenses que passavam privação. 

Como disse Churchill na citação acima, estas alturas trazem o melhor de nós. Eu acredito que essa foi a melhor hora da nossa família. Espero que vocês sigam esse exemplo.