Um casamento no calçadão de Quarteira

O regresso da rentrée social-democrata ao Calçadão de Quarteira, evocando o velho Pontal, serviu para marcar a unidade do partido em torno do novo líder. Sobretudo por ter contado com um ‘padrinho’ especial: Pedro Passos Coelho.

«O que é isto? Um casamento?», perguntavam dois estrangeiros que, em turismo, passavam pela Festa do Pontal, a rentrée do PSD, que ‘invadiu’ a ponta nascente do Calçadão de Quarteira, no Algarve. «Mas é um evento político com mesas redondas e comida? Pensávamos, a sério, que era um casamento», conta o mesmo casal ao Nascer do SOL, entre risos e alguma incredulidade cultural.

À entrada do recinto, que se preparava para receber cerca de duas mil pessoas, nos números repetidos pela organização, ouvia-se o burburinho dos militantes ansiosos por voltar a uma festa que não acontecia há dois anos devido à pandemia da covid-19, e que tinha sido deslocada de Quarteira pela direção de Rui Rio nos últimos anos.

Hugo Soares, secretário-geral do partido, foi um dos primeiros a chegar, aproveitando o hiato de espera por Luís Montenegro para socializar, cumprimentar militantes e dirigentes de todo o país e ir motivando as pessoas para a noite que aí vinha. «Avizinha-se o maior Pontal de sempre», confessava o secretário-geral ao Nascer do SOL, antes de interromper a conversa para «ir buscar o Dr. Pedro Passos Coelho».

Era a reservada grande surpresa, que levou a uma comoção generalizada no Calçadão de Quarteira em torno do antigo primeiro-ministro, que chegou sózinho, mas que rapidamente foi rodeado de militantes, jornalistas e outros transeuntes.

«Vim cá apenas para assinalar, neste novo ciclo, o meu desejo que este novo esforço que está a ser feito pelo Luís Montenegro de união do partido possa vir a ser colocado ao serviço do país, que é aquilo que nos interessa porque os partidos existem para ser úteis à sociedade», disse Passos Coelho, à chegada, considerando que «Portugal vai precisar de um Governo diferente daquele que temos» e manifestando «uma enorme confiança que a liderança do PSD está à altura desse desafio».

O antigo primeiro-ministro fez questão de reiterar que a sua presença no Pontal não pretendia ‘ofuscar’ Luís Montenegro. «Venho à festa do Pontal porque é uma festa muito especial. Não vim para fazer grandes declarações. Vim dar um abraço ao Luís Montenegro. Uma pessoa bem preparada e competente. Que tenho confiança que será o próximo primeiro-ministro», declarou Passos Coelho, para quem a ‘aparição’ no Pontal tem «um caráter excecional», já que, fez questão de frisar, continua «retirado da ação politica».

A chegada do líder
O mote do ‘casamento’ questionado pelos turistas que falaram com o Nascer do SOL no início do evento parecia não estar tão longe da realidade. Havia comida, bebida, música e uma chegada triunfal de Passos Coelho, qual padrinho do noivo pelo qual todos esperavam.

Depois, quando se começou a ouvir que Luís Montenegro estaria prestes a entrar no recinto, todos os militantes e dirigentes do partido se levantaram para receber o seu recém-eleito presidente, que furou como pôde entre apertos de mão e beijos na bochecha até chegar ao lugar reservado na mesa redonda central do evento: lado a lado com Pedro Passos Coelho. O casamento, afinal, era esse.  OPSDcelebrou a união do partido com o seu líder.

Montenegro não prescinde de ‘honrar’ o legado deixado pelo antigo primeiro-ministro, na qual teve também lugar por inerência, na qualidade de líder da bancada laranja.

Pontal recheado… ou não?
As opiniões sobre o regresso da Festa do Pontal a Quarteira foram, no mínimo, variadas. Se é certo que Hugo Soares garantia que se avizinhava o «maior Pontal de sempre» e lançava que ali estavam quase duas mil pessoas, há militantes, no entanto, que acusam uma menor capacidade de mobilização em relação a edições anteriores.

