A rainha que juntou Zelensky e Putin

O mesmo se passa com a monarquia. São muitos que se manifestam contra, mas, como se vê agora com a morte de Isabel II a simpatia e a admiração que a maioria tem pela causa são muitos mais. Diz-se que a Casa Real gasta milhões do Estado, mas quantos milhões não ganha o Estado e…

No momento em que o mundo está tão dividido por causa da guerra na Ucrânia não deixa de ser surpreendente a sintonia dos líderes mundiais em relação à morte da Rainha Isabel II. De Putin a Zelensky, de Xi Jinping, a Biden, o mundo uniu-se nas mensagens de condolências à família da monarca e ao povo britânico. Não deixa, por isso, de ser curioso que a monarca de 96 anos, tenha conseguido na hora da morte juntar quase todos os líderes mundiais. Não sou especialista em monarquia, bem longe disso, mas constato que o reinado de Isabel II vai perdurar na História, não só do Reino Unido como do mundo de uma forma geral. E qual terá sido o papel da monarca para ter conseguido quase a unanimidade e ter até transformado as televisões e os jornais portugueses, além das redes sociais, monotemáticos?

Parece-me óbvio que Isabel II representa a tradição, uma forma de estar assente em valores como a estabilidade, o respeito pelas pessoas e pela liberdade. A monarca agora falecida, atravessou, ao longo dos 70 anos de reinado, grandes transformações do mundo, mas conseguiu manter-se, de uma forma ou de outra, independente e, de certa forma, isenta.

O detratores da monarquia devem estar com alguma azia por verem esta união em torno de Isabel II. Para quem respeita a liberdade dos outros, faz alguma confusão ver tantos a quererem interferir na vida dos outros. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, por exemplo, são dos símbolos máximos do capitalismo, e atacados por isso mesmo. Não importa que milhões e milhões queiram entrar e viver nesses países, merecendo o repúdio da esquerda mundial por os EUA e a Grã-Bretanha, entre outros, imporem regras à imigração.  São condenados por serem capitalistas e criticados por não abrirem as fronteiras de ponta a ponta para todos entrarem.

O mesmo se passa com a monarquia. São muitos que se manifestam contra, mas, como se vê agora com a morte de Isabel II a simpatia e a admiração que a maioria tem pela causa são muitos mais. Diz-se que a Casa Real gasta milhões do Estado, mas quantos milhões não ganha o Estado e o povo em geral com o turismo que a monarquia gera? Esquecendo as questões económicas, a monarquia inglesa é o garante de um passado, presente e julgo que futuro de uma história que une os povos da Commonwealth – de que curiosamente Moçambique faz parte – e que é um dos maiores defensores da liberdade. Liberdade essa que chateia tantos antidemocráticos que sonham com a instauração de regimes ditatoriais.

P.S. 1 – Os ingleses foram ultrapassados pela Noruega na conquista do Polo Sul, em 1911, e estavam desejosos de alcançar um feito inédito. Em 1953, uma expedição chefiada e patrocinada por ingleses alcançou o topo do Monte Evereste, a 29 de maio. O neozelandês Edmund Hillary e Sherpa Tenzing Norgay foram os primeiros a pisar o topo do mítico Evereste a 8848 metros de altitude, depois de oito tentativas falhadas. A notícia da proeza só chegou a Londres a 2 de junho, precisamente a data da coroação da Rainha Isabel II. A conquista foi dedicada à monarca como um prenúncio de grandes feitos da Commonwealth. A Rainha, comovida com o feito até pelo augúrio de um longo e próspero reinado decidiu mandar cunhar medalhas alusivas ao feito, em homenagem aos conquistadores: um neozelandês e um nepalês.

P.S. 2 – O antigo jogador da seleção inglesa fez uma declaração na Rádio Talksports e quase teve de desaparecer do mapa por ter dito que os negros não deviam elogiar a rainha, pois esta permitiu o crescimento do racismo. Não concordo com a  afirmação mas o que marca a diferença em democracia é precisamente respeitarmos as opiniões divergentes das nossas.

P.S. 3 – A quem interessará calar o i e o Nascer do SOL?

 

vitor.rainho@sol.pt