Putin: um sacrílego!

Usar a Palavra de Deus para justificar as ideias ou ideais é uma técnica antiga e usada pelos estrategas. É uma técnica, por exemplo, dos chamados progressistas que têm uma ideologia, pegam nas Escrituras e justificam os seus ideais… 

Neste tempo de guerra (e não há outra palavra) de invasão (também não podemos escolher outra) da Rússia à soberana Ucrânia, o Papa Francisco decidiu fazer uma nova consagração da Rússia a Nossa Senhora. Desta vez com uma inovação: consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Sagrado Coração de Maria. 

As palavras da Virgem Maria, mãe de Jesus, em Fátima aos três pastorinhos, em 1917, são as seguintes: «Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará».

Estas palavras têm sido escalpelizadas ao longo do último século de uma forma incrível. O que significam as palavras: «A Rússia se converterá e terão paz?» Neste contexto, o que significa realmente a palavra «converter-se»? Terá Nossa Senhora, em Fátima, anunciado a conversão da Rússia ao catolicismo? Será, isso?

A mensagem, que muitos julgavam já realizada ou morta, até, parecesse que está mais viva do que nunca. Estou certo de que não é apenas o Santo Padre que a vai rebuscar, mas muitos investigadores, no futuro, irão debruçar-se ainda mais sobre esta expressão. Porque, na verdade, as aparições da Virgem Maria deram-se ao mesmo tempo da Revolução dos Bolcheviques, em Moscovo, em pleno ano de 1917. 

Na semana passada, Putin celebrou num estádio os oito anos da anexação da Crimeia. Durante o seu discurso, fez uma citação do evangelho: «Ninguém tem maior amor do que dar a vida pelos amigos» (Jo 15, 13). E quem são estes que dão a vida pelos amigos, na versão de Putin? Os soldados russos, evidentemente! 

Bruno Forte, teólogo e bispo italiano, não tem dúvidas e diz que o uso do evangelho feito pelo Presidente da Rússia é um «ato sacrílego» é uma «blasfémia»: usar Deus para «justificar a agressão injustificável é pura loucura». 

O que é um sacrilégio? Não fui muito longe… ‘googlei’ e apareceu o seguinte: «Sacrilégio é a violação ou tratamento injurioso de um objeto, local ou pessoa sagrada. Isso pode assumir a forma de irreverência para com pessoas, lugares e coisas sagradas».

Ora, quem diz um sacrilégio é, sem dúvida, um sacrílego. Desta forma, Bruno Forte está a dizer que Putin é sacrílego. Usou o evangelho para argumentar a perda de milhares de vidas dos seus soldados, como se de um ato de bondade se tratasse. 

Usar a Palavra de Deus para justificar as ideias ou ideais é uma técnica antiga e usada pelos estrategas. É uma técnica, por exemplo, dos chamados progressistas que têm uma ideologia, pegam nas Escrituras e justificam os seus ideais… 

A ideologia é, claramente, filha da idolatria que, para o Povo de Israel, era o pior pecado que pode existir. A ideologia não deixa o homem livre… Se não nos despirmos dos ídolos, evidentemente, viveremos nas nossas escravidões e colocaremos, sempre, os outros ao nosso serviço…

Só há, pois, uma solução: libertar a Palavra, para que ela possa dizer o que realmente diz. 

Apesar de não sabermos ao certo o que significa «a Rússia se converterá», mas pelo menos sabemos que Bruno Forte diz que há um russo que precisa de se converter dos seus sacrilégios: Putin. Este seguramente precisa de se converter de deixar de usar as Escrituras para manipular as massas.

Porque só há um homem que dá a vida pelos seus amigos: Cristo. E muitos dos seus discípulos deram a vida pelos outros, para os salvar. Eu penso que, no fundo, a mensagem de Fátima diz-nos que a Rússia e cada um de nós se precisa de converter. Eu também…