O avô de todos os portugueses

No final da peça, depois dos agradecimentos, sobe ao palco o nosso Presidente da República, para condecorar, uma vez mais, o ator português mais velho no ativo.

Por Alice Vieira e Nélson Mateus

Querida avó,

Escrevo-te no rescaldo das comemorações dos 95 anos do Ruy de Carvalho. Nestas últimas semanas este teu neto quase que não pregou olho!

Que responsabilidade a minha, a de organizar um almoço para 60 pessoas e inaugurar uma exposição no mesmo dia.
Vamos por partes. 

O almoço foi no restaurante Degust`AR, aquele restaurante na Latino Coelho, bem perto da tua casa, onde já jantamos com o Ruy de Carvalho.

O Ruy pisou durante imensos anos o palco do saudoso Teatro Monumental. Era frequentador assíduo da Paulistana, o café no Saldanha, onde a os artistas se juntavam depois do Teatro. Aliás, onde tu várias vezes estiveste com o Ruy.

O Ruy é embaixador do Alentejo. Ao encontrar um restaurante alentejano, em plenas Avenidas Novas, não hesitei na escolha do local onde realizar o almoço.

O Ruy estava felicíssimo por receber tantos amigos no seu aniversário.

Curiosamente, no dia em que o Ruy nasceu, também era dia de Carnaval.

À noite, o Teatro Politeama encheu-se para assistir à peça A Ratoeira onde o Ruy é cabeça de cartaz.

Quando o Ruy entrou em palco ouviram-se sonoros aplausos durante imenso tempo.

No final da peça, depois dos agradecimentos, sobe ao palco o nosso Presidente da República, para condecorar, uma vez mais, o ator português mais velho no ativo.

Desta vez com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a mais alta condecoração do Estado Português.

Não imaginas a emoção que foi. O Ruy chorava em palco, a família e o público choravam a assistir a tudo isto, sempre acompanhados por ensurdecedores aplausos.

E tu aí na Ericeira … Se não podias estar aqui connosco.

Depois de tudo isto, ainda fomos para o Salão Nobre do Teatro Politeama, onde o Presidente da República foi inaugurar a Exposição de homenagem ao Ruy.

Já depois da meia-noite tirei uma foto com o Ruy. Ele todo sorridente e desperto. Eu a morrer de sono.

Que bom que é ter alguém como Ruy nas nossas vidas.

Bjs

 

Querido neto,

Toda a gente sabe – penso eu… – da grande amizade que me une ao ator Ruy de Carvalho. Basta dizer que nos conhecemos há mais de 60 anos, dos tempos do Café Paulistana, junto ao Saldanha (um café que devia ter sido classificado como casa com história… mas que foi deitado abaixo para fazer um centro comercial no seu lugar. Por aquele café passaram grandes atores: Ruy de Carvalho, Carlos Coelho, Raul de Carvalho, Artur Semedo, e tantos outros.

Eu estava lá com o meu tio, e todos eles me achavam muita graça e falavam muito comigo… Quase todos eles assinaram, anos mais tarde, quando eu acabei a universidade, as fitas da minha pasta para a Queima das Fitas. Acho que fui a única, lá na faculdade de letras, que tinha as fitas todas assinadas por atores de teatro… 

Mas lembro-me desde sempre da vitalidade e da energia do Ruy de Carvalho.

Há alguns anos, nuns encontros mensais promovidos pelo meu querido amigo Lauro António no Café Vavá chamados “Vavá..diando”, o Ruy foi o convidado de honra. Comemos , bebemos, conversámos, rimos, ele deu uma data de autógrafos e, de repente, levanta-se e declama o “O Auto do Vaqueiro” todo, sem uma quebra!

Acho que nunca falhei, até agora, uma peça do Ruy. No Teatro Nacional, no TEC, onde quer que fosse. E ia sempre vê-lo também quando ele representava no Teatro São João do Porto (lembro-me de uma “Tempestade” de Shakespeare extraordinária…)

E o Ruy faz tudo bem…Drama, comédia, revista. Teatro, cinema, televisão.

Tenho que ver se me convenço a ir assistir à “Ratoeira”, de Agatha Christie , agora no Teatro Politeama. Houve países onde a “Ratoeira” esteve em cena uma data de anos. Em Londres, esteve em cena 60 anos. O Ruy é homem para aguentar esses anos todos também.

Parabéns pelo sucesso da exposição que fizeste para homenagear o Ruy e por teres tido o Presidente da República a inaugurá-la.

Fica bem.

Bjs