INEM não revela falhas das VMER

Guarda e Covilhã tiveram vários turnos inoperacionais esta semana. Covilhã volta a estar parada 24h este sábado. INEM confirma que estas duas viaturas são as que registam maiores períodos de inoperacionalidade, mas respostas são vagas.    

O INEM não revela a taxa de operacionalidade e inoperacionalidade das 44 Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) do país nem quantas vezes falharam acionamentos prioritários, fornecendo no caso da operacionalidade o indicador nacional que não traduz diferentes realidades regionais e locais.

Questionado de novo esta semana já depois de emitir um comunicado com o indicador a nível nacional, o Instituto Nacional de Emergência Médica acabou por remeter ao Nascer do SOL o mesmo indicador nacional que tinha revelado em comunicado na quarta-feira.

Na resposta remetida esta sexta-feira ao final da tarde, o instituto admite que a VMER da Guarda e Covilhã, que esta semana tiveram vários turnos indisponíveis, são a nível nacional as que atingem os valores mais elevados de inoperacionalidade por falta de tripulação, mas as respostas são vagas. 

«No mês de maio, 30 das 44 VMER registaram 0% de inoperacionalidade por falta de tripulação, sete VMER registaram períodos de inoperacionalidade inferior a dez horas, uma VMER inferior a 15 horas, duas VMER inferior a 30 horas e apenas quatro VMER totalizam períodos de inoperacionalidade de mais de 50 horas, com as VMER da Guarda e Covilhã a atingirem os valores mais elevados», diz o instituto, informando que os dados são remetidos mensalmente aos hospitais.

As questões foram colocadas pelo i e pelo Nascer do SOL ao INEM depois de novos alertas dos médicos para a situação que se vive no interior, com uma indisponibilidade das VMER superior ao resto do país, de que esta semana voltou a ser exemplo. 

A VMER do Hospital da Guarda teve vários turnos inoperacionais no início da semana e a VMER do Hospital da Covilhã esteve quatro vezes inoperacional – esta sábado volta a estar parada durante 24 horas.

Em declarações ao i, o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, admitiu que este mês 30% dos turnos da VMER da Covilhã estarão inoperacionais. Análise que o INEM não forneceu nem para esta nem para as restantes VMER do país. 

Questionado sobre o número de pedidos de acionamento destas viaturas que não foi realizado ou não foi realizado em tempo adequado em 2021 e em 2022, bem como sobre que acompanhamento é feito da adequação da resposta a nível regional e local, o INEM explicou que «aciona os seus meios de emergência em função do resultado obtido na triagem realizada pelo CODU. Sempre que a triagem determina a necessidade de acionamento de um meio diferenciado (Prioridade 1), o CODU procede sempre ao acionamento do meio diferenciado que esteja disponível e que se encontre naquele momento mais próximo ou seja o mais indicado para resposta à situação, entre Ambulâncias de Suporte Imediato de Vida, VMER e Helicópteros de Emergência». 

Reforçou ainda que «o Sistema Integrado de Emergência Médica funciona numa lógica de redundância, e sempre que um meio de emergência não esteja disponível (por falta de tripulação, por avaria mecânica ou por ocupação noutra situação de emergência a ocorrer em simultâneo), o sistema responde de forma complementar», não tendo respondido sobre quantas vezes ocorreu não poder ser acionada uma VMER ou, tendo sido acionada uma viatura de outro local, se resposta demorou mais tempo.

Avaliar impacto 

O presidente do Colégio da Competência de Emergência Médica, que esta semana defendeu ao i a necessidade de uma análise para perceber o impacto da inoperacionalidade de meios de socorro, nomeadamente nas zonas do país onde isso é mais frequente, insiste na necessidade de os dados serem conhecidos e analisados. 

«Para podermos analisar a capacidade do sistema no seu todo, é necessário identificar as situações potencialmente críticas do ponto de vista médico e perceber qual foi a resposta», sublinha Vítor Almeida. «Em concreto, imagine-se que ao INEM é comunicado um acidente de viação com vítimas encarceradas. O sistema é obrigado a ativar uma equipa médica ou mais para o local, dependendo da situação. Temos de ser capazes de analisar quantas vezes o sistema de triagem propôs esses meios e quantas vezes foi uma equipa médica efetivamente ao local, seja uma VMER ou um helicóptero, que são os meios medicalizados, e quantas vezes não foi. Depois poder-se-á analisar os motivos: a equipa médica pode estar ocupada noutra situação, a vítima poderá estar tão perto do hospital que o tempo que o meio demora a chegar pode não justificar ou a viatura médica pode estar inoperacional. No âmbito nacional, este poderá não ser um grande problema, mas em algumas zonas do país, com maior inoperacionalidade, esta situação pode ter impacto e tem ser avaliada», reforça o médico.

No mês de maio, a taxa de operacionalidade das VMER a nível nacional foi de 98,33%, o dado divulgado esta semana pelo INEM e ontem reenviado ao Nascer do SOL. Como o i noticiou, comparando com maio de 2021, mês em que a operacionalidade foi de 99,01%, manteve-se o agravamento da indisponibilidade verificada dos primeiros meses do ano. 

O Centro Hospitalar da Cova da Beira, a que pertence o Hospital da Covilhã, confirmou constrangimentos pontuais nas escalas, salientando que não está em causa a resposta de Emergência Médica à população da região, uma vez que quando a VMER fica inoperacional é acionada pelo CODU a VMER com maior proximidade geográfica. Algo que os médicos ouvidos pelo i contestaram na segunda-feira, uma vez que a rede de VMER é definida em função da cobertura geográfica e quando um carro tem de responder a uma emergência numa área que não é a sua, deixa a região de origem a descoberto/dependente da viatura de outro local.

«Uma viatura de Viseu que se dirige para a Guarda faz falta no distrito de Viseu, onde existem 500 mil habitantes dependentes daquela viatura médica. Tem impacto nas zonas afetadas e nas que têm de colmatar essas falhas nas zonas limítrofes», disse Vítor Almeida. «É preocupante porque estamos a falar de áreas onde as pessoas vivem muito dispersas, com vias de comunicação mais difíceis para chegar às diferentes povoações», alertou Carlos Cortes.