Uma nova paz!

O Shalom – a paz – não pode, nunca, ser alcançada sem que haja uma nova ordem mundial onde as religiões possam fazer parte e onde possam ter um palco de encontro

O profeta Isaías, num dos Cânticos do Servo de Iahweh, no capítulo cinquenta e três, diz o seguinte: «Todos nós andávamos como rebanho desgarrado, cada um seguia o seu caminho» (Is 53). Estas palavra fizeram-me pensar no tempo que estamos a viver hoje. Andamos como um rebanho sem pastor, sem um guia. Cada um segue o seu caminho!

Israel, a certa altura, sentiu-se da mesma forma: sem «chefe, nem guia nem profeta, nem altar onde apresentar oferenda». Sentiu-se perdido e pediu a intercessão de Deus.

O que nos está a acontecer agora? Como é que ao fim de oitenta anos estamos à beira de uma nova guerra mundial?

Como é que se desenvolve o ódio no coração das pessoas? Como é que andamos cada um a andar pelo seu caminho?

O Papa Francisco assinou há uns anos uma encíclica sobre a Fraternidade (Frateli Tutti)! Pretendia abrir uma nova era de fraternidade entre os homens, entre as religiões, entre os povos. Encontrar uma base comum que possa dar corpo a uma Nova Era, a uma Nova Ordem Mundial. E nós bem precisamos de um novo tempo.

Como nascerá a paz? Como é que a paz pode ser possível no nosso mundo?

É curioso que o pensamento judaico, do qual nós somos herdeiros culturais e cultuais, tem na palavra Shalom (paz) o seu centro. Aliás, as profecias garantem que quando chegar o messias será o Príncipe do Shalom. 

Ora, a palavra Shalom está também na base de muitas outras palavras hebraicas. O sábio e grande Rei Salomão tem na palavra Shalom a sua raiz… ele já anuncia desde o princípio que haverá um rei que trará o Shalom à terra. 

A grande cidade de Jerusalém, tem também na sua raiz a palavra Shalom, com uma particularidade… é um dual, isto é, na língua hebraica o dual existe quando existem duas realidades (por exemplo, pés). Nós cristãos sabemos que existem, de facto, duas cidades eternas… a Jerusalém terrestre e aquela anunciada no livro do Apocalipse, a Jerusalém celeste que desce do céu da presença de Deus.

Não me canso de dizer que o Shalom – a paz – não pode, nunca, ser alcançada sem que haja uma nova ordem mundial onde as religiões possam fazer parte e onde possam ter um palco de encontro. Desde há quinhentos anos que, com o aparecimento do Estado Moderno, se foram separando as esferas religiosas da esfera secular ou, se quisermos, das esferas seculares. No entanto, a exclusão religiosa do diálogo com a sociedade é, na minha opinião, um erro.

Não se trata de dar poder às religiões, mas de as incluir no diálogo da coisa pública. Não pode haver uma sociedade que exclua uma realidade tão importante com o é o caso da realidade religiosa. 

Bom, poder, até pode, mas, seguramente, haverá um divórcio entre a política e a sociedade real. 

Nós, desde sempre, aspiramos pelo bem mais precioso que temos na nossa vida: a paz! E, estou seguro, que a dimensão religiosa poderá dar um contributo significativo para o desenvolvimento dessa mesma paz. 

As coisas inauditas que ouço dizer das religiões na opinião pública são incrivelmente marginalizadoras, preconceituosas e, seguramente, inscrevem-se no plano de uma certa difamação, senão mesmo, perseguição para com estas realidades sociais. 

As Nações Unidas estão num ponto de viragem, a meu ver, de grande importância. Estou seguro que depois desta guerra, que a Rússia levou a cabo por motivos completamente fúteis (onde o argumento é a história), a ONU terá de procurar novos interlocutores que interpretem o sentido da história e o sentido da paz.