Festivais de verão

Por Alice Vieira e Nélson Mateus

Querida avó,

Como vai essa vida na Ericeira?

Tu descansa! Estamos em contagem descrente para o Dia dos Avós e temos muitas iniciativas para fazer.

Quem não tem descansado nada é este neto que tanto te ama. A tradição voltou a ser o que era e, quatro anos depois, o Rock in Rio Lisboa voltou ao Parque da Bela Vista.

Andei numa roda vida, Rock in Rio acima, Rock in Rio abaixo, a trabalhar.

Podia estar aqui horas a contar-te tudo sobre os concertos que se realizaram e os milhares de pessoas que se juntaram para celebrar a música. Mas sabes que a minha observação é sempre por outro ponto de vista.

Acho que a Roberta Medina herdou do avô paterno esta vontade de fazer belíssimos eventos.

Abraham Medina foi um grande empresário do Rio de Janeiro entre 1950 e 1970 e um dos criadores da televisão brasileira como hoje a conhecemos. Para além de outras atividades, criou o programa de variedades “Noite de Gala”, que parava o Brasil, do qual emergiram nomes como Chico Anysio, Tom Jobim e Flávio Cavalcanti.

A Roberta falou-me deste avô, e da avó materna (quase centenária), no dia em que nos conhecemos, há alguns anos.

Outra coisa que me contou, foi que andou com o teu amigo Nuno Braancamp (empresário consagrado do mundo do espectáculo), com uma fita métrica a medir o Parque da Bela Vista. Pois não acreditava que o Parque da Bela Vista tinha capacidade para receber um evento como o Rock in Rio.

Este ano o Rock in Rio Lisboa atingiu a maioridade.

A Simone de Oliveira esteve no Palco Mundo a deixar uma mensagem de esperança.

Por falar em octogenários, o Ney Matogrosso e José Cid deram dois belíssimos espectáculos. Num palco onde, imagina, existia um intérprete de língua gestual.

O Toy também levou o público ao rubro.

Sim, estou a falar do Rock in Rio Lisboa. Queres festival mais completo?

Quando estavas no ativo, como jornalista, ias a muitos festivais?

Ou os únicos festivas que existiam eram os Festivais da Canção?

Bjs

Querido neto,

Fico muto feliz que tenhas ido ao Rock in Rio (embora em trabalho…) mas eu nunca gostei desse tipo de festivais…

Cheguei a ir a Festivais de teatro em França, nos anos 60, sobretudo ao de Avignon, em Julho que era (e ainda é) o mais importante de todos, e também ao de Nancy que, ao que me dizem, está completamente decadente… Ia com um grupo de que fazia sempre parte o meu querido amigo Jorge Silva Melo (que morreu este ano…). Esses sim, esses eram festivais extraordinários. E como fazia essas reportagens para os jornais onde trabalhava, podia ir só aos que queria. Agora os jornais já não são o que eram, mas no meu tempo eu estava numa secção chamada “Sociedade”, e portanto os espectáculos ficavam para outros. (A não ser quando havia ópera porque o meu chefe de redacção, Fernando Pires, era um maluquinho da ópera e só me confiava essas reportagens a mim. Acho que nunca vi tanta ópera na minha vida. Uma vez levei a minha filha, que era pequenina, a ver a “Madame Buterfly”. Acho que lhe ia contando a história com tantos pormenores trágicos que a desgraçada passou a ópera toda a chorar e até fez chichi na cadeira… E entrevistava tantas vezes os cantores que havia um – o tenor italiano Carlo Bergonzi, (que morreu em 2014, para lá dos 90 anos), que me ligava para jornal a avisar quando cá vinha e a marcar já uma entrevista.

Já há muito tempo que não vou à ópera nem ao teatro. Eu sei que o meu querido Filipe La Féria, cada vez que te vê, pergunta sempre por mim… 

Daqui a uns tempos, quando já não tiver muito medo de estar numa casa com muita gente, levas a avó a ver a nova peça do La Féria?

Apesar de nunca ter ido a nenhum festival de música, fico feliz por me contares tudo sobre esses onde vais. 

Este fim de semana estás no NOS Alive?

Bjs.

Olha, se estiveres com ele acalma-o. Diz-lhe que um dia destes lá estarei. 

Juro. Por Dionísio e todos os outros deuses do Olimpo.