Peixe cru? Sim, mas congelado primeiro

O Anisakis simplex é um parasita marinho que pode provocar alergias, náuseas, vómitos e até sintomas mais severos que poderão obrigar a cuidados hospitalares.

por Joana Barosa*

Uma em cada dez refeições de pescado em Portugal são à base de peixe cru ou pouco cozinhado, o que poderá vir a representar um aumento de infeções gastrointestinais, provocadas por um parasita chamado Anisakis, mesmo em pessoas saudáveis, revela o estudo “Raw fish consumption in Portugal: A survey on trends and consumer characteristics”, publicado na revista cientifica Food Science.

O Anisakis simplex é um parasita marinho que pode provocar alergias, náuseas, vómitos e até sintomas mais severos que poderão obrigar a cuidados hospitalares (como apendicite ou até evoluir para perfuração intestinal).

Neste estudo, os investigadores verificaram que as alergias a peixe e marisco foram referidas apenas por um pequeno grupo das pessoas inquiridas (menos de 3%), mas que consumiram quantidades relativamente altas de peixe cru, marinado ou mal cozinhado. O sushi, o sashimi e o ceviche são pratos cada vez mais apreciados pelos portugueses, estimando-se que, em média, cada pessoa consome mais de 6 kg de peixe cru, por ano.

O salmão representa quase metade do peixe cru consumido (42%), seguindo-se o atum. Em conjunto representam 79% total de peixe cru consumido em Portugal. O bacalhau aparece como a terceira espécie mais consumida em cru (ou mal cozinhado).

 “O salmão, quando criado em meio selvagem, pode ter níveis elevadíssimos de infeção por Anisakis. Felizmente o salmão de aquacultura, que é o que mais frequentemente encontramos no supermercado, não tem esse parasita, e é seguro comer”, refere Maria João Santos, investigadora da Universidade do Porto, e uma das autoras do estudo.

“A razão para haver espécies de peixe mais infetadas do que outras deve-se à sua alimentação. Este parasita é transmitido por um crustáceo também infetado, e se o peixe o ingerir mais frequentemente, ele ficará mais infetado. Por sua vez para o crustáceo ficar infetado terão que existir mamíferos marinhos infetados, baleias ou golfinhos, nessa região. É nestes hospedeiros que o ciclo de vida se completa na natureza, e onde se produzem numerosos ovos deste parasita”.

Para Maria João Santos: “É fundamental alertar para o problema e ensinar as pessoas a tomarem as suas precauções, pois até é simples evitar esta doença [potencialmente] grave”.

O melhor e mais seguro “será cozinhar devidamente o peixe para garantir que o Anisakis morre. Mas também se pode congelar o peixe a – 20ºC, pelo menos por 24h, se quisermos comê-lo cru. A esta temperatura o parasita fica inativado, e mesmo que seja ingerido não conseguirá infetar o Homem”.

“Prevê-se um aumento de consumo de peixe cru a curto e a médio prazo, o que nos leva a prever que o risco poderá aumentar muito em breve, principalmente se não se aplicar a legislação que regulamenta o consumo de peixe cru, e que exige que o peixe seja devidamente congelado antes de ser usado. O problema poderá também ficar descontrolado se as pessoas começarem a preparar os seus próprios sushis em casa, como parece que já acontece atualmente, e não tiverem conhecimento dos cuidados a ter com o peixe”.

*Aluna do mestrado de comunicação em ciência