Homens ricos e pobres povos

António Costa sempre geriu dinheiros públicos, dos contribuintes nacionais ou locais, e teve a habilidade política de saber gerir o poder para, sem ter de fazer muito por isso, o conquistar ou conservar.

Nesta semana correu mundo a notícia de que a SpaceX, do multimilionário Elon Musk, despediu vários trabalhadores que subscreveram ou difundiram uma carta aberta condenando comportamentos do fundador da empresa de alegado assédio e discriminação sexual.

Comportamentos que tinham sido imediatamente desmentidos pelo próprio e pelos mais altos responsáveis da SpaceX, que não tiveram contemplações para com quem os deu como verdadeiros – e os condenou ou simplesmente difundiu.

Sendo um dos senhores do mundo – ele, sim, um dos Donos Disto Tudo –, Musk é objeto e fonte de inúmeros rumores, boatos e notícias – muitas fake e outras não ou nem por isso – a toda a hora.

Ainda recentemente, veio dizer a todos os trabalhadores da sua Tesla que, passada a pandemia, é chegada a hora de regressarem aos seus postos de trabalho e deixarem-se de isolamentos em teletrabalho. E quem não quiser, ou melhor quem preferir manter-se a trabalhar a partir de casa pode fazê-lo… mas terá de ser noutra empresa.

Fê-lo na primeira pessoa, sem rodeios e publicamente.

Elon Musk tem uma daquelas fortunas sem explicação, mas estas tomadas de posição, entre tantas outras,  ajudam a compreender alguma coisa.

Ontem, no Jornal de Negócios, António Rios Amorim, presidente da Corticeira Amorim e vice-presidente da Business Roundtable Portugal, arrasou as recentes propostas propagandísticas de António Costa sobre o aumento do ordenado médio em 20% e a testagem da semana de trabalho de quatro dias.

Para o empresário, se o aumento do ordenado médio em 20% não passa de «wishfull thinking» do primeiro-ministro, já a semana de quatro dias «é inqualificável».

Quanto ao aumento dos ordenados, frisou que as afirmações do primeiro-ministro não passam de uma «intenção». Já sobre a semana de quatro dias, piou mais fino.

Como António Rios Amorim assegura, nenhum empresário «aceitaria crescimentos iguais ao do país» nas suas empresas. E um país que quer aumentar o crescimento, que tem um problema de mão de obra e tem de subir a produtividade não pode entrar em delírios. «Se há um problema de mão de obra e são necessárias todas as 40 horas, reduzir a disponibilidade das pessoas num horizonte temporal não vinha ajudar em nada a nossa economia», concluiu.

António Costa é um político de carreira, já com décadas de experiência na governação central e local. Independentemente das ideologias e das diferenças entre eles, essa é só por si uma clivagem abissal e inultrapassável.

Amorim ou Musk investem dinheiro deles e gerem os seus negócios próprios, familiares ou em comum com outros acionistas. Os resultados, os objetivos e as estratégias definidas são para cumprir e medem-se a cada balanço e a cada meta definida para o curto, o médio e o longo prazos.

António Costa sempre geriu dinheiros públicos, dos contribuintes nacionais ou locais, e teve a habilidade política de saber gerir o poder para, sem ter de fazer muito por isso, o conquistar ou conservar.

«Nós não queremos 500 páginas de papel com estudos absolutamente fantásticos e depois ninguém na realidade conhece nada. O que queremos é passar à ação. Tomámos este compromisso, ninguém nos pediu, porque sentimos que havia um inconformismo perante este crescimento medíocre que temos vindo a ter ao longo dos últimos anos», adiantou o vice-presidente do Business Roundtable Portugal.

António Rios Amorim fala de um conjunto de medidas ou propostas que espera que sejam bem recebidas e implementadas pelo Estado e pelas empresas portuguesas.

A crítica ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que António Costa tanto propagandeou para agora estar em menos de 5% de execução, está, obviamente, implícita.

Vejamos o que se segue.

Pelo andar da carruagem, não se augura nada de bom.

Menos ainda se olharmos para o que se passa à nossa volta, no país, na Europa e no Mundo.

Onde os pobres são cada vez mais e mais pobres e os ricos, que serão sempre poucos, mais ricos.

Pode parecer até irracional ou sem explicação, mas lá que há razões para isso, há. Sobejas. E algumas só não as vê quem não as quer ver. Seja por cegueira ideológica, por outras palas quaisquer ou pela areia que atiram para os olhos dos outros.