Mais de trezentas empresas cortam relações com a Rússia

A cada dia que passa há mais empresas a aderir à corrente solidária e a abandonar negócios na Rússia. Mas algumas ainda permanecem.

Desde o início da devastadora invasão da Ucrânia, mais de 310 empresas já anunciaram a sua retirada da Rússia em claro sinal de protesto contra a guerra. Este número – que vai sofrendo alterações todos os dias, à medida que as tropas russas tentam avançar pela Ucrânia adentro – foi avançado pelo professor Jeffrey Sonnenfeld e pela sua equipa de investigação no Yale Chief Executive Leadership Institute, que tem compilado numa lista todas as marcas e empresas que decidiram suspender as suas operações na Rússia.

O movimento ocidental de bloqueio ao mercado russo, que engrossa a cada dia, foi inaugurado pela saída das multinacionais do petróleo do país, mas já atinge muitos outros setores, nomeadamente tecnológicas, consultoras, automóveis e serviços.

O Kremlin tenta reagir por via legal, com restrições à venda de participações nas empresas russas, tentando travar as saídas anunciadas dos grupos económicos ocidentais e desincentivar que outros sigam o exemplo.

Apesar dos apelos da opinião pública para que mais negócios tomem uma atitude perante a ofensiva russa, algumas empresas continuam a operar no país.

De acordo com a lista elaborada pela equipa de Jeffrey Sonnenfeld, há várias dezenas de empresas com exposição particularmente significativa nos mercados russos que mantêm a sua atividade. Entre as que restam, encontram-se os grupos hoteleiros Hilton (presente em 29 locais no país), Intercontinental (26 locais) e Marriott (10 locais). Da lista consta também a renomeada empresa italiana Pirelli, que fornece por exemplo os pneus à Fórmula 1, competição que, aliás, já retirou do seu calendário para 2022 o Grande Prémio da Rússia. Cerca de 10% da sua produção tem origem na Rússia. E não é a única: a concorrente japonesa Bridgestone também ainda não interrompeu as suas operações naquele país.

Entre outras marcas conhecidas está a casa italiana Ferragamo, que vende artigos de luxo, cujas receitas no mercado russo ascendem ao 10 mil milhões de dólares ao ano, ou a americana Whirpool, a maior fabricante de eletrodomésticos a nível mundial.

Um dos obstáculos ao boicote das empresas à Rússia passa também pelo facto de alguns serem franchises ou pontos de venda de propriedade independente, o que representa um desafio para a empresa-mãe encerrar as operações.

A TEORIA DOS ARCOS DOURADOS O cortar de laços entre o Ocidente e a Rússia trouxe também à tona uma teoria antiga de Thomas Friedman descrita no livro O Lexus e a Oliveira, lançado em 1999, que falava sobre a globalização. Segundo a Teoria dos Arcos Dourados, dois países que tenham McDonald’s nunca travarão uma guerra um contra o outro. Esta tese parecia ter caído por terra há uns dias, uma vez que havia mais de 850 estabelecimentos da cadeia de fast food norte-americana na Rússia. Mas a decisão da McDonald’s de encerrar temporariamente os seus restaurantes no país deu-lhe nova vida.

Se até aqui este ato de retirada, que é em grande parte performativo, foi entendido como tendo pouco impacto, a verdade é que esta resposta do Ocidente tem sido esmagadora em termos do número e variedade de empresas que se posicionaram contra o regime de Putin. E, neste momento, há quem acredite que o isolamento económico e cultural pode ser a chave para fazer recuar as tropas russas enquanto os ucranianos continuam a resistir à incursão.

Mas há ainda um outro participante a considerar, como lembra Ben Wood, analista da CCS Insight: “Será interessante ver como os fabricantes chineses vão preencher o vazio deixado pelas marcas. Não sabemos como vai funcionar, nem qual será a atitude da China, mas suspeito que vamos assistir a um incremento do volume de algumas marcas chinesas no mercado russo.”.