Vida, liberdade e a procura da felicidade

Isso deixou-me como um defensor da Europa nos Estados Unidos e um defensor dos Estados Unidos na Europa. Sempre tentando mostrar a cada um dos lados o que tem a aprender com o outro. 

Por Pedro Ramos

Nova Iorque, 4 julho 2022

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness
Declaração de Independência dos USA, 4 de julho de 1776

Despite some severe interruptions, our country’s economic progress has been breathtaking. Our unwavering conclusion: Never bet against America.
Warren Buffett, CEO Berkshire Hathaway

Queridas Filhas,

Faz agora cerca de 20 anos que atravessei o atlântico e fui adotado com paciência e carinho pela cultura americana. Vim com o orgulho de um projeto de integração europeia pujante, uma economia portuguesa dinâmica e classificada como melhor aluna da Europa, e alguma arrogância na minha convicção da superioridade cultural e intelectual do velho continente.

Encontrei um povo otimista, trabalhador e empreendedor. Um povo muito autocrítico e em constante reflexão de como construir um futuro melhor. Um povo que via no debate de ideias, experimentação e entrega total aos projetos como a melhor forma de criar o futuro. A fé num futuro melhor nunca questionada.

E apaixonei-me por este povo. Apaixonei-me pela vossa mãe, e desde o primeiro segundo que vos vi, apaixonei-me por vocês. Isso deixou-me como um defensor da Europa nos Estados Unidos e um defensor dos Estados Unidos na Europa. Sempre tentando mostrar a cada um dos lados o que tem a aprender com o outro. Talvez um dia, seja embaixador de uma cultura na outra.

Hoje os Estados Unidos fazem anos. É um dia que inicialmente me era quase indiferente. Há alguns anos, este dia traz-me uma satisfação enorme. Satisfação e alegria partilhada com um povo que acredita, sem hesitação, que o futuro será melhor que o passado. Satisfação de com eles partilhar o sonho de realização pessoal de cada um dos membros da nossa família. Satisfação de saber que o futuro pertence a cada um de nós, e não a burocratas e autocratas que tentem cortar as asas de quem sonha e constrói. Satisfação de saber que de todas as nações, religiões, e projetos políticos, foi o americano com a fé que põem em cada um para sonhar, trabalhar, criar o seu futuro aquele que de longe melhores resultados deu. Satisfação de saber que por razoes geopolíticas, temos ainda muitos anos deste projeto assegurados para o futuro. Satisfação de saber que por muito maus que sejam os líderes políticos, a diversidade de Estados e os valores comuns asseguram que o país caminhe na direção certa. Satisfação de contar com um poder judicial independente, célere e eficaz que não poupa nem chefes de estado nem países. Satisfação de constatar que apesar da retórica, todos as pessoas que conheci pelos 5 continentes continuam a olhar para os Estados Unidos para liderança e com esperança de que estas promessas um dia cheguem aos seus países.

Quais os ingredientes deste sucesso? Muitos livros foram escritos e ainda serão escritos acerca deste tópico. Com certeza que muito se poderá aprender deles. Deixo aqui a minha perspetiva depois de ter vivido décadas tanto na Europa como nos Estados Unidos. 

Liberdade – muitos apregoam ser a favor da liberdade, sobretudo no Ocidente. Mas aqui nos Estados Unidos é tomado muito a sério: pouca tolerância com decisões tomadas longe das populações (o Congresso e a Presidência são as instituições que os americanos menos confiam). Aversão a regulação. Alergia a que pessoas cortem as asas a projetos individuais e locais. Na Europa, vê-se uma grande subserviência aos poderes centrais. A primeira pergunta a um projeto proposto é: «Pode-se?».

Procura de felicidade – o ‘American Dream’. O tópico mais comum em conversas são os projetos e sonhos que cada um prossegue. Na Europa, tende a ser que filme se viu, onde serão as próximas férias e que marca de perfume se usa.
Escala – em números brutos, a Europa como um todo é maior do que os Estados Unidos. Mas a Europa não funciona como uma entidade, mas como um grupo de países e regiões. Aqui as pessoas não se veem como californianas ou floridianas. Vem-se como americanas. E isso faz com que as ideias escalem rapidamente a todo o país. Em termos políticos e judiciais a escala também ajuda bastante, com um renascimento constante de projetos e ideias do lado político e uma dimensão tal da função judiciaria que a torna completamente independente do resto do poder político.
Imigração – os Estados Unidos são um país de imigrantes. Atraem os melhores todos os anos. Os imigrantes são um dos grupos mais patriotas do pais. Vindo de países e regimes opressores de oportunidades e liberdades estão inteiramente gratos aos Estados Unidos de os acolherem e lhes abrirem a oportunidade de construir um futuro melhor.

Em 4 anos os Estados Unidos celebrarão 250 anos. Em 3 anos eu celebrarei 50 anos. Pensar que em 5 vidas minhas as 13 colónias originais criaram o país líder mundial é algo que me deixa perplexo. E uma prova inequívoca do que as pessoas são capazes quando se investe e acredita nelas. Que vocês nunca deixem de sonhar e de investir em vocês próprias, e que se livrem rapidamente de pessoas e instituições que limitem a vossa capacidade de abrir as asas e voar para o vosso destino.