“A soberania não se partilha”. General Carlos Chaves critica inclusão de imigrantes nas Forças Armadas

“Para estas funções, sejam militares, juízes, diplomatas e outros que tais, eu só admito cidadãos de nacionalidade portuguesa pura. Acho que não é esse o caminho que as FA têm de seguir para terem mais voluntários nas suas fileiras: mas mais do que a quantidade, na minha opinião, interessa a qualidade”, diz ao Nascer do SOL…

"O senhor dito Presidente da República, além de umas barbaridades que disse sobre a competência das mulheres, é baixo demais – que, por consideração às mulheres de Portugal, recuso comentar, sendo que já ocuparam todos os altos cargos exceto o da Presidência da República e o da Presidência do Supremo Tribunal de Justiça, será que estende o conceito a estes dois lugares? -, disse que apoiava a proposta do grei para recrutarmos cidadãos estrangeiros para as Forças Armadas (FA). A soberania não se partilha", começa por afirmar, em declarações ao Nascer do SOL, o major general Carlos Chaves, referindo-se ao facto de, na passada terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa ter defendido que os imigrantes devem ser incluídos “numa fonte de recrutamento para as FA”, sendo que tal acontece “a título excecional” mas tem que ser “natural”.

“Em segundo lugar, há desigualdades na sociedade portuguesa, bolsas de miséria e clivagens sociais e territoriais que condicionam as opções de recrutamento para as FA. Basta olhar para alguns casos específicos de instituições que têm recrutamento quase local, em contextos em que é o que é mais apelativo e mais fácil para quem pode não ter de imediato outras alternativas naquele contexto muito específico”, especificou o dirigente, falando no I Fórum Recrutamento organizado pela Força Aérea, no Teatro Thalia, em Lisboa, sob o tema dos desafios do recrutamento militar.

"Há que pensar em relação ao quadro permanente, como em relação aos regimes diversos contratuais, em ajustar aquilo que é possível ajustar, não apenas no recrutamento mas na organização, na comunicação interna, na comunicação externa, no funcionamento, àquilo que é a realidade das novas gerações mas é a realidade das sociedades”, avançou o Comandante Supremo das FA, acrescentando que “é evidente que uma instituição tão prestigiada, tão forte, tão referencial como as FA, por natureza é sempre mais lenta a mudar”, no entanto “tem feito um esforço enorme para mudar aceleradamente”, não podendo ser comparada àquela que existia no "tempo colonial” ou no período pós-25 de abril de 1974.

“Mas é uma tarefa dramática que se coloca aos Parlamentos, governos, instituições internacionais que vão sempre atrás do prejuízo, atrás das mudanças que ocorrem. É um desafio difícil sobretudo por isto: porque a sociedade portuguesa é envelhecida”, declarou, esclarecendo que, na sua ótica, existe uma parte da sociedade portuguesa que “tem uma inércia para ver a instituição de uma forma que não tem nada a ver com aquilo que foi e que é hoje aqui apresentado como a aproximação das novas gerações à realidade das FA”. “Não é um problema apenas de dentro das FA aqueles que são menos jovens terem dificuldade em mudar”, salientou.

"Para estas funções, sejam militares, juízes, diplomatas e outros que tais, eu só admito cidadãos de nacionalidade portuguesa pura. Acho que não é esse o caminho que as FA têm de seguir para terem mais voluntários nas suas fileiras: mas mais do que a quantidade, na minha opinião, interessa a qualidade. E, assim sendo, a associação Viriatos.14 vai lançar uma experiência piloto nos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda com ações de sensibilização e procura de elementos que se voluntariam para as FA, mas com qualidade", elucida Carlos Chaves, que passou à reserva em maio de 2010, tendo averbados dezanove louvores – 4 de Ministro, 2 de Chefe de Estado-Maior General das FA, 3 de Chefe de Estado-Maior do Exército e 7 de Oficial General – e sido condecorado com cinco Medalhas de Prata de Serviços Distintos, Medalha de Mérito Militar (2.ª e 3.ª classes), D. Afonso Henriques (2.ª classe) e Medalha Militar de Comportamento Exemplar (Ouro e Prata).

"Para isso, já estamos em ligação com a senhora ministra da Defesa, que foi muito recetiva. As ações serão conduzidas por oficiais, agentes e praças na reserva ou na reforma. Tudo começará em outubro próximo numa cerimónia de apresentação do projeto. A sede é no Palácio dos Silveiras, antigo quartel-general, na Rua Direita, em Viseu. Já temos presença nas redes sociais", clarifica, aludindo à Associação Viriatos.14, que apresentou oficialmente, em Lisboa, no mês de fevereiro, os seus Estatutos, finalidades e eventos futuros, sendo que este evento contou com a presença do Presidente da República.

"Estamos a preparar as instalações e a recrutar – aliás, queremos substituir este verbo por procurar – voluntários na reserva ou reforma. Vamos dar formação adequada, criar os apoios para que junto da juventude destes três distritos façamos ações no sentido de procurar trazer para as FA gente de qualidade. Não queremos vender gato por lebre. Vamos contar as nossas experiências, dizer-lhes o quão importante foi para nós servir o país", garante. "Recusamos frontalmente esta ideia peregrina de incorporar não-nacionais nas FA. Repudiamos totalmente e tudo faremos para apresentar um projeto viável que resolva o problema da procura de elementos para as mesmas", assevera, informando que se reunirá com o Chefe do Estado-Maior do Exército, o general Nunes da Fonseca, na próxima segunda-feira.