Oriental. Reviver o passado em Marvila

O COL é um dos símbolos do bairrismo lisboeta. Amanhã, velhas glórias do Oriental vão ‘brincar’ à bola e depois é hora de jogar à mesa.

Vivem o clube com uma paixão incompreensível para o comum dos mortais. Respiram COL de manhã, à tarde, à noite e mesmo quando dormem. Encontram-se, regularmente, em tascas e restaurantes para debater o seu clube e, apesar de terem caído na I Distrital, continuam a seguir o seu clube para todos os campos onde os homens de grená entram em campo. “Costumamos ser 200 adeptos a seguir o clube para todo o lado”, explica Artur, uma das velhas glórias que defendeu as balizas do COL. “Temos um grupo muito grande. Ainda há três anos quando fomos aos Açores era um grupo espetacular. Fomos para o hotel, foi uma coisa impressionante. É a família orientalista”, acrescenta Joaquim Moita Fonseca, antigo jogador do clube, onde durante 16 anos vestiu a camisola grená. Já andaram pela Primeira Divisão, algo que muitos, apesar da sua idade, ainda acreditam que será realidade num futuro que esperam grandioso. O Clube Oriental de Lisboa é muito mais do que um clube, como gostam de dizer. É uma forma de vida. E tanto assim é que podem encontrar-se todos os dias à volta da mesa do Tasco Não venhas Tarde ou noutra ‘sede’ gastronómica do COL que a conversa é sempre a mesma, com algumas variantes na ementa. O clube acima de tudo. “O Oriental é o Oriental. Tem que se falar em futebol. Atualmente o Oriental está numa situação muito degradante em termos futebolísticos. Quando se vai ver o Oriental jogar… sinto vergonha de ver estes tipos com a camisola do Oriental. No meu tempo eles nem aos calcanhares conseguiam chegar, quanto mais vestir a camisola do Oriental. A camisola grená tem muito que se lhe diga, tem um peso enorme”, desabafa Joaquim Fonseca, adiantando: “O COL é uma paixão, de coração, até choro pelo Oriental. Somos bairristas e antigamente eram excursões que era uma coisa impressionante. Iam ver a todos os lados. Às vezes sem terem possibilidades financeiras para se deslocarem a qualquer lado. E estavam lá. Isto é que é mística, é a mística do Oriental. E o Oriental, para mim, é até morrer”.

Pelo COL, também conhecido na gíria por Caracol Ó Lesma, passaram alguns jogadores que marcaram a geração de orientalistas que os viram jogar. Costinha, campeão europeu pelo FC Porto, talvez seja o mais conhecido, embora a família orientalista fale com especial carinho de Amílcar, Quim, o célebre Cruyff de Marvila, e Muller, além de Nogueira, que passou pelo Boavista, Azevedo, que atuou no Sporting ou Luís Carlos que andou também pelo Benfica. Ah! Sem esquecer José Peseiro, que também calçou as botas do Oriental.

Para que o espírito clubístico não se perca, seis ‘carolas’ do clube organizam o “2.º encontro da família orientalista” onde velhas e novas glórias, bem como adeptos, se encontram no mítico Carlos Salema, o campo do clube de Marvila. O deste ano acontecerá amanhã, a partir das 9 da manhã, e todos os orientalistas estão convidados para aparecer no campo, devidamente ‘fardados’, leia-se equipados, para fazerem uma brincadeira no relvado. Depois o jogo prolongar-se-á num restaurante da Rua do Açúcar onde uma vez mais alguns verterão umas lágrimas de saudades, mas onde não faltarão grandes gargalhadas e memórias de outros tempos. “O intuito de unir novamente a família orientalista é para que o nosso COL seja maior, tal e qual como foi antigamente”, declara Joaquim Fonseca. “Este encontro não é para festejar as bodas de diamante do Oriental. É uma família de orientalistas, antigos jogadores, que estão a proporcionar um novo encontro da nossa família juntando ex-jogadores de três gerações. Parece-me que o João Mendes também vai trazer agora uma geração mais recente. Passam a ser quatro gerações”, remata. Agora, aos 75 anos, é perentório: “Faço sempre parte enquanto puder. Tenho 75 anos e até chegar ao limite hei de acompanhar sempre o meu Oriental”.