Crónica dolorosa: perdi dois ídolos!

Mas a cultura desportiva que herdei de meu pai, também me permitiu admirar alguns dos rivais como Hilário ou Yazalde, Hernâni ou Pavão, Gervásio ou Manuel António, Matateu ou Vicente, por aí fora.

Há dias que nos trazem alegrias, outros passam a voar sem percebermos o que destes ficou e há outros bem difíceis e que nos ficam na memória. Na minha vida, felizmente que tive bem mais alegrias que tristezas, a começar logo por ter sobrevivido a um parto bem difícil de mais de 12 horas e a uma anóxia pré-natal que não me deixou sequelas por aí além. 

As alegrias continuaram, o meu casamento de quase 46 anos, o nascimento das minhas quatro filhas, vê-las medrar e ser mulheres, o nascimento dos meus seis netos, a felicidade de os ver crescer, são momentos diários reflexo de uma vivência feliz. 

Mas as tristezas também fazem parte do viver, sobretudo o falecimento dos anciãos da família. Primeiro os avós que conheci (apenas dois), depois os meus pais ainda jovens com tanto para viver, os meus tios e os meus sogros. Dizem ser a lei natural da vida, mas custa como o raio…

Depois, temos as alegrias e tristezas resultantes dos relacionamentos sociais que vamos encontrando. Colegas de escola, liceu e universidade, depois os relacionamentos profissionais e sociais, todos nos vão gerando emoções diversas, umas quantas (poucas) transformam-se em amizades, outras vão passando, deixando saudades ou não.

Em menino, comecei a ir ao futebol pela mão do meu Pai, ferrenho adepto de uma Académica de Coimbra que simbolizava a conciliação do desporto com o futebol. Foi Presidente da sua AAC, os seus contemporâneos contavam dele estórias bem engraçadas, nas idas coletivas aos campos de Lisboa e arredores (Barreiro, Setúbal, principalmente).

A paixão pelo futebol foi crescendo, a figura do meu Avô Virgílio Paula, contemporâneo de Cosme Damião porque jogador do Benfica, moldou a minha paixão que perdura até hoje. Vi jogar grandes jogadores nestas décadas da minha vivência, mas indiscutivelmente que uns quantos, pela expressão de uma qualidade futebolisticamente ímpar, me deixaram recordações especiais. 

Sem pretender ser exaustivo, Eusébio foi especial, como o foram Coluna e tantos outros, como Chalana, o pequeno genial. Mas a cultura desportiva que herdei de meu pai, também me permitiu admirar alguns dos rivais como Hilário ou Yazalde, Hernâni ou Pavão, Gervásio ou Manuel António, Matateu ou Vicente, por aí fora.

Isto de me ter envolvido na bola, veio posteriormente trazer vivências especiais. Conheci Chalana ou Chalanix, como carinhosamente lhe chamei, assim como Eusébio, este frequentador assíduo da Tia Matilde (um filho adotivo do Tio Emílio, sócio número 1 do Benfica). Ambos pessoas simples, ídolos que foram e falavam desses tempos gloriosos com poesia, gerando ternuras a quem os ouvia.

Companheiro destas lides especiais da bola foi também o ‘nosso’ General, Sócio número 70 do SLB, um militar com história em Portugal, João de Almeida Bruno. Foi um Amigo muito especial que perdi esta semana, com quem tinha desde há muito um almoço combinado que todos os meses era adiado, ou pela covid ou pela doença que o inibia de se sentir à vontade para sair, sempre renovado em todos os telefonemas.

Se Chalana (e Eusébio) simbolizam tardes inesquecíveis no Estádio da Luz, Almeida Bruno (o General) simboliza tudo o que de bom que as amizades nos deixam, o exemplo de um Homem que amava a sua Pátria e que era querido na Guiné-Bissau que sentia também como a sua terra.