Numa altura em que a invasão da Rússia na Ucrânia atingiu o seu centésimo dia, o Presidente Volodymyr Zelensky defendeu que o seu país sairá vitorioso do conflito.
«A vitória será nossa», disse Zelensky num vídeo publicado no Instagram de forma a assinalar este marco na guerra, iniciada a 24 de fevereiro, acompanhado por Andriy Yermak, chefe do gabinete da presidência, e um de seus principais conselheiros, Mikhaylo Podoliak. «Os representantes do Estado estão aqui, a defender a Ucrânia desde há cem dias», acrescentou.
«Estamos todos aqui, o nosso exército está aqui, cidadãos, sociedade, estamos todos aqui a defender a nossa independência, o nosso Estado», continuava Zelensky, depois de ter rejeitado uma oferta dos Estados Unidos para abandonar o país.
Apesar da posição do Presidente ucraniano, as Nações Unidas alertam que nenhuma nação envolvida «sairá vencedora» do confronto.
«Esta guerra não tem e não terá vencedor. Em vez disso, testemunhamos durante 100 dias o que são perdas: vidas, casas, empregos e perspetivas», disse o coordenador da ONU na Ucrânia, Amin Awad, em comunicado.
«Esta guerra teve um preço inaceitável para as pessoas e mergulhou praticamente todos os aspetos da vida civil… Testemunhamos destruição e devastação em cidades, vilas e aldeias. Escolas, hospitais e abrigos não foram poupados», acrescentou. «Os nossos esforços incansáveis para responder ao impacto devastador da guerra continuarão de forma robusta e firme. Mas acima de tudo precisamos de paz. A guerra deve acabar agora», apelou Awad.
Também a Presidente da Comissão Europeia voltou a reforçar a posição de apoio à Ucrânia, reiterando que a União Europeia permanece do lado de Kiev. «Há 100 dias a Rússia desencadeou uma guerra injustificável contra a Ucrânia. A bravura dos ucranianos motiva o nosso respeito e a nossa admiração. A UE está ao lado da Ucrânia», escreveu no Twitter, revelando ainda que, durante esta sexta-feira, se iria reunir com o Presidente de França, Emmanuel Macron, para discutir o «apoio atual e futuro» que poderá ser prestado à Ucrânia.
Entretanto, na Rússia, apesar dos apelos ao fim da guerra, as autoridades de Moscovo continuam convictas que a melhor opção é perpetuar os ataques à Ucrânia, fazendo saber que os militares irão permanecer no território do país vizinho até que «todos os objetivos estejam cumpridos».
«Um dos principais objetivos desta operação é proteger as pessoas na República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk. Foram tomadas medidas para garantir a sua proteção e alguns resultados foram alcançados», disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Retirada de Severodonetsk
Os intensos combates em Severodonetsk, que marcaram a semana na região de Lugansk, obrigaram à interrompida, avançou o governador da região, Sergui Gaidai, numa altura em que 90% da cidade já foi ocupada pelos russos.
Cerca de 15.000 pessoas permanecem na cidade de Severodonetsk e arredores, segundo o governador, que pediu às pessoas que não saiam dos seus abrigos.
«A retirada de Severodonetsk foi interrompida. Quanto a Lysychansk, poderá ser retomada, mas agora estamos a observar a situação de segurança», escreveu Gaidai no Telegram, embora tenha alertado que «em geral, a retirada de pessoas da região de Lugansk é atualmente perigosa».
Depois de falhar a missão de controlar Kiev, agora a grande prioridade do Kremlin é controlar Severodonetsk, um processo que está quase terminado – o território foi ocupado em 90%.
«A Rússia está a alcançar o sucesso tático em Donbass. As forças russas geraram e mantiveram o impulso e atualmente parecem manter a iniciativa sobre a oposição ucraniana», pode ler-se num relatório do ministro da defesa do Reino Unido. «A Rússia controla mais de 90% de Luhansk e provavelmente completará o controle nas próximas duas semanas. A Rússia alcançou estes sucessos táticos com um custo significativo de recursos e concentrando força e fogos numa única parte da campanha geral».
«A situação é difícil, mas está sob controlo», disse Gaidai. «Os russos estão a tentar romper as nossas defesas em todas as direções e estão a tentar chegar a Lysychansk». Acrescentou, no entanto, que a região ainda permanece sob controlo ucraniano.
EUA enviaram baterias de mísseis a Ucrânia
Apesar de as forças russas cantarem vitória nesta região, o Kremlin começa a acusar algum nervosismo depois de os Estados Unidos terem enviado uma bateria de mísseis M142 Himars, na quarta-feira, para a Ucrânia.
«Ultrapassa todos os limites da decência», queixou-se o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, citado pela agência russa Tass. Lavrov considerou arrogantes os apelos dos ucranianos por armas para defender a sua terra, «como se toda a gente lhes devesse algo», e acusou-o ainda de ser «uma provocação direta, com o objetivo de envolver o Ocidente em ações militares».
Este escalar de tensões foi uma das razões pelas quais Washington não enviou mais cedo a bateria de mísseis para a Ucrânia. «Não estamos a encorajar ou a facilitar que a Ucrânia ataque além das suas fronteiras. Não queremos prolongar a guerra só para infligir dor à Rússia», escreveu o Presidente Joe Biden no New York Times, justificando o envio deste arsenal como parte de um pacote de ajuda à Ucrânia aprovado pelo Congresso, de 40 mil milhões de dólares, o equivalente a 37 mil milhões de euros.
«Enviámos para a Ucrânia uma quantidade significativa de armamento e munições, de maneira a que consiga combater no campo de batalha e esteja na mais forte posição possível na mesa de negociações», garantiu o Presidente, afirmando que os M142 Himars «irão permitir-lhes atingir de forma mais precisa alvos-chave».