1934-35. Uma fatiota estrangeira um pouco apertada nas mangas

Tinha início o primeiro verdadeiro Campeonato Nacional, em “poule”, todos contra todos, casa e fora, com a intenção de fazer evoluir o “association”.

O dia 20 de janeiro de 1935 mudou definitivamente o futebol em Portugal. Na véspera, anunciava-se com destaque: “Começa amanhã a disputa do Campenato das Ligas – competição que interessa o país pois nela participam 42 clubes. O molde é estrangeiro. A sua adopção aceita-se, entre nós, como desejo de melhorar a classe do association. Dará resultado na prática? – A verdade é que se trata de uma tentativa, mas tentativa séria, de estudo rigoroso, com probabilidades de atingir o fim em vista. Tem, sobretudo, uma grande qualidade: movimenta o football! A visita dos poderosos clubes lisboetas e portuenses às outras terras, com retribuição, deve influenciar de modo útil o football dessas regiões. Os teams hão-de melhorar e subir o nível da modalidade”.

Reconhecia-se, finalmente, que o Campeonato de Portugal (que passaria a denominar-se Taça de Portugal) não era verdadeiramente representativo de uma dimensão nacional do futebol, tendo como participantes, e através de eliminatórias, apenas os campeões das regiões ditas mais evoluídas. Avançava-se para o modelo há muito utilizado pelos ingleses de fazer as equipas jogar todas contra todas, casa e fora. Em seguida, passava-se à explicação de como iria decorrer aquele que foi, na realidade, o primeiro verdadeiro campeonato nacional de futebol.

O campeonato da I Liga iria albergar oito clubes: Belenenses, Benfica, União de Lisboa, Sporting, Académico do Porto, FC Porto, Académica de Coimbra e Vitória de Setúbal. Foram estes os grandes cabouqueiros do campeonato que regressa aos relvados no próximo fim-de-semana. Por sorteio, definiu-se o calendário de jogos. A primeira jornada iria contar com: Belenenses-FC Porto, nas Salésias; Benfica-Vitória de Setúbal, nas Amoreiras; Académico do Porto-União de Lisboa, no Estádio do Lima; Académica de Coimbra-Sporting, no Campo de Santa Cruz. Por falta de ambição, a Federação Portuguesa de Futebol não foi mais longe do que permitir apenas oito equipas no escalão principal. E foi aqui que a fatiota estrangeira acabou por nos ficar um pouco apertada nas mangas.

A segunda A II Divisão, pelo contrário, sofria por excesso. Quatro zonas, cada uma delas dividida em dois grupos. A saber: Zona A (1º grupo) – Salgueiros, Ovarense, Sporting de Braga e Vianense; (2º grupo) – Vila Real, Mirandela, Viseu B e Coimbrões; Zona B (3º grupo) – Conimbricense, Viseu A, Leixões e Sporting de Espinho; (4º grupo) – União de Coimbra, Boavista, Fafe e Galitos; Zona C (5º grupo) – Portalegrense, Casa Pia, Coruche e Marinhense; (6º grupo) – Chelas, União do Entroncamento, Caldas, Luso e Barreirense; Zona D (7º grupo) – Comércio e Indústria, Juventude, Operária de Santarém e Carcavelinhos; (8º grupo) – Lusitano do Algarve, Algarve C, Olhanense, Lusitano de Évora e Luso de Beja. Uma confusão, esta sim bem à portuguesa. “O dia de amanhã terá solenidade”, anunciava-se. Embora as mecânicas de subidas e descidas fossem tão simples como embaraçosas: como as equipas haviam sido escolhidas e não classificadas por mérito, simplesmente não houve lugar a despromoções. Facada dura na faceta competitiva. Um bocado aos trambolhões, o dia 20 de janeiro não seria mais esquecido.