Nuno Melo junta Monteiro, Cristas e Mesquita Nunes

Centristas procuram a ‘revitalização’ do partido na Escola de Quadros, em Espinho. E juntam ex-líderes outrora desentendidos e um ex-dirigente que desertou para a Iniciativa Liberal.

A cidade de Espinho, no distrito de Aveiro, vai ser este ano palco da Escola de Quadros do CDS- PP, que decorre entre 1 e 4 de setembro, numa edição que pela primeira vez se estende durante quatro dias, em vez dos habituais três, e que conta com a presença de várias caras conhecidas do partido e não só.

Numa altura em que o atual presidente tem pela frente a árdua tarefa de garantir a sobrevivência do partido, depois da fatídica noite de 30 de janeiro em que o CDS foi varrido da Assembleia da República, a palavra de ordem para Nuno Melo parece ser congregar e limpar feridas antigas. Pelo menos é a mensagem que passa quando chama para esta Escola de Quadros a antiga presidente Assunção Cristas e o antigo líder Manuel Monteiro, que em 2003, desfiliado do CDS-PP, fundou um novo partido, a Nova Democracia, tendo regressado ao CDS-PP, em 2019, durante a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos, depois de o seu processo de refiliação ter sido sucessivamente protelado por… Assunção Cristas.

Sob o mote Tempo de regressar, a Escola de Quadros curiosamente vai ter também como orador o antigo secretário de Estado e ex-deputado centrista Adolfo Mesquita Nunes, que desertou para a Iniciativa Liberal depois de se ter desfiliado do CDS  em rota de colisão com a antiga direção do partido liderada por Francisco Rodrigues dos Santos. Contudo, ao contrário de Manuel Monteiro, Mesquita Nunes não está de regresso ao CDS. «Não há nenhuma alteração relativamente à minha desfiliação», afastou o próprio, em declarações ao Nascer do SOL. A saída do antigo dirigente centrista, ao fim de 25 anos de militância, em outubro de 2021, foi anunciada na sequência de um clima de agitação interna no CDS-PP que ficou marcado por um polémico conselho nacional em que se digladiaram os interesses do atual líder, Nuno Melo, e do seu antecessor. Na altura, Mesquita Nunes não deixou críticas diretas a Francisco Rodrigues dos Santos, mas assinalou «profundas discordâncias com o rumo seguido pela direção eleita».

Questionado agora pelo Nascer do SOL sobre se a atual direção de Nuno Melo inspira mais concordância, recusou-se a comentar qualquer assunto relativo à vida interna do partido.

Ao lado do deputado socialista  Sérgio Sousa Pinto, Adolfo Mesquita Nunes vai ser orador no painel Portugal: Condenados a ser remediados?, que deverá incidir «sobre a economia, a produtividade e a tendência de Portugal ser um país pobre», revela ao Nascer do SOL.

Entre os oradores que estão também confirmados constam os ex-líderes Manuel Monteiro, que vai integrar o painel O dia depois do amanhã à direita, e Assunção Cristas, que falará aos jovens centristas no painel Margem direita da sustentabilidade. A antiga presidente do CDS-PP marcará também presença na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, na próxima terça-feira.

O ex-deputado João Almeida e o antigo ministro e atual presidente do conselho nacional do CDS-PP, Pedro Mota Soares, ambos ex-presidentes da JP, vão encontrar-se no painel 48 anos completamente soltos. 

Já António Lobo Xavier, antigo deputado e membro do Conselho de Estado, e a ex-deputada e antiga secretária de Estado Cecília Meireles vão partilhar o painel Fazer o país que tem razão.

Além da representação do PS,  há outro partido convidado. Pela Iniciativa Liberal, o deputado Carlos Guimarães Pinto marcará presença na Escola de Quadros do CDS-PP.

O programa da edição deste ano  conta ainda com intervenções da antiga ministra-relâmpago (no segundo Governo de Passos Coelho) Margarida Mano, do investigador e candidato às eleições europeias de 2019 na lista do CDS-PP Vasco Becker-Weinberg, da antiga deputada centrista Vera Henriques e do consultor Diogo Belford Henriques.
Haverá ainda um painel sobre saúde, em que participarão o antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, do primeiro Governo de António Costa, e o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Segundo a Juventude Popular (JP), a estrutura que representa os jovens centristas e que promove a iniciativa, «os temas de economia e sustentabilidade são os mais presentes» num programa cujo objetivo «é sobretudo  colocar em cima da mesa o futuro geracional em Portugal e o que se pode fazer para melhorar as condições de vida». 

São esperados cerca de 80 jovens neste iniciativa que conta com o apoio da Fundação Konrad Adenauer e do Partido Popular Europeu. Citado no comunicado divulgado aos jornalistas, o presidente da JP, Francisco Camacho, considera que a Escola de Quadros deste ano «é uma das mais promissoras de sempre», com «pesos pesados, com elevado conteúdo para formar as novas gerações».

«Ouvimos o que os nossos militantes nos foram dizendo, que personalidades gostavam de ouvir, e tentámos, em conjunto com o partido, fazer o melhor trabalho possível para as juntar», indica ainda Camacho, acreditando que este «será um bom momento» para a «revitalização do partido» e uma «semente de esperança no futuro do CDS-PP».

Melo no Chão de Louros
A escola de quadros, que marcará também a rentrée política do CDS-PP, será encerrada no dia 4 de setembro pelo presidente do partido, Nuno Melo, que parte no dia seguinte para a festa de Chão de Louros. Já com os olhos postos nas próximas eleições regionais da Madeira de 2023, os centristas madeirenses fazem a sua rentrée política no dia 5.
Em Espinho ou na Madeira, Nuno Melo deverá centrar o seu discurso num apelo para que o partido se mobilize. «O nosso grande talento são as pessoas, os nossos quadros, como se vê pelas participações na escola, e é através delas que podemos voltar a ligar o partido aos eleitores», afirmou ao DN.

Antecipa-se ainda um diagnóstico da atual situação política e não deverão faltar críticas ao Executivo de António Costa.
«É um Governo que encontrou um modelo económico que reforça as dependências em relação ao Estado, com cada vez menos pessoas a pagar impostos e as que pagam, pagam cada vez mais. É um ciclo de pobreza, que gera dependências e fidelidades», lamenta em declarações ao mesmo jornal.