Norte teve o maior recuo na esperança de vida no primeiro ano da covid-19

Pandemia fez esperança de vida recuar quase um ano na UE, revelou Eurostat. Ilha de Córsega continua a ser campeã da longevidade, mas Galiza também está no pódio. Em Portugal a esperança de vida continua a ser mais baixa no Sul e nas ilhas, mas o Norte teve o maior recuo. 

A esperança de vida à nascença na União Europeia recuou quase um ano em 2020, revelou esta quarta-feira o Eurostat, comparando a evolução deste indicador no primeiro ano da pandemia nas diferentes regiões europeias. Em Portugal, o maior recuo verifica-se no Norte do país, mostram os dados do Eurostat que o i consultou.

O organismo atribui a diminuição da esperança de vida a nível europeu ao aumento da mortalidade associada à covid-19, que atingiu sobretudo os mais velhos, afetando o cálculo da longevidade. No primeiro ano da pandemia, foi no Norte de Portugal que se registou o maior número de mortes atribuídas à covid, balanço que viria a ser ultrapassado em 2021 pela mortalidade na região de Lisboa. 

Para já apenas com o balanço para 2020, concluiu-se que a esperança de vida na região Norte recuou 1,1 anos no primeiro ano da pandemia, de 82,4 anos em 2019 para 81,3 anos em 2020. Se até então era a região com maior longevidade no país, perdeu naquele ano o lugar para a região Centro, onde a esperança de vida recuou apenas meio ano para os 81,5 anos. Na área metropolitana de Lisboa, onde a esperança de vida recuou 0,8 anos, a longevidade à nascença situou-se em 2020 nos 81,4 anos.

Pior continuam a estar o Sul e ilhas. No Algarve a esperança de vida ainda só tinha chegado aos 80,7 anos em 2019 e recuou para os 80,3. No Alentejo, o registo era o mesmo em 2019 e verificou-se um recuo para os 80,2 anos. Nos Açores, a esperança de vida recuou de 78,8 anos em 2019 para 77,9 anos em 2020. A Madeira foi a única região em que a esperança de vida não quebrou: subiu de 78,8 anos em 2019 para 79,1 anos em 2020. 

Falamos da esperança de vida para ambos sexos, já que as mulheres continuam a viver mais e isso não se alterou. Mas mais uma vez o indicador degradou-se em todo o continente (não nas ilhas), com o Norte com o maior recuo. Em 2019, as mulheres nortenhas tinham alcançado 85,2 anos de vida, o registo mais elevado alguma vez alcançado no país, e a longevidade recuou para os 84,3 anos.

Onde se vive mais? Na Córsega mas também na Galiza No mapa publicado pelo Eurostat é possível ver Portugal pintado de laranja e amarelo, sinal de que ainda tem regiões onde a esperança de vida não vai além dos 80 anos, o que já não se encontra em Espanha e volta a verificar-se no leste de França.

Colada ao Minho e Trás-os-Montes, aqui ao lado o destaque é mesmo a Galiza, a vermelho escuro: é a região espanhola onde se vive mais e está no top 10 da longevidade europeia. Quando se tem apenas em conta a esperança de vida das mulheres, assinala o Eurostat, a Galiza ocupa mesmo o segundo lugar depois da ilha de Córsega, que continua a ser o bastião das vidas longas na Europa.

Na Córsega, a esperança de vida das mulheres situou-se em 2020 nos 87 anos e na Galiza nos 86,7 anos, um feito que já foi associado a uma dieta “atlântica” menos mediterrânica, com mais guisados que fritos, menos enchidos do que noutras regiões de Espanha e mais peixe.

Segundo o Eurostat, as regiões com maior esperança de vida em 2020 situam-se em França e Espanha e ainda na Itália (região de Umbria) e na Grécia (Epiro). No extremo oposto surgem três regiões búlgaras, a mais atrasada com a esperança de vida calculada em 72,1 anos. 

O recuo da esperança de vida em Portugal em 2020, de 81,9 para 81,1 anos, foi o maior dos últimos 47 anos, havendo outros períodos com ligeiros recuos e recuperações. Não deve ficar por aqui. Em 2021, assinalou ontem o INE, morreram em Portugal 124.802 pessoas, mais 1,2% do que em 2020. Com o número mais baixo de nascimentos de que há registos no país, pela primeira vez desde 1886 menos de 80 mil, o saldo natural negativo agravou-se, com mais óbitos do que nascimentos em todas as regiões.