Da beleza ao filme de terror

Quando a espetacularidade e o medo andam de mãos dadas, não é difícil perceber as razões que fazem com que a cada ano sejam cada vez mais os big riders e público presentes na Nazaré, meca do surf de ondas gigantes há mais de uma década.

As montanhas de água da Nazaré são donas de um novo recorde mundial do livro do Guiness para a Maior Onda Surfada. Desta vez foi o alemão Sebastian Steudtner a colocar novamente as imagens da vila portuguesa em destaque, graças ao desfile pelo qual deu a cara e o corpo em outubro de 2020, numa onda de 26,2 metros.

As imagens das sessões de ondas grandes originam facilmente fotogalerias impressionantes, com repercussão a nível mundial, embora só quem já tenha tido a possibilidade de assistir ao vivo ao espetáculo com palco na Praia do Norte consiga também facilmente associá-lo a um filme de terror, com reações muito semelhantes, desde gritos, sustos de cortar a respiração ou mãos no rosto a tapar os olhos.

Quando a espetacularidade e o medo andam de mãos dadas, não é difícil perceber as razões que fazem com que a cada ano sejam cada vez mais os big riders e público presentes na Nazaré, meca do surf de ondas gigantes há mais de uma década, com Garret Macnamara no papel principal quando, em 2011, deslizou uma onda de 24 metros. Entre os big riders portugueses, destacam-se os nomes de Nicolau Von Rupp e Hugo Vau, com o último associado para sempre ao dia 17 de janeiro de 2018, quando, também na Nazaré, surfou a chamada ‘Big Mama’, uma onda de 35 metros, mas que nunca foi homologada. «Se essa onda me caísse em cima, matava-me. Quase de certeza», recordava à data numa entrevista ao jornal Sol. Também Nic Von Rupp contou que nas ondas grandes «celebramos sempre a vida porque nunca se sabe o dia de amanhã». A beleza e o medo misturados, a provar que não é possível desenhar linhas que separem os dois quando estas são feitas de água.

No dia em que a World Surf League anunciou o mais recente feito, tenho o livro do Guinness World Records 2022 precisamente à minha frente. Abri à sorte – ‘seção’ Pandemias: ocupa duas páginas – 168 e 169. De 256!

Por mais que se queira fugir… Que o diga Mary Mallon (ou Mary Tifoide), que bem tentou fintar o confinamento, mas ficou em quarentena durante 26 anos por ser portadora assintomática de febre tifoide. O maior confinamento de uma ‘portadora saudável’, que lhe vale presença no mais famoso livro de recordes.