Anos decisivos para conter o aquecimento global

Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas apresenta hoje medidas. Cientistas receiam que guerra eclipse ação.

É esperada esta segunda-feira de manhã a apresentação de um novo relatório por parte do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o terceiro de uma série que alerta no tom mais agudo de sempre para um ponto de não retorno no aquecimento global e focado desta vez em medidas para travar as emissões nos próximos oito anos, até 2030, por forma a conseguir mitigar o aquecimento do planeta. E os receios de que a guerra na Ucrânia e toda a incerteza que se vive a nível mundial leve decisores políticos e opinião pública a ignorar ou passar para segundo plano aquele que sempre foi visto como um problema a médio e longo prazo tornam-se audíveis. “Devido aos desafios geopolíticos, é gasta pouca capacidade política em ação climática e grandes quantidades de financiamento estão a ser alocadas para a Defesa”, disse ao Observer Daniela Schmidt, autora do relatório anterior, publicado há um mês, que concluiu que metade da população do planeta está altamente vulnerável a sofrer fortes impactos das alterações climáticas, mil milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras podem ver as suas terras inundadas pela subida do mar nas próximas décadas e um décimo da terra arável do planeta pode tornar-se inapta para fins agrícolas, contribuindo para o agravar da insegurança alimentar.

“Vi muitos relatórios científicos na minha vida, mas nenhum como este”, disse na altura o secretário-geral da ONU, António Guterres, comparando as conclusões a um “atlas do sofrimento humano”. “Eclipsado sobretudo pela guerra na Ucrânia e assuntos domésticos como a inflação, a maioria dos media praticamente não o reportou quanto mais analisar as conclusões”, comentou Deborah Brosnan, bióloga da Virginia Tech University.

Os trabalhos para chegar a uma versão final do documento continuavam este domingo, mobilizando cientistas e delegados de vários países. Segundo a AP, que cita fontes nas conversações, a posição das economias emergentes é que deve ser reconhecido o seu direito ao desenvolvimento, argumentando países como a Índia, hoje dos mais poluentes, que contribuíram muito pouco para o CO2 atualmente na atmosfera. A descontinuação de combustíveis fósseis é outro tema sensível. O relatório será a base da próxima conferência climática a realizar no Egito. A COP27 terá lugar de 7 a 18 de novembro.