E, ouvidos pelo Nascer do SOL, alguns militantes sociais-democratas lamentaram que, para além de Pedro Passos Coelho, terem estado muito poucas figuras com história no partido.

Isto apesar de Luís Montenegro ter aproveitado o momento para lançar uma proposta de programa de emergência social, que deverá avançar em setembro, se tiver luz verde do Parlamento.

João Montenegro e a unidade
A criação de um vale alimentar de 40 euros por mês (vigente de setembro a dezembro) para todos os pensionistas e reformados que recebem até 1097 euros, a criação de um vale alimentar para quem está na vida ativa e com rendimento inferior a 1100 euros, que chegaria a 4,6 milhões de pessoas e a redução do IRS no 4.º, 5.º e 6.º escalões, a executar já nas taxas de retenção até ao final do ano e com acertos na declaração anual de IRS. São estas algumas das medidas incluídas neste pacote de medidas apresentado no Pontal, onde Montenegro acusou o PS de «confundir o partido com o Estado» e o primeiro-ministro de não assumir responsabilidades dos problemas que surgem no país, e dentro do seu próprio Executivo.

«O Pontal foi basicamente o PSD a voltar a ser o PSD», comentou ao Nascer do SOL João Montenegro, deputado social-democrata eleito pelo círculo de Viana do Castelo e destacado elemento do aparelho no tempo de Rui Rio, e que realçou o regresso de figuras que se tinham afastado da vida política do PSD,  como, por exemplo, Macário Correia ou Álvaro Amaro, Teresa Morais, Carlos Abreu Amorim ou o empresário Manuel Serrão.

«Sentiu-se mobilização do país todo. Veio gente de vários distritos. E sentiu-se muito o efeito Passos Coelho. Quer queiramos, quer não, o ex-presidente do PSD granjeia ainda muita popularidade, não só no partido como no país, e é um acréscimo de valor ao partido podermos contar com ele na Festa do Pontal», continua João Montenegro, resumindo: «O mais importante de tudo foi a mensagem política. O presidente do partido apresentou propostas concretas, explicou onde vai dinheiro para as executar e sobretudo num nível muito importante neste momento que é o setor social». «Espero que este seja o pontapé de partida certo para o que aí vem», remata o também vice-presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro.

Passos Coelho à Presidência?
Depois da presença no Pontal, muito se comentou sobre se Pedro Passos Coelho estaria a pensar regressar à vida ativa na política ou não. Quem não mostrou qualquer dúvida sobre o assunto foi Luís Marques Mendes, antigo líder do PSD e comentador político que, no seu espaço de comentário habitual na SIC Notícias, garantiu que Passos Coelho «quer voltar a ser primeiro-ministro» e, caso tal não seja possível, deverá candidatar-se à Presidência da República. Comentários que ecoam depois de várias sondagens publicadas por diferentes meios de comunicação terem mostrado que Passos Coelho surge como um dos mais populares putativos candidatos.

Ao Nascer do SOL, Cristóvão Norte, presidente do PSD Algarve, não tem qualquer dúvida sobre o futuro do primeiro-ministro: «Pedro Passos Coelho é uma personalidade que não alimenta ambiguidades nem se compraz com especulações que outras façam a seu respeito. Se desejar voltar, fá-lo-á com naturalidade».

O líder dos sociais-democratas algarvios fez, também, um balanço positivo da festa, considerando que «superou largamente todas as expectativas». «Tivemos em redor de duas mil pessoas, uma das maiores participações nos últimos 25 anos. Mais importante do que isso foi a atmosfera reinante: revelou um partido unido, coeso, a noção de quão importante é o papel de oposição e de alternativa que o PSD representa», argumentou Cristóvão Norte, disparando: «Esta rentrée foi o PSD no seu melhor. E o país precisa do PSD no seu melhor para evitar o PS no seu pior».