CDS não abre mão da sede no largo do Caldas

Nuno Melo saiu do 30.º Congresso do CDS-PP sorridente, com todas as suas propostas de alteração aos estatutos do partido aprovadas por larga maioria, e deixou uma certeza: sede é no Largo do Caldas.

Na sua intervenção no 30.º Congresso do CDS-PP, em Aveiro, Telmo Correia, antigo líder parlamentar do partido, entregou a Nuno Melo a bandeira do CDS-PP que esteve no gabinete do líder parlamentar centrista na Assembleia da República, e que acabou por guardar após o partido ter perdido o seu assento parlamentar. A ideia? Que Melo leve, pelas suas próprias mãos, essa mesma bandeira «ao lugar de onde nunca deveria ter saído», entenda-se: a Assembleia da República.

Até lá, no entanto, a bandeira vai ser içada na sede do Largo do Caldas, em Lisboa, «que é nossa e não é de mais ninguém», disse Nuno Melo, numa crítica sorrateira a quem chegou a avançar que a sede do partido seria vendida ao Chega para colmatar a crise financeira do CDS. 

Para levar avante o seu projeto de ‘recuperação’ do partido, Nuno Melo viu aprovadas várias propostas de alteração aos estatutos do partido, entre elas a criação de três novos interessantes gabinetes: um de Apoio Estratégico e Programático, outro de Relações Internacionais e mais um de Comunicação. Peças-chave para devolver o CDS-PP ao panorama político atual, que se juntam a uma lista de novidades como o fim das correntes ideológicas dentro do partido.

609 votos a favor, 18 contra e 20 abstenções resultaram numa aprovação massiva às propostas de Nuno Melo, que acabou por sair vitorioso frente às propostas concorrentes dos militantes Nuno Correia da Silva e José Augusto Gomes, que foram rejeitadas, com 514 votos contra e 63 a favor e 70 abstenções, no primeiro caso, e 594 contra, 42 abstenções e 11 a favor, no segundo.

Para trás ficaram, então, as correntes ideológicas dentro do partido, que tinha, até então, apenas uma oficializada: a TEM Esperança em Movimento, que está ligada a Francisco Rodrigues dos Santos. A decisão de ‘cortar’ estas organizações de dentro do partido gerou, no entanto, alguma polémica entre os militantes de base do partido, conforme o Nascer do SOL conseguiu apurar. Ao jornal, um militante confessou que, apesar de não ser membro da TEM, o fim das correntes ideológicas dentro do partido pode ser visto como uma ‘vendetta’ de Nuno Melo contra a associação que lhe fez frente nos últimos tempos. 

Também a questão das quotas – que não foi discutida no Congresso, e que está a ser alvo de contestação junto do Tribunal Constitucional – é uma das que, afirma esta mesma fonte, tem causado alguma polémica por entre os militantes de base. «Queremos mais militantes no partido, mas depois dizemos que têm de pagar uma quota, e nem sabemos bem para quê, porque não há ainda sinais de que o partido esteja a caminho de voltar à ribalta», confessou essa fonte ao Nascer do SOL. 

Melo ao ataque

Cerca de 700 congressistas juntaram-se no Centro de Congressos de Aveiro – a ‘capital do CDS’, como muitos fizeram questão de lhe chamar – para ouvir Nuno Melo, que não poupou nas críticas ao Governo. «Velho», «desgastado» e «dividido» foram os adjetivos utilizados para classificar o Executivo de António Costa aos primeiros 100 dias da sua governação, alertando Melo que o mesmo poderá não chegar ao fim da legislatura.

«Imaginem agora o que serão 1000 dias, que é o tempo da governação completa. Acho que Portugal não aguenta um Governo mil dias assim», disse, colocando o dedo na ferida da polémica em torno do novo aeroporto de Lisboa: «Não é um incidente, é um sintoma de uma governação que está em fim de ciclo».

«Quando um primeiro-ministro censura um ministro, não o demite e fica a partilhar a tutela, o que temos é uma remodelação à margem das regras constitucionais», considerou ainda o presidente centrista.