Rússia. O novo arsenal para ameaçar o mundo

Putin anunciou ao mundo que já tem um míssil que percorre 11 mil quilómetros, deixando a ameaça para quem se quiser meter com a Rússia. Entretanto, à Ucrânia terão chegado 20 mil soldados com ligações à Líbia e a Síria.

No mesmo dia em que anunciou um novo ultimato para a rendição de Mariupol, a Rússia procurou mostrar que está a expandir o seu arsenal, seja com a presença de um míssil intercontinental ou com o recrutamento de cerca de 20 mil mercenários prontos para se juntar às forças armadas russas e atacar a Ucrânia.

O Ministério da Defesa russo anunciou que o país testou com sucesso o seu novo míssil Sarmat, ou Satan 2, um míssil balístico intercontinental – com um alcance de 11 mil quilómetros – capaz de transportar de 10 a 15 ogivas termonucleares com um poder de destruição estimado em três megatons cada, reportou a Reuters.

Segundo o Guardian, o Presidente Vladimir Putin apareceu num canal televisivo russo a ser informado por militares de que o míssil tinha sido lançado de Plesetsk, no noroeste do país, e atingiu diversos alvos na península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia. 

O Presidente russo disse que o míssil balístico intercontinental tem “as mais altas características táticas e técnicas” e que não existe arma semelhante no resto no mundo, algo que deve servir de “reflexão para todos aqueles que tentem ameaçar a Rússia”, pode ler-se no jornal inglês, acrescentando ainda que esta é uma arma “invencível”.

“Esta arma verdadeiramente única fortalecerá o potencial de combate das nossas forças armadas, garantirá de maneira confiável a segurança da Rússia contra ameaças externas e fará com que aqueles que, no calor da retórica agressiva, tentem ameaçar o nosso país, pensem duas vezes”, disse Putin, num agradecimento dirigido ao exército russo transmitido na televisão.

Além da revelação desta nova “coqueluche” do arsenal russo, um responsável europeu, citado pela agência France Presse, afirmou que o Kremlin enviou cerca de 20 mil mercenários para Donbass de forma a protagonizarem uma nova ofensiva neste território, um dia depois de terem conquistado uma cidade estratégica desta região.

A fonte revelou que entre 10 a 20 mil soldados, com ligações à Líbia e à Síria, recrutados à empresa russa de mercenários, o Grupo Wagner, foram deslocados para a região ucraniana, contudo, “sem qualquer tipo de equipamento pesado ou veículos”. 

“Vimos algumas transferências de áreas como a Síria e Líbia para a região este de Donbass, e esses homens são usados principalmente como uma massa contra a resistência ucraniana”, disse o responsável europeu. “É infantaria. Eles não estão equipados com material pesado ou veículos”.

A utilização deste grupo de mercenários faz parte da tentativa russa de capturar o máximo possível do leste da Ucrânia, uma manobra que as autoridades de defesa ocidentais descreveram como uma “corrida” para obter algum tipo de vitória para que Putin possa anunciar durante o desfile militar de 9 de maio em Moscovo, data em que se celebra o Dia da Vitória Soviética, que marca a derrota da Alemanha Nazi contra a União Soviética na Segunda Guerra Mundial.

O jornal inglês descreve que o Kremlin tem quatro objetivos principais durante esta que é a segunda fase da guerra na Ucrânia: capturar Donbass; garantir uma ponte terrestre para a Crimeia, na qual a cidade sitiada de Mariupol é crucial; tomar o oblast (subdivisão administrativa e territorial em alguns países eslavos e ex-repúblicas soviéticas) de Kherson para garantir o abastecimento de água doce para a Crimeia e capturar território adicional que poderá vir a ser usado como moeda de troca nas negociações.

Novo ultimato a Mauripol A Rússia fez esta terça-feira um novo ultimato às forças ucranianas que defendem a cidade de Mariupol, no leste do país. O prazo estabelecido foi até às 12 horas locais (10 horas em Lisboa), contudo o prazo foi ultrapassado sem resposta.

Kiev acordou esta quarta-feira com a notícia de que Moscovo criou um corredor humanitário para retirar civis de Mariupol, o que acontece pela primeira vez desde sábado, indicou o Governo ucraniano.

Este corredor humano foi criado na fábrica siderúrgica da Azovstal, um dos últimos redutos de Mauripol e um bastião da resistência ucraniana. As autoridades russas informaram que este corredor deveria ser utilizado para “a retirada de militares ucranianos e militantes de formações nacionalistas” e que estes deveriam “abandonar voluntariamente as suas armas” assim como para a evacuação de civis.

Contudo, o governador de Donestsk, Pavlo Kyrrylenko, alertou que a evacuação não correu como planeado, afirmando que chegaram menos autocarros do que esperados a Mariupol, deixando assim o número das pessoas retiradas mais baixo do que o esperado.

Segundo um vídeo partilhado pela deputada ucraniana, Inna Sovsun, era possível observar uma fila de autocarros que aguardavam a abertura do corredor humano. “A Ucrânia fez tudo o que lhe pediram. Mas os russos apenas ignoraram o acordo”, escreveu no Twitter, enquanto a vice-primeira-ministra da Ucrânia Iryna Vereshchuk acusou a Rússia de “não ser capaz de controlar os seus próprios militares no terreno”, cita a AP.