A capa e o conteúdo

Se ainda fossem precisas provas de que a vida das redes não passa de uma vida de fachada, aqui fica mais uma.

Sabem aqueles voos de que muitos falam, que só custam 17 euros, às vezes até se apanham a 9€, para o Porto até pode acontecer estarem a 5€…? Sabem? Eu também não… Fico sempre com a esperança de que vou conseguir, mas invariavelmente a mensagem que surge no ecrã é a mesma, acompanhada de um preço geralmente proibitivo. Mas sempre como se se tratasse de uma oportunidade única, uma vez que APENAS RESTAM DOIS BILHETES e o site foi visitado na última hora por outras pessoas (muito provavelmente por mim).

Com as expectativas doseadas pela situação tão frequente, não fico abalada, mas se cada viagem pesquisada se realizasse, não que já tivesse dado a volta ao mundo, mas andava lá perto. Presumo que não seja caso único.

Depois há sempre alguns truques: desde os mais básicos, que passam por jogar com as épocas altas e baixas dos destinos que se pretendem visitar ou, por exemplo, percebendo que há um local que tem sido mais falado nos últimos dias (seja no seu círculo próximo ou estando mais atento nas redes sociais, mesmo sem ser um utilizador assíduo), significa que há a grande possibilidade de ser sinónimo de pack promocional.

Foi precisamente nas redes que, nos últimos tempos, o Rio de Janeiro voltou a estar no centro das atenções. E as razões não foram as do costume, desde as praias de Copacabana e Ipanema ou o Cristo Redentor. Sim, é inverno, mas este é um dos tais destinos em que o primeiro truque pode ser facilmente aplicado que, tal como o Cristo – no topo do Corcovado -, a cidade não só está pronta para receber tudo e todos de braços abertos, como possibilita os programas de verão até nos horários de inverno. Mas o que tem sido razão de inúmeras partilhas não são os ex-líbris da cidade e sim… o Real Gabinete Português de Leitura. Erguido em 1837 por um grupo de 43 imigrantes portugueses, «o grande santuário da cultura portuguesa no Brasil» tem sido um dos destaques nos conteúdos do Instagram e TikTok. O El País falou com a bibliotecária Sylvia Franca e esta confirmou o aumento exponencial de visitantes. Parte má: parece que o interesse pelos livros é pouco – para não dizer nenhum.

Se ainda fossem precisas provas de que a vida das redes não passa de uma vida de fachada, aqui fica mais uma.

E lá que a fachada – e a biblioteca – é linda, lá isso é! Não tivesse sido já eleita a quarta mais bela do mundo…